A Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS) apresentou no passado dia 26 de janeiro, durante a celebração do centenário do Porto de Setúbal, um vasto programa de atividades a decorrer ao longo do ano, com o objetivo de reforçar e promover o papel do porto no desenvolvimento económico e social da região, bem como grandes investimentos programados para os próximos anos.

Foi a 18 de dezembro de 1923 que foi criada a Junta Autónoma das Obras do Porto e Barra de Setúbal e do Rio Sado, hoje Porto de Setúbal. As atividades comemorativas que decorrerão ao longo do ano procuram dar a conhecer a atividade do Porto de Setúbal à região sadina, permitindo que a comunidade conheça o seu funcionamento, as suas infraestruturas, tipos de carga e meios logísticos envolvidos, proporcionar vivências diversas com a realidade portuária, entre outras, numa ótica de responsabilidade social para com os cidadãos. Com estas medidas, a APSS também espera sensibilizar a comunidade para a atividade portuária e incentivar o público jovem e a comunidade escolar a enveredar por esta área de atuação, promovendo a captação de novos talentos no setor marítimo-portuário.

Carlos Correia, presidente da APSS, comenta que “este programa de atividades, que tem como parceiros oficiais, a Câmara Municipal de Setúbal e a Comunidade Portuária de Setúbal, servem para celebrar o passado, anunciar o presente e projetar o futuro do Porto de Setúbal. Estas iniciativas vão estar abertas à população e à comunidade empresarial da região, fortalecendo a relação entre o porto e a cidade, e reforçando a estratégia que existe para o Porto de Setúbal, que passa por três palavras: investir, inovar e descarbonizar”.

O Porto de Setúbal é hoje o segundo maior em termos de transporte ferroviário, sendo cerca de 1/3 da carga movimentada por este método. Em 2022 a infraestrutura movimentou 6,2 milhões de toneladas de mercadorias, tendo apresentado como principal destaque a exportação, que superou os 52% do volume total movimentado, e ao nível da carga ro-ro este valor atingiu os 70%. Nos últimos 10 anos, como referiu também João Galamba, 60% da carga do porto destinou-se à exportação.

Neste momento estão pensados e/ou a avançar, nos seus diferentes estados de maturação, os seguintes projetos para o distrito:

. Melhoria das acessibilidades ferroviárias

“Temos um projeto de melhoria das nossas acessibilidades ferroviárias, e a nossa expectativa é que arranque este ano, numa parceria que temos com a Infraestruturas de Portugal, e isso vai potenciar esse aumento dessa intermodalidade, neste caminho para a descarbonização”, explica Carlos Correia. Neste sentido, revela que assinaram recentemente um compromisso com o Pacto Global das Nações Unidas, para cumprir os objetivos de descarbonização estipulados pela Organização das Nações Unidas (ONU), e tendo como meta atingir a neutralidade carbónica até 2035.

“Havendo aqui dois parceiros, o investimento total é de 20 milhões de euros, sendo que 5 milhões de euros é a componente da APSS para esse investimento”, explica o presidente da APSS, sendo estes dedicados tanto para o para investimento na ferrovia como na rodovia, “porque existe um conjunto de restabelecimentos rodoviários que vão ser necessários”. O acordado entre as partes é de que uma componente do investimento será feita na rede ferroviária nacional, estando esta a cargo da Infraestruturas de Portugal, e outra parte será na infraestrutura do Porto de Setúbal.

Um ponto importante para ferrovia será o complemento das linhas para permitir e facilitar a movimentação do material circulante ferroviário, aumentando a segurança e eliminando a necessidade de “invadir” a linha geral, do Alentejo, bem como passando a tornar a linha apta a receber composições de 750 metros, “que é, no fundo, o standard da interoperabilidade a nível europeu e, portanto, maiores composições significam que o custo unitário em termos da carga acaba por ser mais reduzido, e isso habilita ou potencia esse aumento em termos da ligação ferroviária”.

. One Shot Power System

Um dos projetos que têm ao nível da sustentabilidade é o One Shot Power System, que visa dotar os terminais portuários com ligação elétrica para quando os navios estiverem atracados em cais possam ser alimentados com energia elétrica ao invés de consumirem combustíveis fósseis, reduzindo as emissões poluentes, bem como o ruído e as vibrações. “Este projeto é importante porque temos a noção que a partir de 2030 a União Europeia imporá, provavelmente, que seja obrigatório aos portos oferecerem este tipo de serviços, de fornecer energia elétrica para os navios que estão atracados em cais”, aponta Carlos Correia.

O responsável explica que neste momento todos os navios que estão a ser construídos já estão a ser habilitados para permitir este tipo de sistemas, e assim, quando esta legislação se verificar obrigatória, já estarão preparados para dar resposta a estes navios mais modernos.

