As estatísticas da colheita de algodão para a época de 2022/2023 apontam para um volume semelhante ao da época passada, num valor superior a 5 milhões de toneladas, mas a quantidade de algodão em caroço entregue pelos agricultores aos centros de compras no final de fevereiro, registou um decréscimo comparando com o ano passado, avança o Sourcing Journal, citado pelo Portugal Têxtil.
Terry Townsend, ex-diretor executivo do International Cotton Advisory Committee, acredita que, tendo em conta os dados atuais, a Índia irá produzir menos algodão, o que pode justificar o aumento dos preços. Afirma com “uma certeza praticamente matemática” que a colheita deste ano será “muito” mais baixa do que a do ano passado, estimando num valor mais próximo de 4,3 milhões de toneladas.
Um dos fatores para este decréscimo prende-se com as alterações climáticas. As fortes chuvas afetaram os estados indianos de Gujarat e Maharashtra e as plantações. Em Haryana e no Punjab gerou-se uma praga de lagarta rosada que causou estragos significativos pelo segundo ano consecutivo. Além de tudo isto, há ainda o problema das sementes de baixa qualidade, com baixo sucesso de germinação.
Perante estes desafios, os agricultores estão a mudar o seu foco para outras culturas, e este pode ser outro dos motivos para a diminuição da produção, segundo Crispin Argento, diretor-geral da The Sourcery. “Para quê cultivar algodão? É um mau negócio”, salienta.
Embora a Índia tenha sido um dos maiores exportadores mundiais de algodão em 2011/2012, as exportações estão em queda há uma década. Terry Townsend acredita que o país será um pequeno importador líquido de algodão este ano, e que as importações deverão ser “significativamente” maiores do que as exportações em 2023/2024. O responsável considera que não há nada “inerentemente bom ou mau” nas importações. No entanto, para uma indústria têxtil acostumada a um fluxo constante de algodão doméstico, a transição “provavelmente será difícil”, uma vez que as fábricas na Índia estão habituadas a comprar na hora, enviando “um camião a um armazém para recolher, hoje, algodão suficiente para a fábrica trabalhar amanhã”. Por sua vez, as importações podem levar meses.
Terry Townsend mostra preocupação pelo facto de as principais entidades na Índia estarem “a negar” o que entende ser um desastre iminente. “É uma vergonha para o governo. É uma vergonha para a Cotton Association of India e para outras organizações”, acrescentando ainda que “as pessoas ainda afirmam que, de alguma forma, os agricultores colhem algodão, mas não o estão a entregar aos centros de compra porque estão à espera de preços mais altos e que, magicamente, nos últimos meses da época, os produtores de algodão irão trazer esse algodão em caroço”.
Ainda assim, as preocupações de Terry Townsend não são transversais. Keshav Kranthi, cientista-chefe do International Cotton Advisory Committee, indica que “embora tenha havido um declínio nas chegadas de algodão, não há escassez de algodão que possa causar preocupações às fiações”.