O passado dia 3 de julho movimentou os tecnológicos para o centro da tecnologia. Ao longo de um dia, a Microsoft Portugal recebeu a 2ª edição do evento TechLogistics, organizado pela Supply Chain Magazine e pela Devlop, onde a inovação e as tendências tecnológicas para a logística e gestão da cadeia de abastecimento foram o foco.

O evento contou com mais de uma centena de pessoas que, apesar do tema envolver muito o digital, deslocaram-se presencialmente ao Parque das Nações para ouvir oradores com uma vasta experiência, e aproveitarem os momentos de networking.

O dia começou com Paulo Calado, Partner Sales Lead da Microsoft, que falou sobre o tema “How AI is amplifying human ingenuity”. Durante a sua apresentação, um dos focos foi o impacto da Inteligência Artificial nas operações das empresas, e as expectativas destas no que toca à transformação tecnológica. Foram também apresentadas as diversas ferramentas da Microsoft, entre as quais o Copilot, lançado em novembro do ano passado, e que utiliza a IA para apoiar as empresas nos seus processos. Não obstante, a segurança da informação e a privacidade dos dados foi um tópico importante da apresentação, assegurando a audiência de que estes estão bem protegidos e não são utilizados indevidamente.

Seguiu-se então Gonçalo Cardoso, business developer da Cegid, com o tema “A nova era do ERP: IA revoluciona a gestão de PMEs com Cegid XRP Enterprise”. Durante a sua apresentação, reforçou a mensagem de Paulo Calado relativamente ao impacto da Inteligência Artificial nas operações e na gestão interna das empresas, considerando que tanto esta como a Cloud serão as grandes oportunidades para os próximos anos. Assim, apresentou a ferramenta Cegid XRP Enterprise, um ERP 100% cloud based, ajustável às necessidades das empresas, e dotado de IA para potenciar a produtividade das empresas. O responsável anunciou ainda que em setembro irão lançar um assistente para a área financeira.

Olhando para “Ecossistemas Colaborativos: Standardização dos Fluxos Digitais e Visibilidade na Supply Chain”, Mário Maia, country manager da Generix, defende a criação de um sistema colaborativo da supply chain para apoiar as empresas nos processos de decisão, tendo destacado a mensagem para que as empresas “criem uma política interna para a digitalização dos vossos fluxos de informação com os vossos parceiros”. A nível das operações, considera que a Cloud traz grandes vantagens ao nível da acessibilidade e segurança, tendo ainda apontado a importância de incluir IA em todas as ferramentas por ajudar as empresas ao nível do planeamento, dando alguns exemplos de cadeias de valor tradicionais para cadeias de valor digitais.

 

“Criem uma política interna para a digitalização dos vossos fluxos de informação com os vossos parceiros.”

. Mário Maia, country manager da Generix

 

A primeira mesa-redonda do dia teve como tema “A digitalização dos negócios na ótica da Indústria & Retalho”, e contou com a participação de José Simão, head of retail, licensing and merchandising do Sport Lisboa e Benfica, Tiago Ferreira, information technology director do Grupo Nossa Farmácia, Edite Louro, logistics director da Portugal Duty Free e Rodrigo Teles, digital tech lead SC da Leroy Merlin, sob a moderação de Pedro Queimado, senior logistics manager.

José Simão começa por contar que os processos de integração do Sport Lisboa e Benfica começaram há muitos anos. A operação logística era gerida por uma entidade externa, mas após algumas análises, passou a ser feita diretamente pelo clube, tendo sido instalada uma plataforma WMS para a gestão, pois o ERP que tinham não conseguia acompanhar os processos, tendo passado de 700/800 referências por dia, em alturas de pico, para 4.000. Ao nível do planeamento, explicou que também fizeram a integração entre todos os transportadores, passando a fazer uma gestão muito mais controlada para a receção de mercadoria, em que o transportador preenche uma guia prévia e tem uma janela horária para fazer a entrega, estando já o espaço preparado para receber a mercadoria.

No caso do Grupo Nossa Farmácia, Tiago Ferreira explicou que a digitalização está muito presente na sua atividade, contando com um modelo de Marketplace na sua atividade. O responsável conta que um dos problemas atuais é que cada vez há mais roturas de matérias-primas e de substâncias, o que faz com que, por vezes, uma pessoa desloque-se a uma farmácia e o produto esteja esgotado. De forma a contrariar este problema e a antecipar os stocks necessários, dedicaram uma zona do website a produtos esgotados, em que os clientes podem procurar pelo medicamento através do seu nome, código do produto, e código-postal em que se encontram ou que pretendem receber o medicamento, e fazem uma busca interna para encontrar outros locais de proximidade em que este esteja disponível, e enviam para esse local.

Rodrigo Teles conta que o novo centro de distribuição nacional de Castanheira do Ribatejo teve um grande investimento tecnológico, desde logo através de um software WMS. A gestão da informação é crucial para a Leroy Merlin, e existe uma pressão por parte do grupo para que toda a informação seja facilmente acedida por todos. “Temos de trabalhar na camada de integração. Hoje, a Leroy Merlin não vai aceitar trabalhar com um parceiro se não conseguirmos garantir que conseguimos passar essa informação”, avança o responsável. A IA também fará parte deste centro, sendo utilizada para ajudar os mecanismos de controlo na chegada da mercadoria, e permitindo que saibam quando o fornecedor vai colocar um agendamento, ou o detalhe de uma guia de remessa.