. Renegociação da modernização das concessões da Sadoport

Em 2025 terminam as concessões da Sadoport, e está a ser proposta a prorrogação desses contratos num período de 10 anos, mas que também tem em vista um conjunto de investimentos na sua negociação, ao nível da modernização e da sustentabilidade ambiental.

. Novo terminal multiusos

“Estamos comprometidos com a necessidade de lançar uma nova concessão para aquilo que é o terminal multiusos da Mitrena, que é atualmente o terminal de granéis sólidos da Sapec”, adiantou o responsável, sendo esse lançamento feito até 2025. “Estamos a desenvolver um projeto para um novo terminal multiusos, com dimensão e funções diferentes daquilo que lá existe, e que, por aquilo que está previsto, terá 350 metros de cais, e cerca de 10,4 hectares de terrapleno”.

De acordo com Carlos Correia, esse o novo terminal, “terá uma nova funcionalidade, um novo autónomo dentro do Porto de Setúbal, para responder a este equipamento que nós pretendemos ao nível da carga, e temos já um conjunto de manifestações de interesse relativamente a esse terminal”. Os estudos técnicos e os estudos ambientais estão a ser desenvolvidos pela APSS, e depois terá uma concessão que será lançada à iniciativa privada para um projeto para a construção e gestão do terminal.

. Novo terminal multimodal

O Porto de Setúbal está também a trabalhar naquele que será o novo terminal multimodal, que será criado na zona do novo terrapleno, resultado da recente dragagem no Porto de Setúbal, situado junto ao terminal ro-ro. “Esse terrapleno está consolidado, e a nossa ideia é constituir um terminal multimodal, e estamos a desenvolver também esses estudos, sendo certo que será também lançado à iniciativa privada”, avança ainda.

As intenções são de que uma parte desse terminal também seja dedicado à expansão do terminal ro-ro, mas ainda estão a desenvolver estudos para que possam captar um novo tipo de carga para o terminal de Setúbal, nomeadamente para o movimento de trailers, respondendo a uma oportunidade que existe para o Porto de Setúbal nesse mercado. “É um tipo de carga que já existe, por exemplo, no Porto de Leixões, e que existe um potencial para o Porto de Setúbal, designadamente até associado à Autoeuropa para o transporte de componentes”, aponta o responsável.

. Energias offshore

A APSS está a estudar um conjunto de investimentos ao nível das energias offshore, entre os quais se inclui o projeto Aurora, a joint venture entre a Galp e a Northvolt para instalarem no parque logístico da Sapec a maior e mais sustentável fábrica de lítio na Europa, que tem produção prevista para fabricar hidróxido de lítio para 700.000 veículos a nível mundial, e que tem um investimento na ordem dos 750 milhões de euros, criando em Setúbal 1.500 postos de trabalho diretos e indiretos. “O Porto de Setúbal é um elemento importante porque parte dessa produção, quer da importação de matéria-prima, quer da exportação, será feita por parte do porto”, nota o presidente.

Um outro projeto, ainda não anunciado publicamente, está relacionado com a produção de biocombustíveis, com hidrogénio verde, por parte de uma empresa multinacional, que já fez inclusive sondagens no Porto de Setúbal. “O projeto está relativamente consolidado, será anunciado oportunamente, tem financiamento a partir do PRR, mas visa a instalação de uma unidade de produção de biocombustíveis a partir de hidrogénio verde”, avança.

Existem ainda outros projetos já consolidados, para a construção de componentes para as torres eólicas offshore, quer na Lisnave, quer na Etermar. “Grande parte desses componentes pode ser fabricado aqui em Setúbal, e na Lisnave e na Etermar existem já projetos firmados para a construção desses componentes para as torres offshore. Há um investidor que também está interessado em instalar-se na Sapec para a construção de pás para as torres eólicas, e há vários outros investidores. É importante que o Porto de Setúbal até lá seja capaz de nalguma parte da infraestrutura portuária fazer os investimentos para suportar e dar resposta a estes investimentos externos”, acrescenta Carlos Correia.

. Inovação tecnológica para captação de recursos humanos

Um dos tópicos que destaca é ao nível da inovação tecnológica, e não só como essa temática é importante para a atividade portuária, mas também para a captação de jovens qualificados, pois esta também é uma das dificuldades que as empresas concessionárias apresentam. “Queremos associar-nos ao Politécnico de Setúbal e a outras instituições de ensino e de inovação para promover este seminário e dar essa nota da inovação em termos da atividade portuária”, aponta Carlos Correia.

Seminários
O Porto de Setúbal está também a avançar com um calendário de seminários ao longo do ano para promover a atividade portuária, sendo os temas e datas previstos:
1 de fevereiro – A Intermodalidade no Porto de Setúbal
Março – Sustentabilidade e inovação tecnológica
Maio – Igualdade de género
Setembro – Ligação Porto-Cidade
Novembro – Desenvolvimento logístico