A Cimenteira do Louro tem em armazém, para exportar para França, o equivalente a 450 camiões. São cerca de 2 milhões de euros em  mercadoria que a empresa não consegue colocar nos mercados de destino por questões relacionadas com o transporte. A falta de motoristas, a escalada dos preços e o aumento dos custos geram constrangimentos logísticos e ameaçam o crescimento e a rentabilidade do negócio.

Exporta há mais de 20 anos, para mais de 49 países, com especial destaque para o continente europeu, sendo que o mercado mais forte para a empresa A Cimenteira do Louro é o francês. Em França, a empresa de materiais de construção abastece cerca de 260 lojas de bricolage de insígnias como Castorama, Brico Depôt ou E.Leclerc, de forma contínua, mas sazonal, em função da procura de mercado. “Estamos a falar essencialmente de pavimentos e revestimentos para zonas exteriores e zonas envolventes a jardins e piscinas. São produtos em que a época forte em termos de procura por parte dos consumidores começa na Primavera e estende-se até ao final do Verão. Não controlamos a procura”, explica Dinis Silva, administrador da empresa.

Preparam-se com stocks, produzem para stock e de acordo com a evolução da procura respondem às necessidades dos seus clientes e satisfazem os pedidos das cadeias de bricolage, mas, este ano, Dinis Silva tem-se deparado com uma dificuldade acrescida: “não conseguimos tirar os produtos do nosso armazém. Trabalhamos com diversos transportadores, em média fazemos anualmente perto de 3 mil camiões para França e neste momento já lá devia ter feito chegar 450 camiões, o que equivale a perto de 2 milhões de euros de produtos e não estou a conseguir entregar por dificuldades em encontrar transporte”, conta o administrador d’A Cimenteira do Louro.

O feedback que lhe chega da parte dos transportadores é que há falta de motoristas para o transporte internacional. “Apesar de ser um trabalho bem remunerado, implica longas ausências. Sai-se com carga e depois está-se três semanas sem voltar a casa. Outra das questões que me têm apontado é que o mercado começa a ficar deficitário em termos de veículos e a entrega de camiões novos já está com tempos de espera de um ano e depois há a questão do aumento dos combustíveis que tem feito escalar os preços transversalmente, incluindo óleos, pneus e todos os consumíveis derivados do petróleo, a que se junta ainda o conflito Rússia/Ucrânia”, detalha. Com a ausência de motoristas da Rússia e da Bielorússia, assiste-se a uma deslocação de camionistas da Europa Central para Leste.”Deslocam-se porque o trabalho é melhor pago e é lógico que isto reflete-se diretamente em países periféricos como Portugal. Estamos no cantinho da Europa, rodeados pelo mar e do outro lado por Espanha”.

O empresário realça a importância de boas infra-estruturas e também a necessidade de alternativas ao transporte rodoviário para satisfazer as necessidades das empresas em termos de escoamento dos seus produtos para mercados externos. O problema não é novo e Dinis Silva lembra que no passado já procuraram alternativas, como a ferrovia. “Na altura, com a CP Carga, era impossível. Não havia desenvolvimento. Com a aquisição do operador por parte da Medway, temos tido outra abertura e inclusivamente estão a avaliar como é que nos poderão vir a ajudar neste processo”. Até porque o futuro terminal da Medway, em Lousado, fica paredes meias com as instalações d’A Cimenteira do Louro.

Contudo, apesar de todo o investimento que a Medway tem estado a realizar em tecnologia e em locomotivas, “a verdade é que quando chegam a Vilar Formoso há que trocar de locomotiva porque em Espanha a voltagem da corrente elétrica é diferente e também é necessário mudar de maquinista. Depois quando passamos de Espanha para França lá vem outro problema estrutural que é o da bitola. A carga tem que ser transladada de um comboio para outro, ou seja, as nossas mercadorias saem daqui para o terminal ferroviário, são carregadas no comboio, depois chegam a Espanha trocam, depois chegam a França voltam a trocar…”, processos e burocracias encarecem, e muito, os produtos, porque, como sublinha Dinis Silva, “não há uma ligação direta”.

De todo o modo, neste momento, A Cimenteira do Louro está em conversações com a Medway e em análise está a possbilidade de criar dois comboios semanais para a empresa nacional de materiais de construção, com 40 carruagens para transportar 80 boxes. Mas a solução não será para já.

Agora, como explica Dinis Silva, a solução é a luta dos preços: “neste momento, no transporte rodoviário, quem pagar mais é que é servido. Mas temos contratos e valores que não se podem ultrapassar, caso contrário entramos em negativo. Bom, em negativo já estamos, mas é melhor pôr os produtos nos clientes com algum prejuízo do que ficar cá com toda a carga em armazém”. É este o cenário atual e ainda sem fim à vista.