Pelo menos desde 2010, ano em que ingressei nestas andanças do mundo dos transitários e no mundo do transporte internacional de mercadorias, que constato que em Portugal a carga aérea, ou o transporte aéreo de mercadorias, tem sido historicamente descurado, nunca tendo recebido o investimento ou o reconhecimento que poderia e devia.
O país tem sido lento a criar infraestruturas modernas, que permitam um transporte aéreo de carga eficiente e seguro e continua a haver escassez de aeroportos equipados para transportar carga, com os principais aeroportos nacionais destinados, essencialmente, ao transporte de passageiros.
É importante falar e discutir este assunto. É primordial voltar a reunir as partes envolvidas e propor as mudanças que se exigem para alavancar o comércio internacional em Portugal, de modo a aumentar a participação das empresas portuguesas nos mercados externos. Urge retomar a ideia de uma Comunidade de Carga Aérea, onde se sentem novamente os transitários, os operadores expresso, as companhias aéreas e seus representantes (GSSA), as empresas de handling, os despachantes oficiais, os transportadores rodoviários, a ANAC, a ANA Aeroportos e as alfândegas.
Urge criar um grande evento anual a nível nacional, o “Portugal Air Cargo Summit” (inserido, ou não, no já existente Portugal Air Summit), onde os stakeholders da carga aérea discutam os assuntos que verdadeiramente merecem ser discutidos e onde estejam representados os atores com poder de decisão e implementação. Falar de disrupção e nada decidir ou implementar é como querer que nos saia o Euromilhões e não jogar.
Inovação, digitalização, transformação sustentável na carga aérea, desenvolvimento do mercado mar/ar já em plena expansão, análise dos desafios e oportunidades dos aeroportos nacionais a nível de carga, o que desejam as companhias aéreas quando pretendem desenvolver um cargo hub? Ou se será possível desenvolver um hub de carga aérea em Portugal? Ou o que nos espera na carga aérea para 2023? Todas estas questões merecem ser respondidas com dignidade e seriedade e todos os operadores merecem respostas e implementação de medidas concretas.
Numa altura em que se fala do controverso investimento de milhões nas Jornadas Mundiais da Juventude, talvez seja oportuno indagar também de que forma o transporte aéreo e a carga aérea contribuem para a realização deste evento e questionar se o setor beneficiaria, ou não, de um investimento que permitisse dar as respostas que os operadores e carregadores há tantos anos anseiam.
Joana Duarte Nunes | managing partner | APG Portugal Cargo
O sector da carga aérea enferma de três males.
O primeiro é a existência de uma TAP arrogante que olha para as empresas de menor dimensão e tudo faz para as colocar fora do mercado. A companhia de aviação de carga aérea MAIS – Madeira Air Integrated Solutions tem sido vítima dessa política mas, felizmente, tem resistido na rota da Madeira.
O segundo problema é a existência de duas agências de Handling, qual delas a pior.
O terceiro é o regulador ANAC insistir em proteger a TAP e sempre que um transitário organiza um charter dedicado, pergunta-lhe se tem objecção a apresentar. A TAP impede sempre, alegando direitos de tráfego, com base numa famigerada lei que não é aplicada em nenhum país da Europa mas que a TAP usa para, inclusivamente, ficar com uma operação que já tinha sido vendida, usando o mesmo avião e cobrando um preço mais caro que o que fora acordado com o transitário.
Enquanto a TAP é a ANAC considerarem Portugal como uma coutada, ou melhor, como uma selva, não vejo grande futuro para o sector