A Medway encontra-se na lista de potenciais candidatos para fazer uma parceria estratégica com a espanhola Renfe Mercancías. A decisão deverá ser conhecida em junho ou julho deste ano, e a Medway está confiante nas mais-valias que esta eventual parceria poderá trazer. 

Bruno Silva, managing director da Medway, em entrevista ao Jornal Económico, afirma que a Renfe está à procura de um sócio que possa “liderar a gestão da organização, que ajude a criar um operador ferroviário com uma implantação mais forte, com capacidade de internacionalização do mercado de Espanha e que tenha experiência em fazer este tipo de trabalho”. O objetivo passa por ajudar a empresa espanhola a desenvolver mais o mercado do transporte de mercadorias para a indústria do seu país, bem como para outras que pretendam dar entrada neste mercado.

A implantação da Medway no mercado ibérico está a crescer, e prova disso é a chegada de mais de 16 locomotivas, estimada para o final do ano, para operar, numa primeira fase, no mercado espanhol. Em contrapartida, a Renfe está a ter dificuldades em manter o seu modelo de gestão, bem como na contratualização, uma vez que é uma empresa pública. E embora tenha uma vasta frota, o parque de vagões é antigo, assim como a frota de locomotivas a diesel. “Vai ser necessário, nos próximos anos, um plano de renovação de material. Isso vai implicar fortes investimentos”.

A Renfe detém cerca de 60% de quota de mercado, no mercado espanhol. Se decidir juntar-se à Medway, o acréscimo da empresa portuguesa não será tanto no mercado espanhol, mas ao juntar sinergias criarão uma base ibérica forte. “70% do nosso tráfego terrestre internacional é com Espanha, certo? Portanto é onde está o grande volume. Os outros 30% seguem além Pirinéus. Mas 70% é um volume de tal dimensão que a existência de uma estrutura ibérica pode trazer vantagens muito significativas. Nós hoje já estamos a fazer esse caminho”, indica o managing director.

Desde a privatização da Medway (antiga CP Carga), o diálogo com o Estado tem refletido “recetividade”. Contudo, há aspetos que ainda esperam melhorias. Um dos pontos apontados por Bruno Silva, tem que ver com a coerência de atuação do Estado em medidas destinadas tanto à rodovia como à ferrovia. O foco não pode ser apenas em investimentos de infraestrutura, mas também que as ações de tarifação e as regras de taxação aos vários modos de transporte, sejam equivalentes “para não correr o risco de ter um país a investir, como neste caso, mais de 2 mil milhões em infraestruturas, mas que depois cria um desnível de competitividade e favorece o transporte rodoviário”.

Um dos fatores que está a desequilibrar terreno prende-se com o valor a pagar na utilização da ferrovia, que começa na reserva dessa capacidade. Se não circular e for cancelado poderá ter que pagar um valor pela não utilização da reserva. “Na ferrovia temos uma diretiva europeia, transposta para lei nacional, que leva a que os custos diretos da operação de manutenção de infraestrutura sejam repercutidos nas empresas ferroviárias. Mas isto na rodovia não acontece”, esclarece.

Enquanto a utilização da rodovia é gratuita, na ferrovia a taxa de utilização aumentou 20% desde o início do ano. Em Portugal, por cada quilómetro de infraestrutura, paga-se entre 1,5€ e 1,55€. Já no país vizinho, o valor é de 14 cêntimos, ou seja, 11 vezes menos do que em Portugal.