À medida que abrimos lentamente as cortinas das nossas novas vidas e começamos a deparar-nos com uma paisagem pós-pandémica, verificamos que muito mudou neste ano e meio.
Há algo que é indesmentível neste período mais tardio da pandemia, os preços. Eles estão a subir e não há muito que se possa fazer. Podemos até afirmar que este é o custo de um grande recomeço e as consequências são imprevisíveis.
Uma das perguntas que mais se ouve é, “mas quais são os fatores que estão a afetar os preços?”.
1. A Inflação
Podemos sempre perguntar se as taxas atuais de inflação são transitórias ou permanentes e a resposta dependerá sempre de quem analisa a pergunta…
No entanto, há sinais de que os preços não continuarão a crescer imensuravelmente, e vale a pena, nestes momentos, lembrar algumas lições de economia, como a lei da oferta e da procura.
A escassez de produtos leva a um aumento dos preços e a combinação de preços extraordinariamente altos reduz a procura. Essa redução acaba por levar a um aumento da oferta e consequentemente a uma diminuição dos preços.
Verifica-se neste momento, uma subida do preço do petróleo e das respetivas commodities, visto ter ocorrido um aumento da procura desde o início de 2021. No entanto, os países exportadores de petróleo aumentaram recentemente a sua produção, amortecendo os possíveis novos aumentos de preços.
Além do exemplo supra, vemos igualmente muita pressão nos preços dos metais, madeira, chips de computador, resinas e borrachas… Mas onde é que realmente estão os preços a subir mais rapidamente? Bem, basta seguir a escassez. Mas, muita atenção, há que estar ciente de que quase sempre existe uma reinvenção do mercado quando os preços entram numa zona de bolha, e não nos podemos esquecer que hoje os fornecedores estão muito mais cuidadosos na gestão do possível efeito de chicote nos seus negócios.
2. Interrupções das Cadeias de Supply Chain
As lacunas no fornecimento de matérias-primas estão a fazer com que os clientes de um dado produto estejam a atuar em mercado spot para satisfazer os tempos de produção e, por isso, os contratos de fornecimento de longo prazo podem estar em risco devido ao realinhamento das cadeias de supply chain.
Atualmente, quem está do lado da compra precisa de ser criativo, de forma a encontrar produtos de fornecedores alternativos, talvez pagando um preço mais elevado. Embora os preços possam não estar obrigatoriamente inflacionados, alguns fornecedores aproveitam a existência de uma oferta mais restrita para cobrarem acima do valor de mercado por produtos e serviços com mais procura.
Mas também existem oportunidades no meio deste caos, os departamentos de compras foram obrigados a descobrir novos fornecedores, e se calhar, melhores preços, quando na procura de superar uma escassez. Cabe agora aos fornecedores não tentarem tirar uma vantagem económica absurda de um novo cliente, ou mesmo se este for apenas ocasional, pois pode vir sempre a ser uma oportunidade para conquistar futuros negócios.
3. Mudanças nas estratégias de negócios
A pandemia forçou as empresas a enfrentarem as suas maiores fraquezas e muitas aproveitaram a oportunidade para analisar as suas estratégias de negócio, desde a análise dos preços e das margens, até às ofertas de produtos e serviços, passando ainda pela possível revisão de métodos de produção, assim como pelo público-alvo pretendido.
A maioria dos fornecedores ajustou as suas estratégias de negócio para conseguir responder às necessidades de mercado, mais do que nunca em constante mudança. E eu acredito que os fornecedores ajustaram, ou irão ajustar, as suas margens de lucro para valores mais realistas, através de uma oferta de produtos mais cuidada, da extinção de departamentos internos com baixo desempenho, entre outras decisões difíceis, na procura da própria sobrevivência.
Marco Morgado | Supply Chain & Operations Management