Sabe quantas peças de roupa se produzem anualmente? 80 mil milhões. E pares de sapatos, tem ideia? 23 mil milhões. Com estes números, dizem os especialistas, há duas opções: voltar à idade das cavernas ou avançarmos quanto antes para as matérias-primas recicladas e utilização cíclica do material.
A Adidas quer ser sustentável em toda a cadeia de valor e anuncia que a partir de 2024 só usará plásticos reciclados em todas as suas roupas ou sapatos. A garantia é do responsável pelas marcas do grupo, Eric Liedtke, que também afirmou ao “Financial Times” o propósito de já este ano venderem cinco milhões de peças de roupa recicladas e 11 milhões em 2019.
Ainda assim, será um processo moroso e faseado em boa parte pela dependência de quase metade do material usado pela marca alemã do poliéster. “Temos de garantir que fazemos as coisas de forma bastante eficiente para garantir a nossa margem. Podemos absorver alguns dos custos por cada ano, mas não de uma só vez”, disse Liedtke tendo em atenção o facto do poliéster reciclado ser actualmente 10% a 20% mais caro do que os materiais virgens.
O objectivo aponta para a sustentabilidade em toda a cadeia de valor. Os alertas sobre o uso excessivo do plástico têm levado a reacções de várias marcas e também a União Europeia quer reduzir o volume de plástico consumido a nível europeu e substituí-lo por plástico reciclável.
A multinacional Simpatex é outra das que se junta ao coro de vozes que apela a uma indústria mais verde ao lançar a campanha “What kind of world do you want to live in? It’s in your hands”. A empresa alemã, especializada na produção de vestuário e calçado técnicos, vai levar o tema da economia circular a feiras internacionais. Para isso criou um conjunto de imagens para promover a reflexão sobre o futuro do nosso planeta. “Em que planeta queremos viver?” é a pergunta que acompanha fotografias onde se vê a acumulação de resíduos nas lixeiras, ou o excesso de plástico no fundo do mar.
Os exemplos multiplicam-se. Reuse-A-Shoe é o nome do projecto da Nike, que recolhe até 1,5 milhões de sapatilhas por ano em loja ou por correio enviado para as instalações da marca no estado norte-americano do Tennessee e na Bélgica. As sapatilhas são depois convertidas em pavimentos de ginásio, superfícies de recreio e outros produtos.
Num momento em que a economia circular se confirma como uma tendência de futuro para a indústria têxtil, são cada vez mais as empresas a vestir a camisola da sustentabilidade. Mas, curiosamente, apesar dos crescentes investimentos, o comportamento dos consumidores está a mostrar-se difícil de mudar e ainda recentemente, na Grã-Bretanha, uma pesquisa levada a cabo pela Sainsbury’s sugere que três quartos das pessoas juntam as roupas que já não usam com os resíduos domésticos.
Por cá, a Quercus estima que os resíduos têxteis pesem anualmente mais de 230 toneladas no sistema de recolha de lixo urbano. E embora as grandes cadeias estejam atentas a este fenómeno e a apostar forte na reciclagem de roupa, como é o caso da sueca H&M e da Espanhola Zara, ainda está longe a criação de um ciclo fechado para os têxteis, no qual as roupas que os clientes já não querem possam ser recicladas, transformadas em novas peças e reintegradas na cadeia.
No entanto, ainda recentemente o “The Guardian” questionava: se estas empresas continuam a impulsionar elevados níveis de consumo, poderá a reciclagem em loja ser apenas um gesto simbólico? Fica a questão.