Foi um fim de tarde marcado pela excelência, em Belém, junto ao Tejo, quando foram revelados os vencedores de 2023 dos Prémios de Excelência Logística (PEL) da Associação Portuguesa de Logística (APLOG) nas categorias Academia, Start-up e Empresas, e também o prémio Personalidade, atribuído pela associação a um profissional que pelas suas ações, projetos ou percurso profissional tenha contribuído, ou ainda o faça, pela e para a excelência na logística.
Depois de em 2022 a APLOG ter reformulado o conceito e abrangência do PEL, alargando-o a mais categorias, a Associação Portuguesa de Logística já revelou os vencedores de 2023 do que considera ter sido o ano 1 do PEL.
A iniciativa é dirigida a projetos na área da logística que, pela sua importância e excelência, tenham contribuído para promover o conhecimento e a eficiência das empresas. É a distinção do trabalho conjunto, que tenha resultado em projetos de sucesso, elevando a logística em Portugal, pelo que Raul Magalhães, presidente da direção da APLOG, na abertura, salientou a importância e abrangência das alterações introduzidas em 2022 nesta distinção anual realizada pela associação a que preside: “Entendemos que as startups seriam uma área de abordagem muito interessante, do ponto de vista de projetos da logística e da cadeia de abastecimento; que a academia é incontornável nesta matéria – e tem-no sido ao longo do trajeto da APLOG, desde os primórdios -, e que a logística e a gestão da cadeia de abastecimento em Portugal já tem histórico para começar a distinguir individualidades que do ponto de vista empresarial, académico ou do percurso profissional justifiquem destaque, pelo exemplo, pela capacidade e pelo valor que acrescentaram, não só à logística, mas às empresas ou às escolas onde estiveram envolvidas”.
Olhando para a edição de 2023 como o ano 1 do PEL, Raul Magalhães salientou que “as novas categorias têm o seu percurso para fazer, nem sempre fácil, nomeadamente nas startups” e revelou que só este ano a associação estabeleceu um protocolo com a PT Ventures no sentido de incentivar a apresentação e a disponibilização de projetos com impacto na logística. Mas também com a academia há um trabalho enorme para fazer, porque “hoje em dia há uma overdose de informação, imagino eu, nos institutos e nas universidades. E, portanto, identificar o PEL da APLOG, para quem não o conhece ou para quem não tem um “padrinho”, um “patrono” na escola torna-se bastante difícil de levar a efeito. Pelo que há aqui muito trabalho a fazer pois, repito, é o segundo ano que estamos a trabalhar estas novas categorias”.
Procurando envolver e motivar os profissionais presentes na cerimónia, Raul Magalhães lembrou o papel que todos podem ter na divulgação da iniciativa, porque “a logística ganha e o país também, por maioria de razão. Por exemplo, do lado do PEL Empresas, um trabalho que temos tido, não com muito sucesso, tem passado por desmontar a ideia de que no PEL Empresas só podem concorrer projetos de muitos milhões de euros, que envolvam grandes empresas, com grandes consultoras e com grandes investimentos. Isto é o pior que pode acontecer para um PEL que se deseja que seja significativo no sentido de melhorias no processo, na captação ou na capacitação de um conjunto de recursos humanos, que sejam passos significativos para que haja uma maior proximidade ao cliente, ou haja passos significativos no sentido de percebermos um pouco melhor uma estrutura de custos ou até mesmo que mais valor e mais-valias podemos dar a uma operação, a um produto ou a um serviço. E, por isso, também aqui pedia para que cada um de nós fosse embaixador, junto das entidades com que lidamos, no sentido de desmistificar um pouco esta situação, e dizer que realmente aquilo que nos interessa são projetos ou empresas ou instituições que tenham um percurso e um trajeto em que a logística e a cadeia de abastecimento têm sido determinantes para o sucesso, para a melhoria das condições dos seus colaboradores, para a melhoria do produto ou do serviço entregue aos seus clientes”.
