A segunda edição da Agro-logística, organizada pela SCM e promovida pela Câmara Municipal de Loures, MARL e Loures Inova, ocorreu no dia 20 de Fevereiro em Loures, sob o mote “Eficiência na cadeia de abastecimento das indústrias agro-alimentares”.

O evento procurou ser um momento de debate e reflexão sobre os desafios e barreiras aplicados à logística neste sector, mas também sobre as inovações, a crescente exportação e impacto económico no país, e claro, enfatizar todo o trabalho que ninguém vê, mas que está lá.

A abertura da Agro-logística foi conduzida pelo Manager da Supply Chain Magazine, Filipe Barros, pelo Presidente da Câmara Municipal de Loures, Bernardino Soares, e pelo Presidente do SIMAB, Rui Paulo Figueiredo, onde se destacou a importância de um evento desta natureza, promovendo o debate de novas ideias, a discussão sobre o actual estado do sector e a resolução para os desafios que enfrenta.

A primeira conferência centrou-se nos desafios dos mercados abastecedores, e do sector, no abastecimento às cidades, levada a cabo por Rui Paulo Figueiredo. Frisou as mudanças, cada vez mais aceleradas, que se têm vindo a sentir nos hábitos de consumo e políticas públicas que, por consequência, acabam por afectar a logística nos mercados abastecedores.

Um dos desafios passa pelo aumento do comércio internacional em que as exigências aplicadas são maiores, resultando em mais produtos, maior qualidade e diversidade. No entanto, no que diz respeito ao comércio electrónico no sector agro-alimentar, as exigências aumentam, falando-se, obviamente, da logística de frio, como explica o Presidente do SIMAB.

“O sector do agro-alimentar é muito importante para a economia do país e está em crescendo”, acrescentando que está a adaptar-se aos novos desafios.

A primeira grande mudança sentida pelos mercados abastecedores passou pela concentração fora dos centros das cidades. Actualmente, em conjunto com as plataformas logísticas, o desafio consiste na melhoria de serviços, segurança e oportunidades de negócio.

“A mudança já não vai parar nem regredir, mas sim acelerar”, termina Rui Paulo Figueiredo.

A intervenção que se seguiu contou com Aristides Sécio, Presidente da Coopval, que apresentou a cooperativa e o respectivo crescimento que têm vindo a registar, marcado pela renovação da central fruteira localizada no Cadaval, através da automatização dos processos de embalamento e aumento do espaço de armazenamento.

Ricardo Arruda, Business Developer Agrifood da APCER, fechou a primeira parte da manhã com uma sessão dedicada à segurança alimentar e qualidade na cadeia logística, onde se reforçou a importância da certificação no sector agro-alimentar, nomeadamente no que diz respeito à saúde, garantia de origem e frescura dos produtos.

‘O papel da logística na internacionalização/exportação’ foi o mote da primeira mesa redonda que contou com a presença de Steven Inácio, Supply Chain Manager da Riberalves, Daniel Portelo, Responsável de Operações da The Summer Berry Company Portugal, David Mota, CEO do Grupo Luís Vicente, e ainda com a moderação de Nabo Martins, Presidente Executivo da APAT.

Nesta sessão abordaram-se os desafios que a logística enfrenta na exportação, como é o caso da rastreabilidade factor que na cadeia de frio ainda deve ser aprimorado, ou a gestão de risco uma vez que o sector agro-alimentar depende de muitos factores que nem sempre são certos, como o clima ou a situação política global.

Identificou-se ainda como uma necessidade existirem mais plataformas logísticas de frio para deixar a mercadoria entre destinos.

A escassez de motoristas também foi tópico nesta sessão, pois é um factor que tem impacto directo na exportação e pode mostrar-se como um problema quando falamos de produtos alimentares. Os três oradores apontaram possíveis soluções, como a criação de parcerias com empresas de transporte, criar sinergias e optar pelo backhauling a nível nacional e estabelecer acordos com produtores vizinhos que enviam as mercadorias para os mesmos mercados.

Este último tópico suscitou a criação de um novo conceito: “coopetir”, em que os concorrentes devem cooperar quando se deve cooperar e competir quando se deve competir. “Temos de quebrar barreiras”, refere David Mota.

Seguiu-se a conferência da Mercadona, apresentada pelo Director de Comunicação, André Silva, que explicou o modelo da empresa onde se enfatiza a relação entre a marca, os clientes, que denominam “chefe”, os colaboradores e os fornecedores. Adoptam uma medida de transparência total em que os “chefes” podem ver, em todos os produtos, qual o seu fornecedor. Quem não aderir a esta condição, não é fornecedor da Mercadona, referiu André Silva.

Houve ainda tempo para falar de tecnologia, nomeadamente da blockchain na área da logística. José Reis Santos, CEO & Co-founder da DKJ International, apontou a rastreabilidade, segurança, melhoria na entrega e redução do erro humano como características diferenciadoras desta tecnologia para a área da supply chain.

Com um toque a sobremesa após o almoço, a primeira conferência da tarde focou-se numa operação de framboesas e mirtilos. E claro, logística. Lúcio Silva, Managing Director da Seven Berries, apontou os desafios de exportar este tipo de fruto que, devido à sua consistência, tem um período reduzido para poder estar no destino final em condições de ser consumido. Neste caso é importante pois 90% da produção destina-se a exportação a nível europeu. Procuram melhores soluções logísticas e reforçar a relação com transportadoras para garantir a chegada dos produtos em boas condições.

O painel que se seguiu foi dedicado exclusivamente a startups promissoras na área do agro-alimentar, entre elas a Wild Bran, a OliveEmotion e a Agri Marketplace. Os responsáveis por estas empresas apresentaram-nas reforçando o papel da cadeia de abastecimento nas suas operações, apesar de todas terem targets diferentes.

A última hora da Agro-Logística foi atribuída a uma mesa redonda onde se abordou o desperdício na cadeia de abastecimento, um tema que não podia deixar de ser discutido. Para este debate foram convidados a participar José Godinho, Coordenador Operacional PT do Grupo Os Mosqueteiros, Vitor Figueiredo, General Manager da Greenyard e Pedro Castro Rego, da Comissão Nacional de Combate ao Desperdício Alimentar. A moderar a sessão estava Luís Ferreira, Professor na Universidade de Coimbra.

Como combater o desperdício? Esta foi a grande questão. Vítor Figueiredo acredita que o desperdício não acontece tanto na cadeia, mas sim numa fase mais próxima do consumo. Graças à consciencialização que existe, desde há algum tempo, que o desperdício alimentar na cadeia tem vindo a diminuir, refere. O que não significa que não haja mais trabalho por fazer neste âmbito. Por sua vez, José Godinho, aponta o Programa Origens do Intermarché como uma iniciativa que tem vindo a reduzir, cada vez mais, o desperdício. “Prevenir, reduzir e monitorizar” é o objectivo da Comissão da qual Pedro Castro Rego faz parte, de forma a minimizar as perdas nesta área.

É de salientar que todo o evento foi pensado para corresponder ao universo do tema, tendo contado com copos, pratos e palhinhas bio-degradáveis nos coffee breaks, em tom de alerta para o desperdício. Foi desta forma que a segunda edição da Agro-logística ganhou forma. Um programa recheado de bons profissionais, provenientes de grandes empresas, com temas susceptíveis de reflexão e debate sobre a cadeia de abastecimento nas indústrias agro-alimentares. Vemo-nos na terceira edição?

Pode reviver os melhores momentos da Agro-Logística 2020 aqui e ler a reportagem completa na revista #9.