Muito países africanos estão a viver uma verdadeira revolução de compliance e fazer negócios em África já não é como antigamente. Já não chega ir lá várias vezes num ano, já não chega jantar com generais e, também já não chega estar presente no aniversário da TIA do nosso amigo, que é primo da sobrinha do irmão que hoje está na cidade de passagem para casar a afilhada, que, por sua vez, é enteada do amigo do vizinho, que é tio do noivo, filho do General, que só por receber um presente nosso … vai passar a ser nosso amigo.
Seria mais fácil escrever algo do género: “As empresas, por tradição, investem em países que estão abertos a capital estrangeiro”. Esta frase é linda, mas em África a conversa é outra.
África está finalmente a aprender a fazer negócios “ombro a ombro” com os ditos países desenvolvidos e presenciamos investimentos avultados em sistemas de compliance, dedicados à gestão do comércio e dos mercados. Existem países que estão a instituir regras de divulgação obrigatória de acionistas das empresas listadas, a identificação dos beneficiários efetivos das empresas, bem como a divulgação do GAP salarial entre os salários mais baixos e os mais altos.
Os países africanos continuam abertos a capital estrangeiro, o capital estrangeiro é que pode não estar assim tão aberto, depois do “ordenamento do território dos mercados”.
Negociar com África dá-nos uma licenciatura, pós-graduação e mestrado em relações comerciais e humanas, porque a partir do momento em que enviamos mercadoria, ou a partir do momento em que colocamos os pés em África, temos de mudar o nosso mindset, caso contrário não vencemos. Os gestores mais novos, não têm paciência para fazer este trabalho lento, mas enriquecedor e gratificante pelo que, para muitos deles, África com este blueprint não é solução. Dá-lhes muito trabalho e consome-lhes muito tempo.
Dito isto, acredito que iremos assistir a uma alteração gradual, do tipo de players (europeus e americanos) a investir e a negociar em África. Este quadro beneficia a entrada de agências e serviços de internacionalização e traders. Aliado à instrução de sistemas de compliance, os vários governos estão a instituir sistemas tributários próximos dos existentes nos países europeus visto a evasão fiscal ser gigante e com a agravante de os países não conseguirem fazer investimentos em infraestruturas e o resultado ser uma bola de neve de endividamento e dependências estrangeiras.
Por outro lado, segundo o Relatório sobre o Estado Global da Democracia, neste momento existem muito mais Países no continente africano com classificação de autoritários do que a classificação de democracias, pois indicam 18 democracias, 19 regimes autoritários e 13 regimes híbridos, o que para a cultura europeia ou americana quer dizer que existe democracia à 2.ª, 4.ª e 6.ª.
O facto de presenciarmos o crescimento de regimes híbridos e autoritários abre-nos portas à corrupção e gestão de interesses instalados. Portanto, cautela redobrada quando a sua empresa desejar dar o salto para um país Africano. É melhor investir algum tempo na criação de um comité que seja responsável pela elaboração de um dossier de investimento com visão estratégica tendo como alvo o contexto político, social e económico do país a abordar, bem como as relações que este tem com os seus vizinhos, pois não queremos que as empresas conheçam só as terças, quintas e sábados.
(…) Domingo vamos todos à missa. Os democratas, os autoritários e os híbridos.
Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa