No anterior artigo que escrevi para a SCMagazine abordei a escola dos recursos (RBV-resources based value), que através da abordagem VRIO de recursos e capacidades da empresa, permite identificar e potenciar vantagens competitivas sustentáveis.
É hoje seguro dizer que, perante a evolução acelerada da tecnologia, e saiba a empresa “surfar a onda”, novas capacidades irão emergir conduzindo ao aumento do potencial da cadeia de valor. Para a empresa “surfar a onda”, terá de estar preparada para transformar processos e ways of working, retirando o máximo de potencial das várias combinações possíveis de tecnologias já hoje existentes. Entre essas tecnologias, temos 1. Inteligência Artificial; 2. Cloud; 3. Additive manufacturing; 4. IoT+analytics; 5. Realidade virtual; 6. Robots/Cobots e drones; 7. Blockchain; 8. Automação cognitiva.
Os recentes acontecimentos COVID-19 e Guerra Rússia/Ucrânia colocaram a supply chain sob os holofotes, e pesa embora a resiliência e capacidade de reação da generalidade das cadeias de abastecimento, ficaram visíveis as limitações do atual modelo. A evolução (notável) do modelo de supply chain das últimas décadas necessita hoje (e para o futuro) de uma nova abordagem. A sequência típica de atividades de uma supply chain (desenvolvimento-planeamento-sourcing-produção-entrega-logística inversa), com a sua linearidade e relativa rigidez e frequente falta de “transparência” e conectividade entre áreas, limita a flexibilidade e capacidade de reação e antecipação. As novas tecnologias surgem assim como forte fator de apoio na capacidade de resposta que as empresas poderão dar aos desafios não só dos consumidores, mas também de eventos externos.
Parece neste momento já certo o início de uma nova era na Supply chain, assente numa transformação digital das empresas, que hoje conhecemos por Digital Supply Networks, que consiste numa “smartificação” do supply chain Management – always-on, always connected, real-time, adaptável e em rede.
Se, sem grandes exageros, pudermos afirmar que a supply chain deu forma ao mundo que hoje conhecemos, globalizado e conectado, poderemos igualmente afirmar que o papel da supply chain e dos seus Gestores e profissionais sai, aos dias de hoje, reforçado e com responsabilidades acrescidas na criação e implementação de uma estratégia de negócio. A história deve encorajar-nos: desde 1960, fomos capazes de, progressivamente e com sucesso, integrar atividades nos processos da cadeia de abastecimento, demonstrando a mais-valia que daí resultou e vocacionando a supply chain para uma vertente não só de centro de custo, mas também como fonte geradora de receita (dada a interação com o cliente e força de vendas). Estou convicto que o profissional de supply chain estará preparado para os desafios que um futuro assente numa progressiva e profunda transformação digital irá conferir.
João Mateus, Supply Chain Executive