A JUL é composta por um vasto conjunto de soluções tecnológicas concebidas e desenvolvidas para aumentar a eficiência e a competitividade de todo o setor portuário nacional.
Acompanhei os trabalhos de implementação da Janela Única Portuária (JUP) desde 2008; assumi, em 2017, as funções de Gestor de Projeto da Janela Única Logística (JUL).
Nestes 12 anos, tive o privilégio de acompanhar estes dois projetos, que considero de especial relevância para os portos nacionais e para as redes logísticas portuguesas.
No caso específico da JUL, a aposta foi clara desde o início, consubstanciando-se na transformação digital e criação de valor nas redes portuárias e logísticas. Objetivos alavancados pela ambição de colocar os portos e as redes logísticas nacionais na liderança do estado-da-arte dos processos de digitalização a nível mundial.
A JUL alarga substancialmente o âmbito de operação da Janela Única Portuária (JUP – o sistema que antecede a JUL) e incorpora diversas inovações na digitalização dos processos de negócio. Evolui-se das operações portuárias para corredores multimodais, integrando o transporte terrestre, ferroviário e também as plataformas multimodais e operações de última milha. Tudo isto, em forte alinhamento com as autoridades, no sentido de agilizar e desmaterializar processos.
Importa sublinhar que se trata de um processo de desenvolvimento evolutivo, de forma a cobrir, completamente, toda a cadeia de transporte no hinterland. Está também em preparação a ligação ao foreland, nomeadamente através da partilha de eventos com outras plataformas eletrónicas e sistemas de comunidades portuárias, com o objetivo de, no futuro, disponibilizar visibilidade total, porta-a-porta, sobre os fluxos logísticos.
Apesar de se tratar da primeira versão da JUL, permitam-me que destaque o facto de esta apresentar já um conjunto de outras inovações muito relevantes, nomeadamente ao nível de tecnologias de sensorização, dados abertos, cibersegurança e agilização de procedimentos com as autoridades.
A título de exemplo, no domínio da sensorização, a JUL está preparada de raiz para tirar partido da conectividade com múltiplos dispositivos e sensores. Numa primeira fase, essa aposta será notória em aspetos como a variedade de aplicações móveis que virão a ser disponibilizadas. Uma delas – a aplicação de última milha – permitirá que milhares de motoristas comuniquem em tempo real com a JUL, utilizando aplicações que promovem maior eficiência na sua operação e partilhando eventos para a sincronização dos processos de toda a cadeia. Outro caso relevante, é o da integração com redes de sensores nos gates dos portos secos, para a recolha de eventos de tracking. A JUL está a ser desenvolvida para alargar gradualmente a sua cobertura de sensorização e capturar valor por esta via, sempre que viável.
Roadmap de evolução da JUL
É um processo de desenvolvimento evolutivo e, naturalmente, gradual, podendo considerar-se a conclusão do projeto de implementação em curso, como o seu primeiro marco fundamental.
A ambição de liderança do estado-da-arte dos processos de digitalização a nível mundial, requer, naturalmente, evolução contínua. Essa evolução vai manifestar-se no aprofundamento da base tecnológica em áreas como sensorização, dados abertos e também cibersegurança. Mas vai também requerer desenvolvimento de novas áreas, como Big Data e Inteligência Artificial, ou conceitos Smart Port e Physical Internet.
Para guiar o caminho que nos permitirá concretizar a visão, existe um roadmap de evolução da JUL, que apresenta as áreas tecnológicas a desenvolver em múltiplos passos, no período entre 2020 e 2025 (ver quadro).
Neste momento o processo de implementação da JUL nos portos nacionais encontra-se perto da sua conclusão. Os portos da Madeira, Faro, Portimão, Figueira da Foz e Aveiro já estão a usar o novo sistema. Está previsto o arranque do piloto do Porto de Sines em setembro. Os restantes portos, bem como a camada nacional, terão a solução operacional até final do ano.
A JUL promove redes logísticas de alta performance com processos sincronizados entre todos os atores, visibilidade total sobre as operações e integrações ágeis. Gradualmente, todos os participantes desta rede, incluindo as autoridades, irão partilhar informação em tempo real e alinhar os seus processos para garantir o maior nível de integração possível entre planeamento e gestão da execução dos serviços multimodais.
Governação e gestão da JUL
A JUL, para além do desafio tecnológico, é também um desafio do ponto de vista da sua governação e gestão.
A JUL é composta por um vasto conjunto de soluções tecnológicas, de propriedade das administrações portuárias, concebidas e desenvolvidas para aumentar a eficiência e a competitividade de todo o setor portuário nacional, integrando as cadeias logísticas por ele servidas. Para além disso, para dar resposta ao cumprimento de obrigações e regulamentação nacional e europeia (da forma mais transparente e eficiente para todos os atores), a JUL integra ainda soluções para a denominada Camada Nacional, cuja gestão é da responsabilidade da DGRM (Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos).
A agregação de uma vasta panóplia de atores em todo este processo, implica trabalho constante, aturado, para que não caiamos na tentação de complexificar um projeto gerado tendo em vista a simplificação e a digitalização do sector portuário e logístico!
Neste sentido, de acordo com o artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 158/2019, de 22 de outubro, deu-se início aos trabalhos da Comissão Nacional para a Simplificação e Digitalização dos Transportes e da Logística (CNDT) com o objetivo de assegurar a harmonização, simplificação e a promoção da digitalização de procedimentos ao nível nacional, bem como garantir o acompanhamento permanente da implementação da JUL.
Com o objetivo de capacitar a CNDT com toda a informação sobre o atual estado de desenvolvimento do projeto, no passado dia 16 de julho, foi realizada a 2.ª sessão de trabalho desta Comissão, realizando-se o primeiro workshop dedicado ao Modelo de Referência Nacional (MRN) e à apresentação das dezenas de aplicações já em funcionamento nos portos nacionais. Nele participaram várias entidades públicas e privadas afetas ao setor, para o desenvolvimento de trabalhos no âmbito da implementação da Janela Única Logística (JUL).
É minha firme convicção que a CNDT será um dos órgãos fundamentais, um verdadeiro e sólido pilar para dar continuidade a toda esta transformação digital que será suportada na JUL, tanto na versão atual, como para evoluções futuras.
Cláudio Pinto | Gestor de Projeto JUL, Gestor dos Sistemas e Tecnologias de Informação no Porto de Sines
Nota: Artigo originalmente publicado no Observador.