Na Irlanda, os produtores de uísque estão a ser prejudicados por problemas na cadeia de abastecimento, incluindo atrasos na embalagem, elevados custos do malte e da energia – dificuldades que podem ter impacto na produção do próximo ano.
Na sequência de problemas globais na cadeia de abastecimento, exacerbados pelo Brexit, os produtores irlandeses de uísque têm lutado para satisfazer uma procura crescente. Existem atualmente 40 destilarias na Irlanda, contra apenas quatro em 2010, e o país vendeu um recorde de 14 milhões de caixas de uísque (168 milhões de garrafas), em 2021.
Um relatório da Irish Whiskey Association (IWA) revelou que o volume de vendas cresceu 38% nos primeiros seis meses de 2022, com um crescimento de 21% em 2021 em relação ao ano anterior. As exportações de uísque valeram 856 milhões de euros em 2021, segundo o Irish Food Board, representando mais de metade do valor das exportações de bebidas da Irlanda. Mais de metade (55%) destas exportações foram para os Estados Unidos.
O inquérito da IWA revelou que os produtores têm agora de fazer face ao aumento dos custos da cadeia de fornecimento e dos prazos de entrega de garrafas de vidro, materiais de embalagem, barris de carvalho e malte. Os preços subiram entre 20% e 30% para garrafas de vidro e barris de carvalho. O custo do malte, um grão utilizado na produção de uísque, quase duplicou ao longo de 2022, como resultado da invasão da Ucrânia e dos preços mais elevados da energia que afetaram a produção e o transporte.
Os prazos de entrega mais longos para as embalagens também atingiram os membros da IWA – os prazos de entrega em casco de carvalho aumentaram em mais de um mês para 58% dos inquiridos, e as garrafas de vidro em mais de dois meses. Nove em cada 10 (92%) inquiridos esperavam que os prazos de entrega aumentassem e, por consequência, afetassem negativamente a produção nos próximos 12 meses. E 77% concordaram (ou concordaram fortemente) que tanto os custos da cadeia de abastecimento como os prazos de entrega iriam provavelmente aumentar ainda mais no próximo ano.
William Lavelle, director da IWA, disse: “O uísque irlandês enfrenta muitos desafios sérios no comércio internacional e na cadeia de abastecimento, e o facto é que nem todas as marcas irão crescer este ano. É de assinalar que as dificuldades relatadas na cadeia de abastecimento estão a ser sentidas igualmente por grandes e pequenos produtores, e é provável que os graves impactos sejam sentidos mais duramente pelos produtores de PME”.
“Os desafios do comércio internacional e da cadeia de abastecimento têm cada vez mais potencial para ter impacto no comércio, tanto a nível da indústria como das empresas individuais. É vital que a política de comércio internacional se mantenha, não apenas na reação às ameaças, mas também na avaliação e planeamento pró-ativos para o futuro”, acrescentou ainda.
Os custos de transporte marítimo internacional aumentaram cerca de 50-60%, segundo o inquérito realizado, em comparação com 2021. Os inquiridos relataram que estavam mais preocupados com a rutura e congestionamento dos portos, tanto a nível mundial como interno, afetando tanto a sua capacidade de exportar uísque como de importar matérias-primas.
Mais de três quartos (78%) dos inquiridos declararam ter mudado de fornecedor para assegurar uma cadeia de abastecimento mais sustentável ou resiliente.
A crise energética agrava ainda mais os seus problemas, uma vez que 76% dos inquiridos sofreram aumentos da fatura energética superiores a 25%, e 40% sofreram aumentos superiores a 50%. Os membros esperam que as faturas de energia em 2023 aumentem em mais de 200%.