Greifswald é a cidade Alemã de que se fala. Esta cidade é o contacto do NS2 – Nord Stream 2, gasoduto que liga a Rússia à Europa através do Mar Báltico, ligação que permitirá à Rússia abastecer o Norte da Europa de gás natural e num futuro próximo de hidrogénio.
Este projeto é encabeçado pelo maior supplier mundial de gás natural, a russa Gazprom, com origem no país com a maior reserva de gás natural do Mundo. O presidente russo está a aprender com os chineses, dando início a uma jogada de controlo estratégico da Europa, alterando o trajeto de fornecimento de gás natural para o norte da Europa. A Rússia agarra-se à incapacidade do gasoduto que atravessa a Ucrânia e ao sucesso do NS para fazer face ao necessário, e crescente, fornecimento da Europa e aposta as fichas todas no Mar Báltico. A Rússia não quer estar refém de um terceiro país, a Ucrânia, com quem existe muita dificuldade em fechar acordos de passagem, especialmente desde a inauguração do NS. E acresce o facto de a Ucrânia ter começado a comprar gás a outros países. Esta posição ucraniana representa um grande desconforto para a Rússia, pois o país ganha dinheiro com a passagem do gás russo, mas não o consome, compra a terceiros.
A posição estratégica da Ucrânia será alterada, pois passará de trans-fornecedor a cliente, perdendo assim toda a importância na região. Portanto, quando registarmos a atividade do NS2 a 100%, pode fazer muito frio na Ucrânia, porque a Rússia pode isolar a Ucrânia em pleno inverno.
Há décadas que o mercado europeu é um mercado natural para a Rússia e representa 40% das importações de gás natural da Europa, portanto não é um cliente que se possa antagonizar, mas é um cliente que se pode controlar, para tal a Rússia tem de se certificar que o fornecimento de gás para a Europa está garantido e estável, de acordo com o contratualizado no NS e nada mais… independentemente do frio que possa fazer na Alemanha, desta forma, o Pais que já perdeu uma vez por causa do frio Russo, não terá outra opção se não forçar a Europa a aceitar, definitivamente, o fornecimento através do NS2.
A Europa está mais uma vez no centro, e tomando a palavra centro como boa, terei de substituí-la por “meio”, pois não considero que a Europa esteja a saber tirar o melhor partido desta posição. A Europa está mais uma vez no meio de uma disputa, desta feita pelo controlo energético europeu. Passamos a vida, enquanto europeus, a colocar-nos nesta situação, ficamos sempre a meio de algo que seria muito bom e depois esquecemo-nos (p.e.) que em 2010 e em 2014 o norte da Europa não teve fornecimento de gás e não foi em pleno verão, o negociar do preço da lenha é feito em novembro, momento em que, para além de mais cara, está também mais pesada.
Do outro lado do Atlântico, tanto Trump como Biden pressionaram a Europa para declinar o acordo com a Rússia, fazendo bandeira da utilização de aliados para os acordo comerciais, a Europa já veio dizer que o negócio do NS2 não fere as relações comerciais com os aliados, e por sua vez os E.U.A. deram luz verde ao negócio mas já disseram que o NS2 dará o título de “sequestrado energético” à Europa. Enquanto europeus deveremos acautelar esta decisão da administração americana pois poderá querer dizer que está a preparar um pacote de sanções à Gazprom/Rússia que terá consequências energéticas devastadoras para a Europa.
Em jeito de nota de rodapé, por outro lado, não são os dólares que estão a ajudar as empresas mais estratégicas no continente europeu, mas antes o Yuan, o que causa uma grande dor de cabeça aos americanos, porque não se vê grandes vitórias americanas na mesa das negociações.
Vamos ver quem é que a Rússia vai visitar no inverno. É que caso tenha oposição da Europa, pode fazer muito frio na Alemanha.
Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa