Na China, além do lockdown em Xangai muitas outras cidades veem-se também confrontadas com limitações devido à Covid-19. O número de navios porta-contentores à espera fora dos portos do país quase duplicou desde fevereiro; os custos estão a aumentar e as matérias-primas não estão a ser transportadas para as fábricas. Executivos e analistas estão a ficar cada vez mais ansiosos com a escala e impacto de toda a situação nas cadeias de abastecimento globais. O maior desafio é a incerteza… e não saber quando é que todos estes desafios terão fim.

Segundo dados avançados pela plataforma Windward, o número de navios porta-contentores à espera de atracar nos portos chineses aumentou 195% desde fevereiro, uma vez que primeiro Shenzhen passou por um confinamento em março e depois Xangai em abril.

“A tendência é muito clara: nas fotografias de abril e março, havia 506 e 470 navios, respetivamente, presos fora dos portos chineses. Em fevereiro, esse número era de apenas 260. Na sua essência, os lockdowns na China quase duplicaram o congestionamento fora dos portos do país”, avança a mesma fonte.

De cerca de 1.826 navios porta-contentores à espera fora dos portos a nível mundial em abril, cerca de 27,7% estão nos portos chineses.

A China conseguiu manter os seus portos operacionais durante os recentes lockdowns, utilizando um sistema de circuito fechado em que os trabalhadores passaram a viver no local de trabalho. No entanto, tem vindo a aumentar o congestionamento nos parques de contentores, uma vez que o transporte rodoviário foi severamente afetado pela necessidade de os motoristas terem um teste negativo à  COVID-19, realizado nas últimas 48 horas. Os armazéns também foram encerrados e mesmo nos casos de fábricas que retomaram a produção, começa a haver relatos de falta de peças e matérias-primas por dificuldades e disrupções no (re)abastecimento.

Entre os locais em que os camionistas devem apresentar resultados negativos estão o porto, aeroporto e fábricas de Xangai. À medida que o país se esforça por processar simultaneamente milhões de testes que precisam de ser revelados em menos de 48 horas, os requisitos impostos pelo governo chinês têm causado um pesadelo logístico para que as mercadorias sejam movimentadas.

Os danos na eficiência da cadeia de abastecimento já são evidentes. Algumas companhias de navegação notaram no início deste mês uma queda de 30% na eficiência devido à falta de transporte por camião no porto e, em resposta, estão a desviar a carga de Xangai para portos alternativos, como o porto vizinho de Ningbo-Zhoushan.

Por enquanto, muitas fábricas têm conseguido manter uma produção relativamente normal graças ao já referido “sistema de circuito fechado”, no qual os trabalhadores vivem na fábrica ou no campus industrial. Se as restrições não forem diminuídas brevemente, esgotam-se os stocks de peças e/ou matérias-primas e, face a este cenário, Xangai aliviou algumas das medidas de lockdown em vigor, apesar de ter há poucos dias registado as primeiras mortes desta nova vaga. Mas o aprovisionamento não é o único problema.

Aliviadas as atuais restrições, e com a máquina logística a funcionar em pleno, as empresas podem enfrentar novas dores de cabeça, uma vez que todas elas lutam por fornecimentos ao mesmo tempo. E há analistas que já avançam que as restrições de abastecimento daí resultantes poderão fazer com que os preços das mercadorias venham a subir entre 4% a 5%.

A preocupação a longo prazo entre muitos observadores é que este confinamento seja apenas o início. A cidade vizinha de Kunshan também tem enfrentado restrições rigorosas desde o início de abril, o que levou já muitas fábricas a suspender a produção.

De recordar que Kunshan é um forte cluster da indústria automóvel, onde estão instalados vários grandes fornecedores de automóveis e de eletrónica, que prestam serviços a empresas como a Tesla em Xangai, assim como à Apple.

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