A pandemia originou um incremento de novas e inovadoras soluções de segurança aplicadas ao retalho. Quando complementados com Inteligência Artificial (IA), estes sistemas possibilitaram não só a proteção de pessoas e bens, mas também a criação de novas medidas de combate à propagação da pandemia. Câmaras para medição da temperatura da pele humana, a deteção de máscaras e a deteção de distanciamento social e ocupação do espaço são algumas das soluções mais populares para responder às necessidades potenciadas pela pandemia.
Com o pós-pandemia, a questão que se coloca é: “serão estes sistemas capazes de dar uma contribuição ao meu negócio?”. A resposta a esta questão é afirmativa. As valências trazidas pelas soluções de segurança estendem-se muito além daquilo que é o contexto de pandemia. O ritmo acelerado da evolução das exigências e interações com clientes fazem com que assumam uma importância cada vez maior para ajudar os retalhistas a anteciparem e responderem a novos hábitos, criando experiências e ofertas, lançando e testando novos conceitos e ideias de forma mais rápida e eficiente.
Hoje já é possível, por exemplo, identificar automaticamente quando os produtos são retirados ou devolvidos às prateleiras e manter um registo dos mesmos num carrinho virtual. Como? Através de soluções de IA baseadas em vídeo, incluindo soluções baseadas em câmaras IP com aprendizagem profunda (“machine learning”) e sensores. Quando acaba de fazer compras, o cliente pode simplesmente sair da loja, e mais tarde, é-lhe enviado um recibo com o valor a cobrar sem linhas e sem checkout. Este género de espaço já é uma realidade em Portugal, e embora ainda muito como conceito experiência, é certo que com o tempo surgirão cada vez mais.
Por outro lado, as soluções de som ambiente que na pandemia reproduziam mensagens relativas ao distanciamento social quando uma câmara deteta o não cumprimento das boas práticas recomendadas pela DGS, serão agora utilizadas na fidelização dos atuais e novos clientes tornando os espaços comerciais locais atrativos, com o processo de realizar compras a assumir-se, cada vez mais, como uma experiência única para o consumidor. A título de exemplo, é possível alterar a música ambiente em função do número de pessoas ou mesmo do perfil de consumidor, nos casos em que é possível fazer uma previsão da faixa etária das pessoas.
O leque de novas ofertas que surgiu em contexto de pandemia trouxe, portanto, um conjunto de soluções de valor acrescentado para o negócio do retalho, permitindo uma maior aproximação entre as marcas e os consumidores. De destacar a utilização de sistemas de vídeo AIoT que permitem a obtenção de um conjunto de métricas em tempo real, seja para a identificação das chamadas zonas quentes, das filas de espera, dos tipos de clientes e dos percursos que fazem dentro do espaço, e também dos rácios de clientes e vendas. Métricas essas que através da sua anonimização e tratamento estatístico possibilitam uma melhor otimização das operações. A título de exemplo, o número de colaboradores alocados num determinado período tem por base algoritmos de previsão de ocupação de loja. A quantidade de caixas disponíveis apresenta uma relação direta com o tamanho das filas de espera, e a informação estatística sobre os percursos dos clientes pode ser utilizada para a colocação e promoção dos produtos mais procurados. Esta simbiose perfeita entre o retalho e os consumidores trouxe uma dinâmica benéfica para todos os intervenientes, o que se traduz, por um lado, em poupanças significativas para os retalhistas, e por outro, numa melhor experiência de utilização para os consumidores.
As alterações profundas que são causa/efeito da pandemia mostram uma tendência crescente de utilização de Sistemas de Segurança com Inteligência Artificial. Estes sistemas serão um importante veículo na recuperação económica, uma vez que permitirão cativar cada vez mais os clientes através da criação de “experiências de utilização” únicas. Investir em soluções que não disponham destas valências vai condicionar os fluxos de valor acrescentado para negócios futuros.
Norberto Barroca, Director de Vendas em Portugal para a área de Building Technologies | Bosch