Uma das consequências da invasão russa à Ucrânia para a supply chain europeia foi ao nível do abastecimento de cereais, que em grande parte provinham destes dois países. Portugal também foi afetado, mas Eduardo Dinis, diretor-geral do Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Geral (GPP) do ministério da Agricultura, tranquiliza a população dizendo que o país tem reservas de cereais para alimentação humana “para cerca de um mês e meio a dois meses”, apesar de não existir uma obrigatoriedade legal para a existência de uma reserva estratégica de matérias-primas alimentares.
Os importadores de cereais estão a negociar com os proprietários dos silos a possibilidade de utilização dos mesmos por períodos mais alongados do que o normal, aumentando assim o nível de segurança alimentar nacional, explica ainda Eduardo Dinis.
Em revelações ao Expresso, Nuno Mello, da consultora XTB, revelou que o preço do milho atingiu valores máximos de nove anos, tendo no início desta semana sido negociado por 750 dólares a tonelada em mercados internacionais. Também o trigo continua com a sua cotação suspensa, há mais de uma semana, “devido à elevada volatilidade a que ficou sujeito desde o início da guerra na Ucrânia”, revela também à fonte.
Os compradores estão agora à procura de fornecedores alternativos à Ucrânia e à Rússia, que juntas correspondem a cerca de 29% das exportações globais de trigo e 19% de milho.
Em carta enviada no final da semana passada a Bruxelas, as associações de produtores apelaram à Comissão Europeia que ponderem a possibilidade de importar cereais dos EUA, Brasil e Argentina, apesar de muitas das produções destes países envolverem sementes modificadas geneticamente, o que a UE não permite.
A preocupação também atinge a China, composta por mais de 1,4 mil milhões de pessoas, e o presidente chinês, Xi Jinping, apelou à priorização do fornecimento alimentar, particularmente de cereais.