As projeções mais pessimistas apontam para uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, no conjunto deste ano, próxima dos 10%, com o Governo português a apontar para uma quebra entre os 7% e os 7,5%. Já a dívida pública, estima o Governo, deverá ficar nos 134,4% no final de 2020. O que estes números nos revelam é um cenário em tudo semelhante ao que conduziu à intervenção da Troika, entre 2011 e 2014, e que implicaram medidas de austeridade e grandes sacrifícios por parte dos portugueses.
Apesar disso, não assistimos à dramatização da contração financeira como nesse período e isso acontece porque, além de as economias do primeiro mundo conviverem com os mesmos problemas, a prioridade atual é ultrapassar a crise sanitária. É normal que assim seja – a maioria dos portugueses só se irá preocupar com a contração da economia, quando esta se refletir numa diminuição do seu orçamento familiar e tiver de repensar o seu estilo de vida. Mas, com as quebras na produção e o aumento do desemprego, é certo que Portugal não irá escapar a uma crise económica que se prolongará pelos anos seguintes.
É inegável que o novo coronavírus provocou uma pandemia que, pelo elevado grau de contágio, se tornou grave, afetando todo o mundo. No entanto, acredito que devemos colocar esta realidade em perspetiva, até porque não são apenas as economias que estão a ser afetadas, mas a própria saúde das populações.
Afinal, quando analisamos a mortalidade em relação ao ratio populacional, verificamos que a taxa é muitíssimo reduzida, e, mesmo assim, pela influência de países com um grande número de mortos, como os Estados Unidos, o Brasil e a Índia. Enquanto isso, outras doenças graves, com uma taxa de mortalidade bem mais elevada, estão a ser relegadas para segundo plano, tendo-se suspendido ações preventivas e de tratamento essenciais a que sejam descobertas e tratadas a tempo.
Entendo que o primeiro confinamento foi essencial porque os hospitais da maioria dos países não estavam preparados para a crise pandémica, o que poderia conduzir à saturação dos respetivos sistemas de saúde. Porém, agora, mais bem equipados e preparados e uma taxa de mortalidade controlada, Portugal deve tomar medidas eficazes para potenciar a produtividade, o emprego e, especialmente, o sistema educativo.
São vários os setores de negócio afetados por esta crise à qual parecemos ainda indiferentes. O Turismo é uma das áreas que mais contribui para o PIB português – um setor que, no início de 2020, vivia próspero e perspetivava um ano de crescimento. A pandemia veio provocar uma crise sem precedentes no Turismo, que, nem as ocupações em julho, agosto e início de setembro mais animadoras, permitiram mitigar. Todos os negócios da área da hospitalidade foram profundamente afetados e o desemprego só ainda não subiu em flecha graças às medidas de curto prazo que o Governo tomou para preservar o emprego.
Esta crise veio também criar alterações profundas na gestão das cadeias de abastecimento. O retalho nunca mais será o mesmo, já que a pandemia permitiu ao comércio eletrónico afirmar-se definitivamente nos hábitos dos portugueses. A tendência será ainda maior se o teletrabalho passar a ser uma realidade nas empresas, em vez de apenas um recurso de última necessidade.
Mas, como em todas as crises, há oportunidades de negócio com potencial, veja-se os novos negócios que surgiram ou que permitiram a empresas contornar quebras de produção, com o fabrico de produtos para conter a Covid-19, distribuição de bens de primeira necessidade ou adesão ao e-commerce. A Amazon, por exemplo, ainda não parou de abrir armazéns e de admitir pessoal para assegurar a distribuição de encomendas de todo o mundo.
É, desta forma, que a distribuição tem vindo a beneficiar com a crise, sobretudo a expedição rápida e porta-a-porta. Também a crescer está a logística. Isto porque, numa altura em que as empresas procuram cortar custos, o outsourcing logístico afigura-se como a melhor solução, já que o operador pode oferecer um serviço completo chave-na-mão (não só armazenamento, mas serviços de valor acrescentado), instalações modernas, seguras e dotadas de software Warehouse Management System, geridas por pessoal em contante formação, além de uma relação de transparência.
Crises económicas são os momentos em que os empresários devem ponderar a transformação do seu negócio – só os que tiverem coragem para investir conseguirão crescer na retoma.
Bruce Dawson, Chairman | Grupo Garland
Mais um artigo de qualidade dentro do que nos habitua Bruce Dawson.
A realidade é que a logística em grande parte está em contraciclo com a economia no geral e é algo inédito relativamente a passadas crises.