No decorrer da 4ª edição da Procurement Digital Conference, que a Supply Chain Magazine promoveu hoje, houve um momento de debate entre profissionais do setor de procurement que veio expor o papel atual deste departamento nas empresas, os desafios e o que ainda falta fazer para os próximos tempos, contextualizando com as dificuldades sentidas atualmente.

O painel “Novas fronteiras para o procurement” foi composto por Cláudia Monteiro, Head of Procurement do Grupo Montepio, Manuel Castelo Branco, Head of Procurement & Fleet Manager da ONI, Nelson Sampaio, Director of Procurement & Supply Chain da HydrogenPro, e Susana Meireles, Director of Procurement & Production Manager da Meireles, teve a moderação do professor Luís Ferreira, da Universidade de Coimbra.

Para além de tópicos isolados e mais concretos, envolvendo tecnologia, dificuldades de abastecimento, contratos, visibilidade da supply chain ou sustentabilidade, um dos tópicos mais debatidos e que coincidiu em todos os pontos foi a relação com o fornecedor (ou parceiro, como rapidamente apontaram os oradores).

No fundo, o contacto com os fornecedores mudou desde há alguns anos, e atualmente já são vistos com outros olhos. Hoje é feita uma avaliação mais detalhada de forma a compreender quem são os fornecedores-chave e que estão lá para ajudar a resolver problemas, e não a criá-los – os parceiros –, a quem as empresas têm de dar uma maior atenção. Nas palavras de Nelson Sampaio: “Uma parceria não existe para fazer uma transação, existe porque é uma relação. Existe um entendimento  com o que ambas as partes devem contribuir e o que ambas as partes devem ganhar”.

Esta relação entre o fornecedor e o comprador deverá existir, defendem os especialistas, pois poderá, ou deverá, beneficiar ambas as partes. Antes a função era vista como uma área de geração de poupança, mas atualmente assume uma função mais estratégica e que deve ter um papel ativo desde o início, explicou Cláudia Monteiro.

Os oradores também sentiram uma mudança ao nível da negociação, e Susana Meireles conta que para além dos problemas de escassez ou falha de matérias-primas, os papeis atualmente foram invertidos, sendo que neste contexto agora quem determina e decide são os fornecedores, e os compradores passaram a ter de se sujeitar aos preços cotados no momento da entrega. Nesse sentido, apontou ainda que estão a ser eliminados os habituais contratos com preços estabelecidos e a trabalhar cada vez mais com encomendas e preços tabelados à semana, e o próprio fornecedor pode escolher se quer fornecer determinada empresa.

“Estamos a evoluir para um momento em que os diretores de procurement não compram a quem querem, e sim a quem quer vender, e a quem tem para fornecer” – Luís Ferreira

Outra das necessidades sentidas é a de ter visibilidade de ponta-a-ponta, e esta questão está a ser acentuada com o recente caso das empresas que pretendem cortar relações com fornecedores que detenham capital russo. É necessária uma grande visibilidade por toda a cadeia e os fornecedores dos diversos tiers para uma empresa conseguir atingir todo esse conhecimento, e isso também envolve uma comunicação ativa com os fornecedores. “Nós conseguimos ir tão fundo quanto os nossos fornecedores conseguirem ir”, afirma Manuel Castelo Branco, acrescentando que essa dificuldade acentua-se nos fornecedores de países asiáticos.

O responsável da ONI também defende que a digitalização é importante para esta visibilidade de ponta-a-ponta, mas conclui que “a tecnologia é parte da solução, mas não a solução”, e que cada empresa deverá encontrar a sua e adaptar a tecnologia às suas necessidades.