Com uma área equivalente a 22 campos de futebol, a fábrica da Carmo Wood, em Oliveira de Frades, é muito mais do que uma estrutura gigantesca. É um desafio aos paradigmas estabelecidos para repensarmos a relação entre tamanho e eficiência no setor da madeira em Portugal. Enquanto os olhos se maravilham com a grandiosidade do empreendimento, a mente é convidada a mergulhar numa reflexão, instigada pelo questionamento de João Figueiredo, diretor executivo da empresa: “A dimensão importa?”.

A fábrica de Oliveira de Frades da Carmo Wood é reconhecida por ser 100% circular em termos de economia de produto, o que “significa que a empresa adota princípios de economia circular, que é um modelo de produção e consumo sustentável, onde os recursos são utilizados de forma eficiente e os resíduos são reintegrados no ciclo produtivo, como novos produtos ou materiais”, explica João Figueiredo, diretor executivo da Carmo Wood. Este conceito é implementado através de processos integrados que transformam subprodutos da madeira em novos produtos. “A casca da madeira é utilizada para gerar um novo produto de casca ornamental. As aparas geradas durante a produção de decks são transformadas em aparas para camas de pintos. Os pequenos refugos de madeira, gerados em vários processos, são transformados em estilha”, exemplifica o responsável. Essa abordagem permite que praticamente todos os resíduos da produção sejam reaproveitados, minimizando o desperdício e maximizando a utilização dos recursos disponíveis. João Figueiredo destaca ainda que a fábrica é alimentada por um extenso sistema de painéis solares, fornecendo a energia necessária para as mais de 300 máquinas industriais presentes na unidade. A movimentação interna é realizada com camiões próprios, garantindo a eficiência logística e reduzindo o impacto ambiental.

Produção sustentável

No que diz respeito ao processo de produção, a Carmo Wood segue várias etapas desde a entrada da matéria-prima até à expedição do produto final. Conforme explica o diretor executivo, “é realizada uma triagem de qualidade, avaliando-se a sanidade da madeira, o seu aspeto visual, as quantidades e a qualidade em termos de parâmetros de resistência e outros critérios”. A madeira é então encaminhada para diferentes áreas de produção, dependendo do seu destino final, seja para agricultura ou para construção em madeira. Outro aspeto importante mencionado por João Figueiredo é o tratamento em autoclave pelo qual passa a madeira na fábrica da Carmo Wood. Este processo, que submete a madeira a altas pressões e temperaturas, remove as suas propriedades que servem de alimento para insetos e agentes xilófagos. “A durabilidade do material é exponencial após o tratamento, garantindo um produto de alta qualidade e resistência”, garante o responsável. Após esta etapa, os produtos estão prontos para serem expedidos. A empresa conta ainda “com explorações florestais próprias, o que significa que é altamente verticalizada, controlando desde a produção da matéria-prima até a aplicação dos produtos finais”, o que contribui para a limpeza, cuidado e gestão sustentável das florestas. O profissional ressalta que esta abordagem visa não apenas garantir a criação de postos de trabalho e rentabilidade, mas também assegurar a qualidade e o abastecimento contínuo de matéria-prima para as fábricas da empresa. “Além da exploração florestal, a Carmo Wood é conhecida por ser uma empresa de soluções. Isso significa que não se limita a vender apenas os produtos fabricados nas suas diferentes fábricas, mas também oferece serviços de aplicação desses produtos no cliente final”, ressalta João Figueiredo. Desta forma, a empresa está comprometida em fornecer soluções sustentáveis e de alta qualidade, ao mesmo tempo em que promove a preservação do meio ambiente e impulsiona o desenvolvimento socioeconómico. De acordo com João Figueiredo, “a Carmo Wood exporta para diversos mercados e também importa materiais de diferentes origens”. Um dos seus mercados estratégicos é o francês, onde a empresa possui um escritório em Bordeaux e um barco flutuante em madeira, abrigando uma equipa multicultural de 20 membros, composta por portugueses e franceses. Ademais, a Carmo Wood atende a mais de 43 destinos internacionais, incluindo Espanha, Itália, Chile e países do norte da África.

Disponibilidade da matéria-prima

Ao abordar os desafios enfrentados pela empresa durante a pandemia e a guerra na Ucrânia, João Figueiredo ressaltou que “como a empresa adquire madeira de diferentes partes do mundo, incluindo Ucrânia e Rússia, foi necessário realizar ajustes na fonte de abastecimento para mitigar as flutuações e assegurar o fornecimento contínuo de matéria-prima”. Nesta lógica, faz questão de mencionar “que Portugal enfrenta problemas na gestão e exploração das suas florestas. Existem várias questões que afetam a floresta portuguesa, tais como a falta de ordenamento florestal, a fragmentação das propriedades, o envelhecimento do tecido florestal, a predominância de espécies com menor valor comercial, a suscetibilidade a incêndios florestais, entre outros. Esses problemas têm impacto direto na disponibilidade e qualidade da madeira como matéria-prima”. É desta forma que João Figueiredo introduz a pergunta: “A dimensão (da fábrica) importa?”. Uma questão que levanta tantas outras sobre a sustentabilidade e a viabilidade económica do setor da madeira em Portugal, como por exemplo, “se as condições em termos de matéria-prima fossem melhores, como seríamos?” já que “a dimensão é fruto do crescimento sustentado num produto (madeira) que não é minimamente desenvolvido em Portugal enquanto matéria-prima”. Diante deste cenário, “a Carmo Wood teve de se tornar uma referência europeia mesmo sem ter acesso a uma fonte local de matéria-prima. Esse é um desafio significativo, mas a empresa conseguiu superá-lo graças à sua capacidade de adaptação e à proposta da estratégia logística que adotamos”, refere João Figueiredo. Enquanto a resposta para a sua pergunta está em aberto, a Carmo Wood continua a construir um futuro mais sustentável para a indústria da madeira, mostrando que é possível conciliar eficiência, responsabilidade ambiental e viabilidade económica.

Pode ficar a conhecer os investimentos realizados e os próximos passos a ser dados pela Carmo Wood, lendo o artigo integral na SCM 42.