E o Vice-Almirante sabe. A grande maioria dos portugueses está grata ao senhor Vice-Almirante Gouveia e Melo pelo seu desempenho na coordenação logística do processo de vacinação COVID-19. Os logísticos podem também ficar agradecidos pela demonstração da importância da coordenação logística…Finalmente!
O trabalho desempenhado pelo senhor Vice-Almirante foi eficaz. Cumpriu o objetivo a que se propôs. No entanto, importa salientar que o trabalho não foi eficiente, como principal motivo identifico as dificuldades de resposta da produção para satisfazer a procura. Por outro lado, beneficiou da mobilização em massa da população. No mesmo sentido, usufruiu da disponibilização de todos os recursos físicos: infraestruturas, equipamentos e viaturas; e os recursos humanos com competência e capacidade técnica para executar o procedimento, sem medir custos associados. Só poderia ter corrido melhor se a totalidade da população cumprisse os horários e regras para a vacinação e, a ocupação dos recursos disponibilizados até à rotura de stock das vacinas tivesse sido total (alguns centros de vacinação estiveram com excesso de capacidade).
Caros logísticos, quem é que não gostava de ter coordenado esta operação? Quem coordena operações diariamente compreende a pergunta… E os milagres que fazem!
A coordenação das operações, na maioria das empresas, é caótica. A pressão sobre os custos, a falta de recursos, a falta de competências, ausência de formação e, por fim, a dificuldade em liderar. Todos estes aspetos são fundamentalmente os responsáveis pela dificuldade da coordenação das operações. Não posso também deixar de referir a pressão sobre os custos (custos de posse, custos de rotura, custos de distribuição, capacidade instalada e custos RH).
Não descurando a experiência técnica do senhor Vice-Almirante Gouveia e Melo, percebeu-se acima de tudo que o foco principal foi a concretização do objectivo, não deixou que ninguém influenciasse diretamente nas decisões, e assumiu a responsabilidade do que estava a correr menos bem.
Por isso, podemos reter os seguintes pontos como fundamentais:
- Assumir as responsabilidades, quer sejam elas da nossa equipa ou por condicionantes incontroláveis.
- Comunicar com assertividade e foco, objetivo unir a equipa e transmitir segurança.
- Escutar as críticas e aproveitar para evoluir com as construtivas.
- Assumir as dificuldades e/ou fraquezas.
- Parabenizar, sempre que possível, a equipa como um todo.
Estou muito esperançado com o futuro na área da logística. As operações estão lentamente a posicionar-se no devido lugar de responsabilidade e preponderância nos negócios.
Acredito que eficiência logística será em pouco tempo o objetivo primordial para a maioria das empresas. A gestão da cadeia de abastecimento e a visão global dos técnicos logísticos serão a base da sustentabilidade para esse objetivo.
É importante continuar a investir em formação e em soft skills como técnicas de comunicação, gestão de conflitos, liderança, espírito de equipa e motivação interpessoal.
Quem sabe, sabe! Muitos dizem que sabem, mas na realidade não sabem. Na logística tudo é fácil depois de realizado. Sei bem que o Vice-Almirante Gouveia e Melo teve muitas dificuldades durante a operação. Houve com certeza muitas falhas que foram resolvidas operacionalmente. Acredito que. se aprendermos com estes exemplos, teremos um futuro melhor!
Rui Silva | Co-founder | COPLOG – Consultores em Operações de Produção e Logística