A produção mundial de calçado aumentou 7,6% em 2022 e ascende agora a 23,9 mil milhões de pares. De acordo com a informação divulgada pelo World Footwear Yearbook, a produção voltou aos níveis pré-pandémicos, sendo que nove em cada dez pares de calçado produzidos à escala internacional têm como origem o continente asiático. E a Europa? Neste caso é responsável por apenas 2,7% da produção mundial de calçado.

Com efeito, o setor de calçado mantém uma forte dependência da Ásia, responsável por 87,4% da produção mundial. A China perfila-se como o maior produtor: inverteu a tendência de queda observada nos últimos ano e aumentou marginalmente a sua quota em 2022, atingindo os 54,6%. A China e outros sete países asiáticos dominam os 10 principais produtores de calçado. Entre estes, o Vietname experimentou o maior crescimento de produção em 2022: mais 10,3% para 1500 milhões de pares produzidos.

A distribuição geográfica da produção de calçado permaneceu relativamente inalterada na última década, com a Ásia a dominar, respondendo por mais de 87% da produção mundial, a mesma percentagem de 2010. Não há evidências nos dados que comprovem movimentos relevantes de reshoring na indústria global de calçado, sendo que, como referido, a Europa atualmente responde por apenas 2,7% da produção mundial de calçado.

Desde 1985, o equilíbrio global mudou de forma significativa na indústria de calçado. Nessa altura, mais de 35% da produção mundial de calçado assentava na Europa, em particular em países como Itália (525 milhões de pares de sapatos produzidos em 1985), Espanha (205 milhões de pares), França (198 milhões de pares), Alemanha (171 milhões de pares) e Reino Unido (136 milhões de pares). Nas últimas quatro décadas, a produção de calçado na Europa caiu a pique. Em conjunto, estes cinco países deixaram de produzir 884 milhões de pares de calçado (quebra na ordem dos 70%). Apenas Portugal resistiu e desde 1985 a produção aumentou 50%, para 84 milhões de pares produzidos em 2022.

O domínio da Ásia

A preponderância da Ásia não é só na produção, mas também no consumo. Em 2022, o consumo asiático representou mais de metade (53,2%) do total mundial, ainda assim ligeiramente abaixo da participação registada no ano passado. Seguem-se América do Norte e Europa, com 15,9% e 14,9%, respetivamente.

A China continua a ser o principal consumidor de calçado, não obstante a sua participação para o total global ter descido para 17,9%. O consumo nos Estados Unidos teve um notável aumento de 12,7% o ano passado, recuperando a 2.ª posição no consumo, ultrapassando mesmo a Índia. A União Europeia, quando considerada como uma única região, representa o quarto maior mercado, com um consumo de 2 347 milhões de pares em 2022.

As exportações de calçado continuaram a aumentar e registaram um crescimento de 9% em 2022 (após um aumento de 7,4% em 2021), atingindo um total de 15,2 mil milhões de pares. Isso representa um volume de calçado exportado acima dos níveis pré-pandemia, mas ainda abaixo do recorde de 2014 (15,7 mil milhões de pares). Em termos de valor, as exportações mundiais de calçado atingiram um novo máximo de 175,2 mil milhões de dólares em 2022, marcando um aumento substancial de 16,1% em relação ao ano anterior. Nota de destaque para o crescimento de 42,9% registado na última década.

A China destaca-se como origem de mais de 60% das exportações totais. No entanto, a sua participação caiu mais de 10 pontos percentuais na última década, em favor de países como o Vietname, que emergiu como o principal beneficiário dessa nova equação, aumentando significativamente a sua participação de 2% para quase 10% nas exportações globais. O preço médio de exportação atingiu os 11,54 dólares o par em 2022, representando um aumento de 6,5% em relação a 2021. Na última década o crescimento ascende a 38,2%. Com um preço médio de 27,99 dólares, Portugal mantém o 2.º maior preço médio de exportação entre os principais produtores mundiais de calçado.

Para a APICCAPS, os dados do World Footwear Yearbook “expõem de forma crua a realidade da indústria de calçado a nível internacional”. “São números que nos preocupam. Quase 90% da produção mundial é assegurada pela Ásia”, recorda a Associação. “Não nos parece que seja sustentável”, razão pela qual “existe muita pressão relativamente a pequenos players como Portugal”.

“O nosso modelo de negócio é claro: queremos afirmar Portugal como uma referência no desenvolvimento de soluções sustentáveis, promovendo uma produção justa e responsável, na Europa, respeitando as convenções internacionais e os diretos do homem”, sublinhou ainda a APICCAPS.