Apesar do infortúnio do aquecimento global e das suas consequências, a Rússia, pela voz do próprio Presidente Vladimir Putin, vê o copo meio cheio e promove a rota marítima a norte, pois o aumento da temperatura média dos oceanos impede a formação de gelo durante mais tempo, dos habituais 3 meses de verão para 6 meses e torna a rota marítima a norte, rumo à europa, navegável e negociável.
A Rússia procura transformar este infortúnio num ativo Russo ao nível do comércio global, militar e estratégico.
No que diz respeito ao comércio, as exportações russas a partir do ártico chegam aos dois dígitos, em valores percentuais, portanto seria muito interessante para a nação russa este desenvolvimento. Num panorama global não existirão alterações significativas no mercado, contudo as aspirações são grandes. Se a Rússia conseguir transferir um vessel de sul para norte, já será uma vitória, contudo Putin tem o objetivo de deter cerca de 10% do fluxo marítimo global, mesmo que tenha de realizar mais obras em infraestruturas nos portos de apoio a oriente e a ocidente. A Rússia está a posicionar-se no Ártico e a afirmar a sua posição de controlo nesse território com o pretexto de assegurar a segurança na rota do norte, contra os ataques de piratas há semelhança dos existentes a Sul.
O degelo do ártico abre 3 rotas de navegação. Esta “descoberta” a norte transforma em realidade uma rota mais eficiente, quer em distância, quer em tempo, para um vessel que venha da Ásia para a Europa, pois apresenta uma redução de 14 dias no transporte, mesmo com o desconforto da passagem pelo Estreito de Bering.
A nível estratégico, o Conselho do Ártico, composto por 8 países (Estados Unidos, Canadá, Rússia, Dinamarca, Noruega, Suécia, Islândia e Finlândia), tem como objetivo promover o desenvolvimento sustentável e proteção ambiental do Ártico. A última presidência (Islândia) deixou como missão para o futuro um forte comprometimento pelo respeito pelo ambiente e pelo esforço de reverter as alterações climáticas. Esta nota foi deixada na secretaria da presidência que irá ser ocupada nos próximos 2 anos, 2021/23, pela Rússia, portanto, prevê-se que a Rússia seja a guardiã do Ártico nos próximos anos, e preserve os seus recursos naturais, como o petróleo, gás e minerais, avaliados, pela própria Rússia em mais de 30 Biliões de Euros.
Os estudos de impacto ambiental resultantes do aumento de tráfego e a inevitável industrialização desta zona geográfica com a abertura desta rota, ainda estão por determinar.
Será que a nossa evolução é inversamente proporcional ao equilíbrio ambiental?
Henrique Germano Cardador, Analista de Estratégia Empresarial