Estará a Inteligência Artificial (IA) num ponto sem retorno para as empresas? Sonae MC, Jerónimo Martins e LTP-Labs explicaram a importância da aplicação desta tecnologia para o sector que representam, na primeira sessão do FórumIA, que decorreu online no dia 11 de Fevereiro.
A Inteligência Artificial tornou-se uma forte aliada do retalho alimentar, onde actualmente tem um papel decisivo para a sobrevivência dos negócios e para o crescimento das operações. A relevância de ter utilizadores no sector do retalho com mais competências digitais, a necessidade de apostar cada vez mais na formação dos recursos humanos e de criar experiências em loja e agregar conjuntos de informação para melhorar a experiência do consumidor e a tomada de decisão das empresas, foram algumas das conclusões da primeira sessão do FórumIA – Inteligência Artificial em Portugal, sob o tema “Inteligência Artificial no Sector do Retalho”. Organizado pelo Programa INCoDe.2030, o evento reuniu online cerca de 300 participantes e foi moderado pelo Coordenador da Estratégia AI Portugal 2030, Alípio Jorge.
A SONAE MC, uma das empresas presentes, é pioneira na inovação de produtos, de processos, procedimentos e de estabelecer uma relação mais estreita e personalizada com o cliente. Liliana Bernardino, Responsável do Customer Intelligence, na SONAE, não tem dúvidas em afirmar que “a Inteligência Artificial está a resolver os problemas da nossa operação e da nossa gestão. O cartão Continente adoptou um processo de inovação e permitiu alavancar uma estratégia de comunicação, organização de produtos, de gamas e lojas, com base no Customer Behavior e isto só foi possível através da implementação de técnicas de inteligência artificial e Machine Learning”.
Para Rui Tomás, Director de Inovação e Consumidor na Jerónimo Martins, existem áreas onde a Inteligência Artificial tem muita relevância no grupo. “Na experiência do cliente, tendo como exemplo o Pingo Doce & Go do Campus da Universidade Nova em Carcavelos, a IA permite-nos proporcionar uma boa experiência ao cliente. Desde o design ao funcionamento das máquinas. A forma automatizada de compra, devolução, registo e pagamento facilita muito a compra do cliente. Outra área é na essência operacional. Uma das experiências que fizemos, utilizando a inteligência artificial e que tem dado certo, é o AgroBusiness, que envolve criar bovinos e com a ajuda do Machine Learning conseguimos prever questões como a data de abate do animal ou controlar a distribuição dos animais pelo espaço”.
O actual contexto provocado pela Covid-19 também não foi esquecido neste debate, tendo sido apontado como um dos pontos fulcrais para desencadear todas estas mudanças tecnológicas. Luís Guimarães, Co-fundador da LTP Labs, sublinha que a pandemia “transformou a forma como nós fazemos compras e certamente no futuro haverá cada vez mais a necessidade de ter uma cadeia que alimente as duas dimensões, o espaço físico e o digital. É importante alinhar estes dois espaços para enfrentar desafios que já sofremos no passado, bem como obter uma operação de cadeia de abastecimento no retalho que satisfaça as necessidades de reposição dos produtos nas lojas físicas, modelos de entrega ao domicílio ou modelos de recolha em loja”.
Já Nuno Feixa Rodrigues, Coordenador Geral do Programa INCoDe.2030, realçou a importância das competências digitais a todos os níveis. Sem deixar de salientar que “há um elemento muito importante que é o utilizador, ou seja, é uma parte fundamental do sistema do retalho e termos utilizadores que tenham mais competências digitais, será também um elemento fundamental para que se possa inovar e no fundo alargar as fronteiras destas tecnologias. Se o conseguirmos fazer em Portugal enquanto laboratório de teste e desenvolvimento de novas soluções, parece-me que vai ser bastante importante.”
Gonçalo Lobo Xavier, Diretor Geral da APED, focou-se no papel que a pandemia teve na necessidade de criar novas experiências em loja e melhorar a experiência do consumidor e aqui “falamos em Machine Learning e de recomendações personalizadas com base nas preferências dos consumidores, que servem para grandes corporações, mas também para as PME. Falamos também do crescimento do e-commerce, que veio criar oportunidades para pequenos negócios e pequenos associados que não estavam previstos entrar no e-commerce, mas que a Inteligência Artificial auxiliou na escolha de produtos a apresentar e na necessidade de moldar a operação ao comportamento do consumidor, não só no e-commerce, mas também nas lojas físicas”.
Ana Cristina Caldeira, Inspectora Directora da Unidade Nacional de Operações da ASAE, destacou um projeto realizado durante 18 meses sobre fiscalização alimentar económica, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar da ASAE, “no sentido de podermos contribuir com os nossos dados, porque efectivamente são importantes na área de Administração Pública, mas têm de ser trabalhados. As matrizes de risco que aplicamos diariamente foram convertidas em modelos computacionais, ou seja, utilizamos a ciência de dados para nos ajudar e aplicar as nossas matrizes de risco na selecção de produtos económicos, e na questão de avaliação de denúncias e reclamações. É um factor preponderante na nossa actividade operacional diária e ainda noutras questões relacionadas com operadores económicos”.
Carlos Soares, External Adviser for Intelligence Systems, da Fraunhofer Portugal e Professor na Faculdade de Engenharia do Porto destacou a importância de criar conhecimento através da investigação científica e desenvolver recursos humanos através da formação. “A forma mais comum das Universidades colaborarem com as empresas nesta e outras áreas são as teses de mestrado, no entanto, em relação à minha experiência com este tipo de projectos, esta não é a forma mais eficaz de maximizar as mais-valias de todas as partes envolvidas. Uma das iniciativas em que estou envolvido para tentar traçar um caminho mais interessante para ambos os lados chama-se a IA Store, que utiliza a Inteligência Artificial direccionada para o retalho, é uma parceria lançada pela Accenture, a Fraunhofer e a Faculdade de Engenharia do Porto, que assenta nas competências em IA destes parceiros e aproveita as sinergias dos mesmos para fornecer soluções inovadoras do ponto de vista científico e tecnológico. O foco tem sido os grandes retalhistas nacionais, mas é nosso objectivo a médio e longo prazo também criar tecnologias que cheguem às empresas mais pequenas”.
Sofia Azevedo, da Agência Nacional e Inovação, referiu que o próximo programa de financiamento terá 95.5 mil milhões de euros para a investigação e inovação. “A pandemia veio mostrar que há uma necessidade de mudar os paradigmas, portanto a negociação ao nível das prioridades e da política pública alterou-se. O próximo quadro trará um montante generoso de 2 mil milhões de euros para dois programas de Inteligência Artificial. Um deles é o Horizonte Europa e terá oportunidades de inteligência artificial espalhadas pelo programa e o outro chama-se Europa Digital, que vem resolver a problemática de que as tecnologias devem chegar ao cidadão e às empresas. Este programa assenta sobre a Inteligência Artificial, a CiberSegurança e a Computação de Alto Desempenho”.
Esta foi a primeira de um ciclo de sessões que serão realizadas ao longo do ano, onde se procurará conhecer, compreender e aprender com os desenvolvimentos da investigação e inovação da Inteligência Artificial em Portugal. A próxima sessão do ForumIA está marcada para o início de Abril.