As paletes e sua família de soluções para movimentação de matérias primas e bens são tão usuais que se tornaram praticamente invisíveis, mas são o ponto de contacto entre o que se quer movimentar e expedir e os vários modos de transporte. É sobre este mercado, os atuais desafios e a evolução expectável em termos de soluções que conversámos com Miguel Correia, managing director da Rotom Portugal. A empresa celebra em setembro 15 anos de atividade e em 2022 faturou 7.1 milhões de euros.
SCM – A Rotom perspetivava 2023 com bastante otimismo, especialmente depois das aquisições feitas pelo grupo, que vos permitiriam diversificar serviços, alargar o campo de atuação… quase no fim do primeiro semestre, que balanço é possível fazer? 2023 está a ser um ano bom?
Miguel Correia – O primeiro semestre de 2023 está a ser positivo e vai terminar em linha com o período homólogo de 2022, o que atendendo à descida dos preços em alguns produtos considero um excelente resultado. Temos conseguido aumentar a quantidade de unidades vendidas para compensar a descida de valores que já era expectável com a queda da inflação. Relativamente aos alugueres e serviços temos uma subida face ao ano passado o que nos ajuda nas margens. No que diz respeito à atividade propriamente dita temos um acréscimo dos pedidos nomeadamente nos setores alimentar, bebidas, farmacêutico, turismo, mas uma quebra em outros sectores da indústria nomeadamente de bens não essenciais, explicada pela quebra do consumo das famílias também nestes artigos.
A vossa atividade ressentiu-se com a inflação e com estes “solavancos” que se têm feito sentir nas cadeias de abastecimento? De que forma e em que áreas?
Sim, naturalmente. A inflação que as matérias primas como madeira, plástico e metal sofreram no ano passado estão neste momento num sentido inverso, sendo que os preços tendem nos últimos dois meses a estabilizar na Europa. Temos trabalhado no sentido de incrementar a quantidade, e o mercado atual tem permitido subir volumes, isto porque Espanha não está a comprar tanto quanto é habitual, sendo que no pico do Verão vão escassear paletes. É cíclico e irá acontecer. Daqui sugiro às empresas que estabeleçam acordos de fornecimento, a Rotom dá compromisso, respeitando o euwid, seja na compra ou na venda. Somos transparentes e garantimos um serviço de entrega que permite assegurar os ativos aos nossos clientes nos momentos de maior escassez, isto é uma mais valia para não faltarem paletes na linha de produção.
Do ponto de vista estratégico, como olham para o segundo semestre e por onde passam os vossos planos de investimento?
No segundo semestre temos já garantidos vários acordos de aluguer de palotes e caixas em plástico para a vindima, o mercado vinícola cada vez conhece melhor o serviço da rotomrent.pt. Estamos muito satisfeitos porque temos milhares de unidades já reservadas para este efeito. O acréscimo de alugueres está assegurado pelos contratos estabelecidos. Também temos centenas de racks amovíveis(mobile racks metálicos) preparados para entrega em 24h, que normalmente nos são solicitados nos picos de atividade das épocas do Verão e na preparação da campanha de Natal. A nossa loja online rotomshop.pt teve um aumento até à data de +74% face ao mesmo período de 2022, portanto o eCommerce continua a ser um canal alternativo e de sucesso.
Relativamente aos investimentos previstos, estamos a aguardar a resposta à nossa candidatura ao PRR no âmbito da descarbonização, o pacote de investimento previsto para este ano são 650 mil euros em maquinaria, na robotização, conversão de resíduos em biomassa, energias renováveis, num plano de ação que permitirá uma redução drástica do abatimento de árvores porque conseguiremos reutilizar muito mais madeira usada e paletes partidas e convertê-las em paletes, o que são excelentes notícias para a nossa floresta. E, finalmente, os sócios do grupo pretendem avançar para a construção de um novo armazém na ALE Valado dos Frades. Estamos a dar os primeiros passos para aprovação do projeto, que prevê uma área de armazenamento de 4500m2 cobertos, o que permitirá uma maior eficiência nas nossas operações. Vamos passar a ter 18 mil m2 disponíveis somente nesta base. Relativamente a aquisições de empresas, o grupo tem feito várias na Europa, em Portugal estamos atentos ao mercado, existem vários targets na área das embalagens reutilizáveis, serviços de logística inversa, paletes usadas, fabricantes de paletes novas… vamos ver se temos notícias positivas em breve. A Waterland (private equity) que detém 51% do grupo Rotom, está a investir no crescimento do grupo via aquisições e temos tido sucesso em compras estratégicas na Europa.