Antes de ser revelado o vencedor na categoria Academia, cujo patrocinador é o Grupo Luís Simões, José Luís Simões, presidente do grupo, lembrou um tempo, o tempo em que tudo começou, e em que todas estas coisas eram simplesmente óbvias, desejando que “a Academia se dedique a criar valor aos negócios, a criar valor à sociedade, a criar valor na cadeia de abastecimento onde nós, no fim, operamos”. O líder icónico, que preside ao grupo com o seu nome, lembrou do alto dos seus cabelos já totalmente brancos, do seu saber de experiência feito e de quem percorreu caminhos nunca antes trilhados que “tínhamos muito mais conhecimento nos anos 90, porque sabíamos que não sabíamos. Agora achamos que sabemos e eu creio que não sabemos. Por isso, a Academia tem um papel determinante para nos colocar no caminho certo e para nos mostrar que podemos, e devemos, encarar as coisas com outro conceito e nada melhor do que alguém que vamos ter aqui mais tarde, para nos dizer e lembrar isso, porque ele teve esse privilégio. Nos anos em que tudo isto era pacífico, ele não era nada pacífico com estas coisas. Dizia que era o contrário e incitáva-nos, provocáva-nos, para sermos diferentes. E, graças a isso, foi possível fazer caminhos diferentes.”
Dados os recados, José Luís Simões focou-se no prémio que a APLOG estava prestes a entregar, sublinhando que o mesmo foi antecedido de discussão acesa “porque havia outras soluções e havia mais questões, mas esta solução data um tema que a mim me encoraja muito: a esperança. Sermos capazes de ver e acreditar. Sermos capazes de fazer coisas diferentes no futuro. E vimos isso no trabalho do vencedor: o João Carlos Simões Lopes, da Católica Business School”.
Sobre o projeto galardoado, João Lopes explicou que as redes envolvem uma série de organizações públicas, privadas, bastante diferentes umas das outras, que estabelecem relações inter-organizacionais entre si, mas que “apesar de ser uma rede, estas organizações nem sempre interagem em prol da criação de valor comum. E é precisamente aí que entra o papel do coordenador de rede: olhar para a criação de valor, não só do ponto de vista individual, de cada empresa, de cada organização, mas como um todo. Criar valor geral. E essa é a prioridade do meu trabalho, da minha tese”.
Na categoria Startup. o prémio foi para a DINGOO, com um ano e meio, mas que tem vindo a destacar-se na área da inovação e também da logística. Embora exista a ambição de ir para o mundo, a responsável da empresa não tem dúvidas que a base será sempre em Portugal. Neste curto tempo de vida, a empresa já está a trabalhar “não só no retalho alimentar, com grandes players de mercado, mas também na área não alimentar e também no canal HORECA.” Como linhas de força da empresa a responsável apontou a flexibilidade e o papel da inteligência artificial a trabalhar para a sustentabilidade e para a competitividade: “através do nosso modelo, o que tentamos é ser o mais eficientes possível, o mais sustentáveis possível. Não só para o cliente, mas também para o consumidor final”.
Na categoria Empresa, que conta com o patrocínio da LPR e onde o objetivo é distinguir projetos de empresas ou outras entidades que contribuam para o crescimento, rentabilidade, aumento de eficiência ou sustentabilidade das operações ou atividades logísticas, este ano houve apenas lugar a uma Menção Honrosa. Antes de revelar o projeto galardoado, Marques dos Santos, acompanhado de Flávio Guerreiro da LPR, salientou que será necessária uma reflexão conjunta, porque os critérios associados podem limitar demasiado as candidaturas: “porque só se procura projetos excelentes, inovadores, que praticamente sejam novidade, quando no campo de logística precisamos de olhar sempre para aspetos de melhoria contínua, aspetos de saltos de valor. Este ano tivemos um projeto candidato que, de acordo com os critérios, não poderia receber o prémio, mas que era injusto deixá-lo sem salientar o seu valor e o seu potencial, pela capacidade mobilizadora e pelo salto qualitativo enorme que deu à empresa, pelo que decidimos atribuir a Auchan Retail e ao Cost2Serve esta menção honrosa”.