A Portugal Duty Free também sente alguns desafios acrescidos, e com o novo aeroporto terá de ser feito um novo investimento. Edite Louro destaca que devem dotar os gestores de equipas operacionais de ferramentas em que se possam apoiar nos momentos de tomada de decisão. As lojas da Portugal Duty Free também estão a ser remodeladas, com tecnologia de suporte aos clientes, como vigilância com IA (em testes) ou caixas automáticas, que estarão prontas até ao final do ano. Alguns desafios prendem-se com novas formas de reduzir o plástico das suas operações, necessário para o embalamento de alguns produtos em voos ou escalas. Uma das soluções foi a adoção de uma plataforma de e-commerce, em que a pessoa pode ir viajar, e recolher o produto num cacifo assim que retorne.

Continuando o tema dos softwares de gestão de armazém, João Marçal, co-founder & executive manager da F5IT, apresentou o tema “WMS, a chave para otimizar o processo logístico!”. O responsável apresentou a plataforma Sage X3 e as vantagens desta tecnologia, demonstradas através de seis casos práticos, e a importância de as empresas estarem munidas de ferramentas tecnológicas que as apoiem.

Seguidamente, Rui Martins de Almeida, manager da Sevways informática, trouxe a palco “Mobile Apps – o futuro dos transportes e Supply Chain”. Ao longo da sua apresentação, falou sobre o suporte da tecnologia nas operações e como elas podem ajudar na retenção de talento. Um dos exemplos disso foi o desenvolvimento de aplicações para os colaboradores que não têm secretária, e que têm mais dificuldades em dar feedbacks e em sentirem que estão a contribuir positivamente para a melhoria das operações. A “Gamificação” é outra área que o responsável considera que pode contribuir positivamente, através de pontuações individuais em que os profissionais podem fazer uma competição saudável entre si, não tornando a operação monótona.

Após o almoço, Mário Lopes, diretor comercial da ONI, apresentou as “Vantagens e benefícios de gerir o seu negócio na Cloud”, deixando também alguns conselhos para a escolha das ferramentas mais adequadas ao negócio, alertando desde logo para que se existem funcionalidades que estão a ser pagas sem estarem a ser utilizadas, o software não está a ser utilizado na sua capacidade máxima, ou não está otimizado para as necessidades da empresa. “Hoje em dia a questão que se coloca não é tanto ‘se vamos’, mas sim ‘com quem vamos’ fazer este caminho de transformação e transição das nossas infraestruturas e processos para a Cloud”, afirmou o responsável.

João Alvarinho, vice-president IT, internal products da HAVI Supply Chain TechHUB, tomou a palavra sob o mote “Remaimagining Supply Chain Technology: Inovação no Epicentro da Transformação da HAVI”, apresentando o caso da sua empresa e os investimentos que têm feito a nível tecnológico e de inovação, bem como na construção e renovação de centros logísticos. Em Portugal, a HAVI inaugurou recentemente o seu centro de inovação, contando com outros dois TechHUB em Chicago e em Cracóvia. “O que queremos fazer não é uma revolução. Queremos fazer uma evolução”, afirma o responsável.

Com o tema “Digitalização e o Futuro para Freight Forwarding”, Sebastian Cazajus, founder & co-founder da Cargofive, destacou a evolução que tem surgido desde a pandemia ao nível da transparência dos preços dos armadores. Antes de 2020, os dados eram feitos em Excel, ou seja, através de dados estáticos e que não estavam a ser constantemente atualizados. Com a digitalização, os armadores passaram a disponibilizar os seus preços online em tempo real, e hoje já cerca de 80% dos operadores têm a sua oferta disponível online, de forma instantânea, o que facilitou os processos para os transitários e a pesquisa em plataformas como a da Cargofive.

António Fernandes, diretor de inovação e processos da Luís Simões, faltou sobre a importância da colaboração ao longo da cadeia de abastecimento através do tema “Inovação na Logística Colaborativa”. No caso de uma empresa que tem as suas raízes no transporte, destaca que, hoje, a logística já tem um peso maior do que os transportes nas suas operações (52% vs 48%), sendo a grande distribuição o setor mais forte da Luís Simões. Também apontou alguns exemplos práticos de projetos e investimentos que estão a desenvolver, e as especificidades do seu centro de Guadalajara. Mas, a nível tecnológico, considera que as empresas não têm aproveitado as ferramentas da melhor maneira.

 

“O que acontece é que as pessoas estão a adotar a transformação digital, mas a fazer as mesmas coisas que faziam até hoje. A transformação digital não deve ser isso. Deve ser aproveitar tudo o que há de novo e de inovador para alterarmos o nosso tempo, para fazermos de forma diferente.”

