O que nos trama muitas vezes enquanto país é o mantra do desenrasca e o fado dos coitadinhos. O mantra na atitude tipicamente tuga do «quando for a altura logo se vê» e o fado na crença absoluta que somos o país esquecido por Deus e só nos vale mesmo é o Santo Ronaldo e mais 10.

Num país onde não abundam os visionários, tive o prazer de conhecer hoje a Dra. Rosário Partidário. Isto após uma intervenção brilhante num painel sobre o futuro do NAL e a sustentabilidade de um hub intercontinental. Acredito que a naturalidade dos seus argumentos seja de difícil digestão para alguns. Sobretudo quando evidencia um argumento tão lógico como o Atlântico e a centralidade do país através desse prisma. Nada no seu discurso evidencia o mantra do desenrasca nem o fado dos coitadinhos. Tudo determinado quer por evidências científicas, quer por evidências concretas e reais, sejam estatísticas ou métricas observadas.

Talvez o novo aeroporto seja a oportunidade para começarmos a olhar para o retângulo à beira-mar plantado de uma forma diferente do miserabilismo a que gerações de políticos nos têm sujeitado. Provavelmente porque demasiado distraídos a olhar para Bruxelas e para os interesses de todos menos destes que ainda habitam aqui pelo burgo. A intervenção da Dra. Rosário Partidário trouxe-me também à memória o malogrado Dr. Casimiro Pires. O homem por detrás da ampliação da Portela em 98 e da ampliação do Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Em qualquer um desses projetos foi apelidado de megalómano, inclusivamente por pares seus, bem como por oportunistas políticos de vários quadrantes. Ora, as megalomanias estão aí à vista. E já não vão dando para as encomendas.

Por último, um reparo à ausência da VINCI neste debate. Obviamente terá sido por razões válidas. O que me preocupa é que se perceba desde cedo que o sucesso futuro deste projeto não depende apenas do dono da obra. A intervenção da chamada comunidade aeroportuária (conceito muito vago por cá) é fulcral. No que mais me diz respeito, a logística aérea, preocupa-me conhecer as ideias existentes para esta área de negócio. E estes eventos constituem oportunidades para a comunicação entre as partes envolvidas. Seja qual for o seu negócio. Seja qual for a sua dimensão. Espero não ser o único a pensar assim.

Filipe Antolin Teixeira | Consultor Carga Aérea