Um Verão muito quente e uma seca sem precedentes estão a afetar o Canal do Panamá, o que está a causar problemas e preocupações ao comércio marítimo global e pode originar perdas de milhões de dólares.

As movimentadas rotas comerciais do Canal do Panamá estão a sofrer perturbações significativas devido à atual escassez de água, que afeta os trânsitos com destino a vários países do Pacífico e do Atlântico.

As atuais condições de seca obrigaram a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) a tomar medidas para mitigar o impacto da falta de água. Para conservar a água, o número de navios autorizados a transitar diariamente pelo canal foi reduzido. “Precisamos de muita água doce para manter as operações no canal”, afirmou Erick Cordoba, manager das Águas da Autoridade do Canal do Panamá (ACP). “Neste momento, temos algumas restrições quanto ao número de navios que transitam diariamente”. Normalmente passam pelo canal 35/36 navios por dia e com a atual situação a ACP só está a permitir a passagem de 32 navios por dia.

O Canal do Panamá é uma artéria crítica para o comércio marítimo global. Muitos navios de países como os Estados Unidos, China e Japão atravessam as eclusas do canal, que utilizam a água da chuva para elevar os navios até 26 metros acima do nível do mar. Cada navio consome cerca de 200.000 metros cúbicos de água doce, mas, devido à escassez de água, os navios maiores e com maior calado estão a enfrentar desafios, o que tem impacto na cobrança de receitas da ACP.

As condições de seca levaram a uma perda de cerca de dois metros de calado, dificultando a navegação dos navios maiores. Para se adaptarem a estas condições, as companhias de navegação foram informadas com bastante antecedência sobre as restrições de seca iminentes, permitindo-lhes ajustar as suas cargas em conformidade.

“Mantemos conversações com as companhias de navegação. Anunciámos com vários meses de antecedência que a seca vai ter algumas restrições, para que a companhia de navegação limite a carga que está nos navios de modo a cumprir a restrição que temos no canal”, explicou.

O Canal do Panamá também fornece água doce para consumo humano e, no total, utiliza 1,5 milhões de metros cúbicos por dia. Para fazer face à escassez, a ACP iniciou medidas de poupança de água, incluindo a reciclagem de água em bacias especializadas, para mover os navios. Além disso, suspendeu temporariamente a produção de energia hidroelétrica, dependendo agora dos mercados elétricos locais e das centrais térmicas para apoiar as operações do canal.

Enquanto a seca persistir, o Canal do Panamá deverá manter o limite máximo de calado em 44 pés, medidas imperativas para manter níveis de água ótimos até ao final do ano. Esta preparação é crucial para assegurar a continuidade do serviço, especialmente tendo em conta o agravamento previsto das condições de seca durante a próxima estação seca, que terá início em março de 2024.

“Neste momento, estamos na estação húmida e a precipitação está abaixo do normal, pelo que provavelmente no final deste ano não vamos atingir o nível máximo de ambos os reservatórios. Por isso, vamos começar a estação seca com níveis baixos nos lagos. As piores condições para o canal em termos de calado e em termos de abastecimento de água à nossa população vão ser no final da estação seca do próximo ano, em março/abril”, alertou o responsável.

O Canal do Panamá prevê uma quebra de receitas de cerca de 200 milhões de dólares até 2024, devido à redução dos trânsitos diários que está a ser foi obrigado a implementar.

Foto: EFE/Bienvenido Velasco