A Mediterranean Shipping Company (MSC), através da sua divisão logística Medlog, foi selecionada como parceira estratégica da Renfe Mercancías, a subsidiária de transporte ferroviário de mercadorias pertencente ao Renfe Group, segundo avançou o The Loadstar. A decisão ocorre após um concurso internacional que também incluiu as empresas Maersk e CMA CGM na lista restrita de possíveis parceiros.

O Grupo Renfe afirmou que esta parceria é parte integrante de uma estratégia para assegurar a sustentabilidade a longo prazo da Renfe Mercancías, ao mesmo tempo que procura “expandir o nosso negócio e melhorar o nosso perfil como operador logístico, com uma forte presença nos portos”.

A empresa ressalta que os postos de trabalho dos 945 funcionários da Renfe Mercancías estão garantidos, oferecendo-lhes a opção de assumir cargos na nova entidade resultante da parceria ou em outras áreas dentro do grupo ferroviário. Contudo, a notícia da parceria levantou preocupações junto dos sindicatos, que a consideram uma “privatização disfarçada” da Renfe Mercancías.

Os detalhes financeiros exatos do acordo ainda não foram divulgados pela Renfe, mas relatos do jornal espanhol El Pais indicam que as negociações iniciais se centraram na criação de uma empresa em regime de joint venture 50:50 entre a Renfe Mercancías e a Medlog, cuja divisão de transporte ferroviário de mercadorias em Portugal é a Medway. O grupo MSC, sediado na Suíça, tem experiência no setor ferroviário de mercadorias na Península Ibérica, absorvendo a CP Carga, estatal de Portugal, em 2016, a partir da qual a Medway foi formada.

A medida surge num contexto em que a Renfe Mercancías enfrenta dificuldades financeiras, acumulando prejuízos de mais de 400 milhões de euros desde 2011. Apesar de registar lucros em 2019, principalmente devido à venda da sua unidade Logirail, a empresa enfrentou uma quebra de 38,4 milhões de euros no último ano, com uma receita de 231,7 milhões de euros.

A Renfe Mercancías mantém, no entanto, a maior fatia do mercado de transporte ferroviário de mercadorias em Espanha, tendo movimentado mais de 640.000 TEU no ano passado, apesar de uma diminuição de 4,3% em relação a 2021. Os desafios da empresa em equilibrar as suas finanças surgem num contexto de forte concorrência no setor, sobretudo por parte de outras formas de transporte, como o transporte rodoviário.

Para impulsionar a sua transformação ecológica, a Renfe Mercancías anunciou um programa de investimento de 122,7 milhões de euros, que inclui a aquisição de plataformas e vagões para o transporte de mercadorias via autoestradas ferroviárias, locomotivas elétricas de alta capacidade alimentadas por energia 100% renovável, sistemas de redução de ruído em vagões, sistemas de segurança ERTMS em locomotivas, bem como a digitalização e otimização de processos e serviços em centros de transporte de mercadorias.

Recentemente, a empresa recebeu um subsídio de 13,7 milhões de euros do Ministério dos Transportes, Mobilidade e Assuntos Urbanos de Espanha para apoiar os seus esforços ambientais. Por agora, a escolha da Renfe carece apenas de aprovação por parte do Conselho de Ministros de Espanha, que se encontra em processo de renovação, após as eleições legislativas.