A sustentabilidade e a economia circular na logística e na gestão da cadeia de abastecimento têm estado, e vão continuar a estar, nas agendas e de uma ponta à outra da cadeia. Como se posicionam perante estes temas? Que desafios, oportunidades e respostas vos suscitam?
O grupo tem dado passos consistentes no respeitante à sustentabilidade. Obtivemos o Ecovadis medalha de bronze ao nível Europeu e estamos atentos às diretivas europeias no que toca ao ESG. Já redigimos um código de conduta interno nesta matéria. Desenvolvemos uma calculadora da redução de CO2 que os nossos produtos e serviços permitem às empresas. Estamos a passar do paradigma de sentido linear para o circular a todos os níveis. Isto à parte os passos dados em sustentabilidade, como o investimento em painéis solares, empilhadores e carros 100% elétricos, a responsabilidade social com forte apoio às comunidades locais onde estamos inseridos. A promoção de alugueres e serviços que incentivam a reutilização. A proposta de um serviço de vendas consultivo que permite ao cliente receber um estudo gratuito do cenário atual das embalagens que utilizam, onde propomos a embalagem ideal, mas também a possibilidade de desenvolvimento de embalagens retornáveis e a recuperação dessas embalagens. Temos implementado vários projetos de sucesso em empresas de renome nacional, com aforro em custos e benefícios na ótica da sustentabilidade.
Somente acrescentar que obtivemos a ISO9001:2015, fomos PME Líder22, temos licença industrial e de gestão de resíduos SIR, somos operadores económicos da DGAV para tratamento fitossanitario(vulgo HT), e finalmente renovámos a licença EPAL para reparação de europaletes(PT300). Somos os únicos habilitados a reparar estas paletes em Portugal e temos cada vez mais procura destes serviços.
E sobre as soluções que o mercado procura, que evolução têm sentido, tanto em termos de produtos como de serviços? Para onde caminhamos?
Nós nesta altura temos sido solicitados para propor aos clientes soluções de embalagens retornáveis e reutilizáveis. A título de exemplo, temos a decorrer um projeto de milhares de contentores plásticos dobráveis, com laterais para picking e interiores desenvolvidos à medida para transporte das peças dos clientes. Aqui, em vez do investimento repetido em caixas de cartão de um só uso, os clientes investem em ativos que podem ser reutilizados centenas de vezes em loop, e são retornáveis com a embalagem dobrada, aforrando imenso no armazenamento e transporte de retorno. Nós fazemos a venda ou aluguer destas soluções, ou seja, os clientes podem optar pela aquisição dos ativos ou, se não pretenderem investir, a Rotom aluga. Depois temos assistido ao incremento da procura de paletes de madeira e plástico sobretudo usadas, as de madeira propomos a reparação EPAL, e as plásticas podem ser reutilizadas. E também no metal estamos a vender/alugar roll containers/gitterboxes com oferta de serviços de manutenção(arranjos, troca de rodízios ou peças), na ótica da extensão da vida útil das embalagens. Finalmente com a 2Return e a Poolback propomos serviços de logística inversa, pooling, banco de paletes em toda a Europa. O mercado procura casa vez mais soluções sustentáveis e que permitam aforros, mas a prioridade é clara e urgente, reduzir emissões de CO2, evitar o desflorestamento agressivo e não sustentável. Na rotom as empresas encontram um parceiro que se preocupa com esta temática, e só colabora com parceiros que pensem da mesma forma, no respeito pelo ESG, pela sustentabilidade, na proteção do meio ambiente e do nosso planeta. Muito em breve, quem não tiver estas premissas e conseguir provar que está alinhado nesta direção estará fora do circuito. Em Portugal, algumas empresas e compradores, particularmente os da nova geração, já começam a ter esta exigência na seleção de fornecedores, acredito que estamos no bom caminho!
GRUPO ROTOM EM NÚMEROS
> 600 colaboradores
Presença em 11 países europeus
30 estruturas próprias
> 15 milhões paletes movimentadas em 2022
> 300 milhões faturação em 2022