‘Um dinamarquês e um suíço entram num bar e…’ Para quem tem o dom de animar os outros com o seu bom humor, a história poderia perfeitamente começar assim. Se bem que já sabemos como termina: com o fim precoce da aliança conhecida como ‘2M’, que uniu, desde 2015, a Maersk e a MSC.
Um “casamento” que termina de forma precoce. Como muitos divórcios, apanhou uns de surpresa e deixou outros de sobrolho franzido. Mas, a vida continua e o que verdadeiramente importa é o que vem depois da separação.
Como habitualmente acontece em divórcios urbanos e civilizados, MSC e Maersk declaram que reconhecem que muita coisa mudou desde que as duas empresas assinaram o contrato de 10 anos. A descontinuação da aliança 2M leva a que ambas as empresas prossigam caminhos independentes, cada qual com a sua estratégia.
Antes de ir ao: ‘e agora, como vai ser e qual o impacto no mercado?’, é importante relembrar que, desde a década de 90, é comum a cooperação operacional entre duas ou mais transportadoras marítimas com dimensão global.
Existem, aliás, três alianças no transporte mundial marítimo de contentores: 2M (que agora se fina), Ocean Alliance e The Alliance. Três acordos que dominam o mercado. No caso da 2M, controlava uns impressionantes dois quintos de todo o transporte marítimo global.
Para as companhias marítimas, há dois benefícios claros nestas alianças: considerável ganho de escala e aumento da área de cobertura, a que se somam outros, como maximização de sinergias operacionais, entrada rápida em novas rotas, limitação da concorrência, racionalização de ativos e infraestrutura e diluição de risco operacional.
Ainda que o fim da 2M não se sinta, para já, no mercado nacional e até mesmo global, sobretudo por força de, tanto MSC como Maersk, manterem as condições com para os seus clientes, é de esperar que, a prazo, venha a impactar significativamente a dinâmica do transporte marítimo.
Segundo reputados especialistas do setor, as hipóteses são várias: ambas as companhias enveredarem por novas alianças, competição vigorosa pelas mais de 40 rotas exploradas em conjunto, sendo também plausível não competirem por determinadas linhas, impacto na qualidade do serviço e no preço, que se pensa, possa baixar.
O que é realmente conhecido neste agitar de águas? A Maersk investe já numa proposta de serviço integrada, em competição direta com transitários, ao passo que a MSC segue uma estratégia de cooperação. As duas empresas têm visões diferentes sobre a pegada ambiental e ambas reforçaram as finanças durante a covid-19, pelo que desejam maior liberdade para prosseguir prioridades distintas.
O que esperar no futuro? A dissolução da aliança 2M poderá conduzir a indústria de transporte de contentores, a prazo, para uma guerra de preços. Trata-se da mais óbvia e evidente. Os analistas acreditam que a dissolução da 2M será apenas a primeira de várias mudanças em alianças neste mercado nos próximos anos.
Cenários apontam para 4 a 6 alianças, com ofertas muito distintas e adaptadas aos clientes, que gerarão uma maior perceção de concorrência, o que representará um desafio para as companhias de navegação em termos de preço. Por outro lado, os custos unitários poderão aumentar ligeiramente, pelo que ainda é dúbio que as taxas, a longo prazo, atinjam os níveis pré-covid.
A que devemos estar atentos? Embora as mudanças sejam, aparentemente, positivas para os proprietários da carga, existem riscos associados que terão de ser monitorizados. Quantas viagens semanais o fornecedor oferece, que impacto haverá no tempo de trânsito, se resultará em rápidas alterações tarifárias, como 2017, qual o melhor prazo de tarifas para o seu negócio ou como garantir que a sua cadeia de abastecimento se adapta a estas mudanças, são algumas das questões que devem ser equacionadas.
É assim fundamental alocar recursos suficientes para que a gestão de risco seja correta e se evitar possíveis dores de cabeça, bem como posicionar-se melhor do que os seus concorrentes.
Um “divórcio” que ainda fará correr muita tinta e que, verdadeiramente, não sabemos o que resultará das águas agitadas em que vamos navegar.
Sara Monte e Freitas, Partner | Expense Reduction Analysts
Excelente partilha!
O shipping de patas para o ar, o mercado internacional em constante mutação, muita incerteza do que nos espera num futuro próximo.
Parabéns pelo texto. É mesmo assim .