No pré-pandemia já se falava muito da importância das áreas de procurement e de compras enquanto diferenciadoras e criadoras de valor para as empresas, mas o verdadeiro teste veio em 2020. Foi durante a pandemia que estas áreas foram postas à prova, e apesar de haver cada vez mais incertezas sobre a situação mundial, estas foram bem sucedidas a destacar a sua importância dentro e entre as empresas.
Em grande parte das organizações, o Procurement ainda era visto como uma área de compras e de geração de poupança, mas os últimos anos comprovaram que é muito mais abrangente que isso e que os desafios são imensos. Falamos de crises de abastecimento, dificuldades fronteiriças, alternativas de abastecimento, aumentos de preços, redução de custos internos, centrais de compras, parcerias entre empresas e com fornecedores, ou ainda de sustentabilidade ambiental, social e económica, mas acima de tudo, falamos de estratégia e planeamento.
Também nós sentimos esta evolução ao longo destas 100 newsletters quinzenais e das 6 edições de eventos de procurement que realizámos. Para quem já recebe as newsletters desde cedo, certamente que sentiu essa mudança: em 2018 também já se noticiavam casos de sucesso, mas o discurso era ainda muito virado para destacar a importância da profissão, e os leitores ainda procuravam muito a adaptação a esta área que não estava tão explorada. Hoje encontramos mais desafios e crises de abastecimento, muito devido à realidade que vivemos atualmente, mas também encontramos muitas parcerias e casos de sucesso que elevam a sua importância.
As crises dos contentores, combustíveis e semicondutores, guerras comerciais, Brexit, falta de motoristas, ou mesmo o navio da Evergreen encalhado no Canal do Suez, foram alguns dos recentes casos que colocaram à prova as cadeias de abastecimento. A grande dependência do mercado asiático trouxe uma nova missão para a profissão, devido à necessidade de as empresas apostarem cada vez mais na proximidade, tanto em termos de aprovisionamento como de fornecedores.
Nestes tempos de crise, as empresas perceberam ainda mais a necessidade da cooperação e da proximidade aos seus parceiros de negócio. Vários foram os casos em que as empresas tentaram minimizar os impactos económicos para com os seus fornecedores, ou que procuraram mais alternativas tentando não comprometer totalmente os já existentes.
Também casos de cooperação, mas mais ainda de “coopetitividade”, empresas que, embora concorrentes, procuraram ajudar-se mutuamente, e com isso obter ganhos e sinergias.
A verdade é que, quase dois anos depois, os desafios ainda não terminaram, e não sabemos quanto mais tempo durará esta incerteza ou quantos mais virão. O que sabemos é que, durante a tempestade, este navio auxiliou as empresas que ainda se aventuravam nestes mares de incerteza, e embora as ondas (vagas) fossem abanando as organizações e a economia, compreendeu-se que quando o barco é robusto e resistente, a navegação é muito mais segura e firme.
Fábio Santos | Jornalista | Supply Chain Magazine