Fui com a minha família passear a Montemor-o-Novo e, para além de comer muitíssimo bem, tive uma conversa com uma pessoa muito especial, a ceramista e arquiteta Célia Macedo. Arrisco a chamá-la de artesã, somente artesã, tal e qual como tem o prazer de explicar seja a quem for.
Para meu espanto à provocação “a olaria ainda está viva?!” ouvi a frase “não tenho mãos a medir”, “vou ter um elemento novo na equipa porque temos muito trabalho”.
Sabendo que vivemos tempos que ultrapassam o fast, neste momento, a sociedade está tolhida pelo furious, desenraizada de valores e cultura, e encontrar, na pacatez do Montemor-o-Novo, uma artesã que tem a sua “oficina” repleta de trabalhos prontos para entrega é absolutamente maravilhoso.
Na “oficina”, vi alguma impressora 3D? Não! Vi alguma máquina revolucionária que faz peças artesanalmente mecanizadas umas atrás das outras? Não! E ainda bem que não vi, pois se visse, já não estaria na presença de uma artesã.
A tradição tem de ser cultural, pois a cultura é intemporal, desta forma teremos um prato de cerâmica no louceiro da nossa cozinha e na cozinha de um apartamento no Central Park.
Felizmente ainda existem pessoas que querem uma peça de cerâmica com um traço original, que não tenha passado pelas prateleiras do supermercado e, por outro lado, ainda existem pessoas incansáveis que a certo ponto nas suas vidas mudam de carreira e se dedicam a este trabalho, exigente e diligente onde quem manda é o tempo, seja para trabalhar o barro, seja aquecer o forno, seja pelo tempo de arrefecimento, ou até mesmo pelo tempo de transporte, necessariamente cuidadoso pois, segundo a Artesã, o cliente fora de Portugal está a ocupar uma fatia cada vez maior do trabalho a entregar.
Os artesãos devem deixar-se levar pelo papel desempenhado pelo marketing nas suas atividades porque com a estratégia certa, poderemos levar a cerâmica portuguesa além-fronteiras, tanto pelas mãos da diáspora como pela intervenção direta em países estrangeiros.
A Logística tem, nesta atividade, uma missão especial, pois os operadores logísticos devem investir um pouco de tempo na criação de soluções de valor acrescentado junto destes artesãos, estejam eles organizados em associações, ou não. Esta missão é vital para ajudá-los nos processos de exportação e aliviar a pressão e preocupação no pós-venda, dando ao artesão tempo para que se dedique ao que mais gosta de fazer.
“Oficinas” como a de Célia Macedo são um catalisador ao desenvolvimento económico nas localidades onde se inserem, são portas de entrada à criação de novos postos de trabalho e “embaixadas portuguesas” por onde os seus trabalhos passam.
Henrique Germano Cardador – 恩里克 | Marketing & Sales Strategy