O “Grândola Logistics Park Euro-Atlantic” (GLPEA), cuja construção arranca em 2023, quer ser o hub estratégico na cadeia de abastecimento global. Considerado Projeto PIN, este empreendimento logístico e industrial, que vai nascer em Grândola, é o maior investimento já feito em Portugal numa plataforma logística verde.
“Grândola Logistics Park Euro-Atlantic” é o nome da nova plataforma logística de 130 hectares, que acaba de ser considerada Projeto PIN (Potencial Interesse Nacional) e promete ser um player-chave para a indústria a nível internacional. O GLPEA é desenvolvido pela Qantara Capital. O investimento inicial previsto é de 500 milhões de euros.
O município de Grândola vai assim receber um dos maiores parques logísticos privados em Portugal, tornando-se um hub chave que irá reforçar a supply chain euro-atlântica. Os 130 hectares da futura plataforma serão divididos em megalotes, com um total de 670.000 metros quadrados de área de construção destinados a logística, indústria e serviços, 300.000 metros quadrados para infrastruturas adjacentes e 330.000 metros quadrados para áreas verdes.
O GLPEA está ligado à via rápida IC1, a 8 km do centro do município de Grândola e da autoestrada A2, a 100 km de Lisboa. O projeto tem também ligação ferroviária direta ao Corredor Internacional Sul, que por sua vez liga o porto de Sines a Espanha. Com estação ferroviária privada, funcionará como uma plataforma intermodal e, segundo a promotora, “uma porta de entrada para a Europa e para o Atlântico”.
Em declarações à Supply Chain Magazine, Hadrien Fraissinet, CEO da Qantara Capital, explica que “a posição de Portugal no mundo, próximo do Atlântico, mas ligado à Europa, é uma das mais atraentes localizações que se pode ter” para o desenvolvimento de projetos industriais e logísticos e para as cadeias de abastecimento globais.
Integração nas cadeias internacionais
Extrapolando para a situação que atualmente se vive no mundo, Hadrien Fraissinet lembra que “as rotas e ligações com a Rússia para já estão fechadas e ninguém sabe exatamente como vão ficar as relações com a China, que é no momento outra das grandes incógnitas”. Portanto, na ótica do investidor, o CEO da Qantara Capital não tem dúvidas que “é preferível estar num país que nos confere algum grau de certeza e de estabilidade e tentar isolar, tanto quanto possível, elementos que escapam ao nosso controlo”.
Sobre o impacto que o projeto irá ter na indústria e na logística, tanto em Portugal como na Europa, o gestor não tem dúvidas que será grande, “primeiramente na região onde se insere, o Alentejo, pois irá criar postos de trabalho e, tanto do ponto de vista social como económico, numa perspetiva muito positiva”.
Na sua visão, Portugal precisava de novas infraestruturas, mais verdes, mais flexíveis, para poder servir um amplo números de empresas e necessidades. “Durante os últimos 25 anos, sempre que alguém perguntava sobre logística em Portugal, a resposta era Espanha e isto era algo que nunca compreendi. Portanto, quando aqui cheguei, enquanto investidor, quis perceber porque é que a resposta para Portugal era Espanha. E o que eu vejo agora é que se criarmos algo grande, flexível, com boas infraestruturas, podemos não só ajudar e impulsionar a economia doméstica, como também integrar o país nas cadeias internacionais”. E detalha: “o novo corredor ferroviário de Sines para Madrid e depois para a Alemanha é algo muito importante, pois sabemos que 80% do tráfego de Sines é ferroviário e foi por isso que quando andámos à procura de terrenos fizemo-lo em parceria com a IP, com o município de Grândola, pois para nós era fundamental a ligação à ferrovia”.
Sustentabilidade no centro das preocupações
Mas para além destes impactos, tanto a nível interno como internacionalmente, há um outro aspeto que Hadrien Fraissinet aponta como fundamental e que passa por desenvolver a plataforma logística do futuro. “Temos a possibilidade de criar a plataforma logística mais verde que é possível aos dias de hoje: algo que interessa ao governo, aos futuros ocupantes dos espaços e aos operadores. Vamos criar algo de raiz e é muito mais fácil implementar estas componentes numa construção nova do que quando estamos a adaptá-las a uma estrutura que já existe. Para nós, é fundamental que toda e qualquer construção nesta plataforma tenha preocupações ambientais e certificação verde”. Dentro da lógica de green building é de salientar a aposta em energia solar e na análise e consumo inteligente dos vários recursos e, no que diz respeito ao transporte “teremos estações de carregamento de hidrogénio verde, que virá de Sines, e também elétricas, ou seja, quando os camiões e carrinhas reabastecerem, será com energias verdes e renováveis”.
Não menos importante é a questão da sustentabilidade do ponto de vista social (ESG). Além dos postos de trabalho que serão criados, estimados em 1.000, “queremos ter a certeza que as pessoas e as suas famílias sairão ganhadoras”. Portanto, do projeto faz parte a criação de um jardim de infância no espaço, áreas dedicadas à educação mas também à formação. “É um envolvimento social que nos parece muito importante criar, para que Grândola permaneça tão encantadora quanto é hoje, mas que a população beneficie diretamente da riqueza que ali irá ser gerada, para que todos ganhem: o ambiente, a economia, mas também a população local”.
O mundo e as cadeias de abastecimento têm estado em agitação e acelerada mudança desde 2020. E todos os eventos entretanto registados têm destacado, no entender do nosso interlocutor, “a importância estratégica do corredor comercial euro-atlântico, onde Portugal está a tornar-se protagonista. A escala, a localização e a intermodalidade do GLPEA refletem esta nova realidade”. Hadrien está convencido que “com o GLPEA estamos a criar um novo hub logístico na Península Ibérica”.
A CBRE Portugal vai assessorar a Qantara Capital no processo de promoção e comercialização do GLPEA e Nuno Torcato e Miguel Alvim, respetivamente diretor da área de Industrial e Logística e diretor da área de Promoção Imobiliária da CBRE Portugal, comentam que “o GLPEA surge para dar resposta a uma crescente procura de espaços de dimensão, flexíveis e alinhados com os mais altos padrões a nível de ESG. Portugal é cada vez mais um destino de players internacionais e as características especificas deste projeto, bem como as suas extraordinárias ligações rodoviárias e ferroviárias ao Porto de Sines, assim como a Lisboa, Porto e Espanha, irão ajudar a consolidar Portugal como destino preferencial para empresas industriais e intervenientes do sector de supply chain a nível mundial”.
A construção do GLPEA arranca já em 2023, com o início das operações previsto para 2024.