“Que quantidade de cerveja devo inventariar para a grande final?” é a questão que muitos profissionais se colocam perante a realização do grande evento desportivo que é para os norte-americanos a Super Bowl. Calcular o efeito Super Bowl é para aqueles lados tarefa hercúlea.

Para ter uma ideia da magnitude do consumo, na semana anterior ao Super Bowl, as vendas de cerveja já chegaram a alcançar 583 milhões de dólares, segundo estudo da Information Resources Inc. E, no domingo, dia da grande final, podem chegar a ser vendidas qualquer coisa como 49.2 milhões de grades de cerveja.

E esta variação da procura serve de pretexto para relembrar um clássico da gestão da cadeia de abastecimento: o efeito chicote, uma situação recorrente nas cadeias de abastecimento, mas que se tenta a todo o custo evitar. Ninguém quer viver situações em que os pedidos enviados aos fabricantes e distribuidores geram uma variação maior do que as vendas finais aos consumidores. Certo? Mas acontece.

Digamos que o gestor de compras ou o director de operações de um supermercado em Minneapolis tem que fazer o pedido de cerveja para a semana do Super Bowl. As vendas nas semanas anteriores têm vindo a aumentar e já superaram as previsões. A grande final, para quem não sabe, é sempre ao domingo mas na terça-feira anterior o stock está baixo, as prateleiras da loja meio vazias e os clientes vão nalguns casos à concorrência para comprar as caixas da sua cerveja favorita.

Este comprador age rapidamente e faz o seu pedido ao centro de distribuição, mas nas horas seguintes o stock continua a diminuir perigosamente, ameaçando ruptura. A encomenda não chega e o comprador faz novo pedido no dia seguinte, o que se traduz em mais procura para o distribuidor que, por sua vez, começa a perceber que o seu próprio stock é reduzido, está a descer para níveis indesejáveis e começa a ter dificuldades para dar resposta e satisfazer todos os pedidos que lhe chegam.

Agora é ele que começa a fazer pedidos ao fabricante, que também pode incorrer em atrasos que incentivam pedidos adicionais. Afinal, Minneapolis não é a única cidade nos Estados Unidos que está a preparar-se para o Super Bowl!
Quanto mais os atrasos na satisfação das encomendas aumentam, mais o efeito chicote se espalha: em cada elo da cadeia, os pedidos aumentam devido ao receio de escassez ou ruptura. E quando os abastecimentos  começam a fluir para o consumidor final, os vários elos da cadeia podem começar a receber quantidades de stock que já não vão ser capazes de escoar.

A única maneira de evitar esta situação é através do planeamento. Um comprador que tenha que enfrentar um desafio de fornecimento deste género deve fazer tudo o que estiver ao seu alcance para se antecipar, calcular os volumes de stock a tempo e enviar os pedidos quanto antes ao fornecedor. Desta forma, atenua os riscos de escassez e também o excesso de stock que, na segunda-feira, após o grande jogo, não haverá como armazenar ou escoar.