O Sindicato Nacional dos Trabalhadores das Administrações Portuárias (SNTAP) convocou uma greve que deve prolongar-se até 30 de janeiro e a Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA) já manifestou a sua preocupação com o impacto que a mesma pode ter no custo das matérias-primas para alimentação animal.

De acordo com o pré-aviso de greve, os trabalhadores dos portos do continente e da Madeira estarão em greve “das 00:00 do dia 22 de dezembro até às 24:00 do dia 23 de dezembro”, “das 00:00 do dia 27 de dezembro até às 24:00 do dia 29” e “das 00:00 às 24:00 dos dias 02, 06, 09, 13, 16, 20, 23, 27 e 30 de janeiro”.

De acordo com o sindicato, no caso dos “navios de mercadorias provenientes ou destinados aos portos das regiões autónomas da Madeira e dos Açores serão asseguradas nos dias de greve acima indicados as respetivas operações no período compreendido entre as 08:00 e as 17:00, não devendo ser iniciada qualquer operação que não possa ser terminada ou interrompida fora do período definido”.

Nos Açores, “não serão executadas quaisquer operações ou atividades nos períodos compreendidos entre as 08:00 e as 10:00 e as 14:00 e as 16:00, de segunda a sexta-feira, nos dias 22, 23, 27, 28 e 29 de dezembro” e nos dias “02, 06, 09, 13, 16, 20, 23, 27 e 30 de janeiro”.

O sindicato acusa as administrações portuárias de “ausência total de disponibilidade” para dialogar sobre a proposta de revisão salarial para 2023, tendo o SNTAP feito “vários pedidos de reunião” que ficaram sem resposta, “nomeadamente por parte das administrações de Sines e de Lisboa”.

Entretanto, a IACA – Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais – está preocupada com a repercussão desta greve nos custos no preço das matérias-primas para a produção de rações de animais que dão origem a carne, peixe, leite e ovos. É que a greve dos trabalhadores das administrações portuárias deixa, pelo menos, oito navios de matérias-primas para a alimentação animal com atrasos na descarga ou por descarregar, em dezembro e janeiro e os custos adicionais das empresas importadoras com a sobreestadia dos navios podem atingir, até final do mês de dezembro, mais de 1 milhão de euros, valor que pode duplicar em janeiro.

Refira-se que em Portugal as empresas produtoras de alimentos compostos para animais têm uma dependência de matérias-primas importadas de 80% e uma capacidade de armazenamento de cerca de cinco dias, pelo que face aos mais de 10 dias de greve anunciados, a IACA estima que as empresas ficarão sem acesso a matérias-primas que garantam a continuidade da produção, situação que pode culminar na rutura de stocks a disponibilizar aos produtores pecuários e na degradação dos cereais e oleaginosas por adiamento dos seus descarregamentos.

Prevê-se que um dos portos mais afetados seja o da Trafaria, porto por onde passam as principais matérias-primas usadas na produção de rações para animais. Cerca de 60% do milho e 50% da soja usada na produção de rações para animais que dão origem a géneros alimentícios entram em Portugal através do terminal da Trafaria.

“Lamentavelmente, e apesar das preocupações que fizemos chegar à tutela, não foram previstos pelo ministério das Infraestruturas e Habitação serviços mínimos para a descarga de granéis alimentares, ou seja, matérias-primas para a alimentação animal, pelo que a IACA apela ao Governo para que considere estas descargas nos serviços mínimos acautelados e desenvolva todas as iniciativas possíveis para desconvocar a greve”, afirma Jaime Piçarra, Secretário-Geral da IACA.

A Associação antevê que a inação do Estado, para além de criar maiores problemas à Indústria da Alimentação Animal, coloque em causa a disponibilidade de carne, leite e ovos de origem nacional à mesa dos consumidores, sobretudo durante o início do novo ano.

“As empresas já estão tão sobrecarregadas de custos inflacionados que, naturalmente, vão repercutir este novo custo na cadeia de valor, situação que, inevitavelmente, vai chegar ao consumidor. Isto no caso de termos produtos para disponibilizar, o que não é garantido perante uma greve de tão longa duração”, acrescenta o responsável associativo que frisa ainda que  “a greve dos trabalhadores das Administrações Portuárias vem agravar as preocupações e os constrangimentos que a fileira já estava a sentir devido à greve dos inspetores sanitários, acontecendo tudo isto num contexto marcado pelos elevados preços da energia e das matérias-primas. Não prevemos o melhor para o início do novo ano. Assim vai ser difícil travar a inflação”.