Nesta época, por tradição, celebração ou puro conforto e gulodice o chocolate é omnipresente. Mas, de onde vem o cacau? E, por outro lado, como se comportam e atuam alguns gigantes e marcas em termos de ESG? O resultado do “The Chocolate Scorecard” deste ano não é tão doce como se desejava. Saiba porquê.

Das 38 principais fabricantes de chocolate do mundo avaliadas pelo “The Balance Scorecard“, investigação levada a cabo pela Be Slavery Free, Macquarie University, University of Wollongong e a Open University, apenas cinco receberam o prémio verde “good egg” por práticas exemplares. São elas a Original Beans e a Tony’s Chocolonely, com sede na Holanda, a Beyond Good de Madagascar, a Alter Eco dos EUA e a HALBA da Suíça.

A Original Beans está na vanguarda da revolução do chocolate artesanal europeu, com a declaração de uma missão que inclui a ideia de “regenerar o que consome”. Já a Tony’s Chocolonely tem como objetivo tornar todo o chocolate livre de escravidão, uma vez que a maioria do cacau do mundo é produzida em fazendas na África Ocidental que estão sob pressão de preços que levam ao trabalho infantil e à escravidão moderna.

 

“Ovos partidos” dizem pouco

No outro extremo da escala, empresas como a Unilever e a Mondēlez receberam “ovos partidos” por não participarem na pesquisa. A Mondēlez, que produz a Cadbury, foi alvo de críticas em 2022, quando o canal britânico Channel 4 transmitiu imagens secretas do Gana, alegadamente mostrando crianças com 10 anos de idade, descalças e a usar catanas para colher vagens de cacau e paus afiados para extrair os grãos que seriam eventualmente usados no chocolate Cadbury.

A Mondēlez descreve a sua missão como “ir além para liderar o futuro dos snacks em todo o mundo”, em vez de abordar questões ambientais ou sociais, o que está longe da missão original da Cadbury. O fundador John Cadbury era um Quaker “impulsionado por uma paixão pela reforma social” que ajudou a fundar o precursor da Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra os Animais e planeou uma “aldeia modelo” para os seus trabalhadores, incluindo escolas, lojas, parques e serviços de cuidados infantis.

Embora a Mondelēz tenha dito estar profundamente preocupada e ter proibido explicitamente o trabalho infantil, a Chocolate Scorecard quer saber sobre os esforços realizados pela empresa para melhorar a proteção das crianças nas comunidades onde obtém o cacau.

 

“Ovos podres” podem melhorar

Entre as empresas que responderam, há sinais de melhoria. Em 2020, a Godiva recebeu o prémio “Ovo podre” por “não assumir a responsabilidade pelas condições em que o seu chocolate é produzido, apesar de obter grandes lucros com o seu chocolate”. A Godiva agora afirma estar dedicada a “uma indústria de cacau sustentável e próspera, onde os agricultores prosperam, as comunidades são capacitadas, os direitos humanos são respeitados e o meio ambiente é preservado” o que lhe reservou uma classificação “laranja”, demonstrando que o progresso é alcançável. Da mesma forma, a Sücden – anteriormente um “ovo podre” vermelho, melhorou para amarelo na classificação deste ano.

De facto, as empresas precisam de lucros para sobreviver. Mas se o lucro e a produção de chocolate são as suas únicas motivações, é provável que prejudiquem as pessoas e o ambiente enquanto o fazem. Nesta Páscoa, ao comprar chocolate, é importante considerar não apenas o sabor e a qualidade do produto, mas também as práticas de produção da empresa.

Com a classificação “ovo podre”, os consumidores podem tomar decisões informadas e conscientes na hora de escolher qual chocolate comprar e apoiar as empresas que estão a fazer a diferença em termos de sustentabilidade e responsabilidade social.