. António Fernandes, diretor de inovação e processos da Luís Simões

 

A segunda mesa-redonda procurou olhar para “O Futuro da Tecnologia no Transporte e na Logística”, contando com Ana Gonçalves, business director da Euroatla, António Novais, managing director & board membrer da Palmetal, João Rocha, Vice-direção de operações e desenvolvimento de negócio da Santos e Vale, Júlio Borges, project manager da Rangel e Paula Machado Mendes, corporate head of IT do Grupo ETE, e teve a moderação de Carlos Gonçalves, especialista em logística.

Ana Gonçalves começou por dar um contexto das operações transitárias, e explicou os desafios que os transitários têm ao nível do tratamento da informação. As novas ferramentas de análise e comparação de custos de transporte têm sido uma forma de facilitar os seus processos, dando também uma maior visibilidade ao cliente. Ao nível da automatização dos portos, considera que ainda existem algumas pequenas correções a serem feitas, e que, embora esta automatização seja importante, necessita de um acompanhamento por outras pequenas melhorias.

No caso da Palmetal, António Novais explica que o negócio pelo qual são mais conhecidos, e que envolve serviços de logística e de movimentação, representa apenas ½ da sua atividade, mas que a grande maioria envolve uma polivalência informática. Explica que não é fácil duas empresas grandes falarem a mesma linguagem informática, e assim eles acabam por ser um ponto de encontro entre as empresas. Ao nível do grupo, foram os primeiros a utilizar machine learning para a supply chain, considerando necessária muita criatividade e capacidade de autonomia de fazer as coisas, e confiar nos processos logísticos.

João Rocha aponta que os desafios da Santos e Vale estão ligados às necessidades que os seus clientes lhes apresentem, sendo que a intenção é que estes se foquem no seu negócio, enquanto eles se preocupam com o transporte, suportado pela sua grande quantidade de plataformas a nível nacional. Utilizam um TMS como suporte à distribuição, e dão suporte muitas vezes no desenvolvimento das ferramentas, sendo que quando estão a pô-las em prática, caso notem que não estão a dar resposta a todas as necessidades, trabalham em conjunto com parceiros para melhorar as ferramentas.

A Rangel mudou para Sage há uns anos, tendo sido uma mudança uniforme para todo o mundo, o que trouxe alguns benefícios para as operações da empresa, mas também mudou radicalmente o perfil de pessoas para dar suporte à aplicação. Júlio Borges conta que, com esta mudança, as pessoas já não são específicas para fazer desenvolvimento, passando a ser “owners” de produto, e desenvolve o produto junto do fornecedor, acompanhando e dando formação.

Paula Machado, do Grupo ETE, deixou ainda a nota de que é importante garantir a qualidade da informação, e que muitas vezes as pessoas no terreno não têm formação e, se algo foge do normal, não conseguem ajustar-se. Porém, com a evolução tecnológica, tem vindo a ser menos complicado dar a visibilidade necessária aos clientes, e isso é visível através dos investimentos tecnológicos da empresa. Até 2019, a empresa utilizava o ERP apenas para a gestão financeira, sendo que até essa data não tinham visibilidade operacional, e a partir daí converteram os seus sistemas de logística para o ERP. A responsável reforça ainda a importância de os portos terem escala, e a digitalização será um passo importante para a conseguir, evitando a duplicação de informação entre as plataformas.

Quase no final do evento, Pedro Miguel Silva, associate partner for industrial and distribution clientes da IBM Consulting, concluiu o dia com o tema “Putting the AI in Supply ChAIn”, e partilhou o ponto de vista da IBM sobre a digitalização, apontando que as empresas por vezes veem a digitalização da perspetiva errada, e que não devem olhar apenas para otimização de custos, mas também para como tirar melhor partido das oportunidades. “Tudo isto parece complicado, e estamos sempre a falar de ‘o que é que temos de fazer’, e acho que às vezes fala-se pouco de ‘porque é que temos de o fazer’, e também o ‘como é que temos de o fazer’ ”, defende o responsável, acrescentando que “não é assim tão complicado, e pode ser uma realidade”. A concluir a apresentação, deixou o alerta à audiência: “Evitem o purgatório das provas de conceito e pensem como é que vocês conseguem saltar para o céu e não para o inferno”.

 

“Tudo isto parece complicado, e estamos sempre a falar de ‘o que é que temos de fazer’, e acho que às vezes fala-se pouco de ‘porque é que temos de o fazer’, e também o ‘como é que temos de o fazer’.”

. Pedro Miguel Silva, associate partner for industrial and distribution clientes da IBM Consulting

 

A fechar o dia, Hugo Duarte da Fonseca, managing partner da Devlop, fez um balanço do dia, e destacou desde logo temas importantes que foram abordados ao longo do dia, como colaboração, network, ecossistema, interoperabilidade e comunicação, e justifica a importância deste evento concluindo que “o digital está presente nas nossas organizações, e vai aumentar cada vez mais. Vamos tornar-nos ainda mais dependentes desta tecnologia”. Por fim, deixou um apelo para um aviso do IAPMEI que permite a criação de novos clusters, sendo que, caso os presentes tenham interesse em desenvolver um cluster de supply chain em Portugal, para o contactarem, podendo assim melhorar este processo e formalizar a criação deste cluster.