Visivelmente satisfeito com a distinção, Nuno Matos, diretor de supply chain da Auchan Retail, concordou que “foi realmente um projeto que transformou a logística da Auchan, que estava cristalizada há quase 20 anos e que nos permite dar um salto, olhar novamente para o futuro, olhar para o mercado, para os nossos concorrentes com esperança e sentindo que estamos preparados para daqui para a frente, pelo menos na área da logística, sermos uma referência em Portugal”.
A finalizar, coube a Alcibíades Paulo Guedes revelar o Prémio Personalidade, decidido em conjunto pelos três órgãos da associação e atribuído por unanimidade. Referindo-se à personalidade escolhida como alguém sempre ligado à formação de graduados, de pós-graduados, de executivos, mas que em simultâneo sempre procurou uma aproximação à indústria, às empresas, à consultoria e à inovação, fundamentalmente porque “é alguém com uma atitude e um pensamento, muito inquieto, muito inovador e muito independente, sem nunca deixar de ser um homem da logística”, anunciou que a escolha recaiu sobre José Crespo de Carvalho, professor catedrático e presidente da comissão executiva do INDEG – ISCTE Executive Education.
Crespo de Carvalho, agradeceu aos membros da APLOG a distinção e a Alcibíades Paulo Guedes, “colega de sempre” pois, como lembrou, “acho que fomos os dois primeiros em Portugal a trabalhar estas áreas na Academia, um no Norte e o outro no Sul”.
Falando sobre o que influenciou e moldou a sua carreira, Crespo de Carvalho voltou a um primeiro momento, ainda em casa dos pais, em que na altura de escolher uma área para prosseguir os estudos, embora a mãe fosse pintora e ligada a Belas Artes, o pai, no meio do diálogo disse perentório: “só há um curso possível para um homem, é engenharia. A conversa acabou por ali e o X apareceu em engenharia”. A conversa com o pai matou qualquer outra aspiração, seguiu engenharia e a gestão só viria depois.
Igualmente importante e marcante no seu percurso, acabaria por ser a Prof. Isabel Themido, já falecida, que foi sua professora no Instituto Superior Técnico, que o levou pela primeira vez a entregar um exame em branco e com quem anos mais tarde acabaria por, em conjunto com o prof. Alcibíades Paulo Guedes, criar o primeiro mestrado português em logística, na altura uma iniciativa conjunta do IST, ISCTE e EGP.
Crespo de Carvalho enfatizou a importância da experiência e do saber que se vai acumulando e que lhe permite hoje, “ao olhar para uma operação ou para um problema de supply chain, por exemplo, distinguir à partida aquilo que funciona e aquilo que não funciona, independentemente de ser uma inovação ou não”. É a curva da aprendizagem.
Nos seus mais de 30 anos de carreira, considera dever um agradecimento a muitas pessoas, algumas na sala naquele dia, mas o pensamento de fundo vai sempre para os alunos. Os que já foram, os que o são e os que hão-de vir. E foi exatamente essa a tónica do seu discurso a encerrar: “este presente que hoje fizeram questão de me entregar não é meu. Este presente é deles e o resultado do trabalho que eu fiz com os meus alunos e ex-alunos. É para eles que vai o meu muito obrigado!”.
A APLOG aproveitou a ocasião para apelar aos diferentes atores e intervenientes na cadeia logística para a necessidade e importância de se criar um Dia da Logística, pelo papel que a mesma desempenha no funcionamento da sociedade em geral, e na economia e atividade das diferentes empresas em particular.
Em outubro de 2021, José Crespo de Carvalho foi o nosso entrevistado na rubrica “Out of Office”. Pode ouvir ou recordar essa conversa AQUI.
Excelente!