A ausência de um hub de transportes ferroviário em Portugal pode vir a penalizar as mercadorias que transitam pela Europa devido às crescentes medidas protecionistas baseadas nas taxas carbónicas, de acordo com o Jornal de Leiria. Esta preocupação foi destacada por empresários e autoridades durante a visita do Ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva, a Leiria no final de julho, onde apresentou diversas iniciativas de fomento económico.

Num contexto globalizado, onde os custos de produção e mão de obra são comparáveis entre países, até mesmo uma discrepância de um único cêntimo na taxa de carbono entre o transporte rodoviário e ferroviário pode exercer uma influência significativa nas decisões tanto dos consumidores quanto das empresas.

Apesar dos investimentos em comboios de alta velocidade para passageiros, como a ligação entre Lisboa e Porto, Portugal ainda carece de uma ligação ferroviária convencional com destinos como Madrid ou França, o que é agravado pela adoção da “bitola ibérica”, mais estreita do que o padrão europeu.

A falta de infraestrutura ferroviária é especialmente preocupante para setores como o automóvel e plástico, que dependem de expedições regulares com custos logísticos significativos. Manuel Oliveira, secretário-geral da Cefamol – Associação Nacional da Indústria de Moldes, observa que “o transporte ferroviário pode ser parte da solução, mas obriga a um investimento nacional e estrutural, que levará o seu tempo”.

Já o presidente da NERLEI – Associação Empresarial da Região de Leiria, António Poças, acredita que “é imperativo que as empresas possam escoar os seus produtos, para o centro da Europa, por ferrovia. Na realidade, como temos alertado, o problema não é somente a sustentabilidade carbónica. Pode estar em causa, também, a aplicação de taxas por alguns países que, forçosamente, temos de atravessar, para dissuadirem o transporte rodoviário”.

O responsável sublinhou ainda que à medida que os consumidores se tornam mais conscientes da pegada ecológica dos produtos, este aspeto torna-se um fator de diferenciação crucial. Portugal, com a sua dependência quase exclusiva do transporte rodoviário, corre o risco de ser penalizado se não abordar prontamente esta questão. No entanto, António Poças ressaltou também que o transporte rodoviário está a caminhar rumo à “descarbonização” através da adoção de tecnologias como o hidrogénio e a eletrificação.

Quando questionado se o investimento numa infraestrutura ferroviária e numa plataforma logística, como aquela que a Câmara Municipal e a Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL) preconizam para a região, deveria já ter sido realizado e estar em funcionamento, Pedro Pimpão respondeu “há 20 ou 30 anos que deveria estar a funcionar”. O presidente da Câmara de Pombal destacou de forma veemente as “condições ímpares de acessibilidade” que a região detém para acolher plataformas logísticas, capazes de substancialmente reforçar a competitividade das empresas.

O responsável recordou que, na localidade de Carriço (Pombal), onde a CIMRL preconiza a criação de uma plataforma logística, convergem a Linha do Oeste, a A17/A8 com ligação ao IC8 à A1 e ao interior de Portugal e Espanha, bem como à Linha do Norte. “Com a proximidade do porto de Figueira da Foz, teríamos um hub logístico. O Governo, no âmbito do Portugal 2030, tem 66 milhões de euros para electrificar a linha do Oeste, das Caldas até à estação do Louriçal [Carriço], isso significa que a modernização da linha do Oeste vai trazer oportunidades para empresários e transporte de mercadorias”, afirmou. Na sua perspetiva, é imperativo ampliar a capacidade da Linha do Norte e preparar uma ligação a Madrid. A intenção de criar a plataforma logística será integrada pela CIMRL nas candidaturas ao Portugal 2030.

Manuel Oliveira enfatizou a necessidade de adotar uma abordagem de “menos velocidade e maior quantidade” como princípios orientadores para enfrentar os desafios da falta de infraestrutura ferroviária em Portugal. A iminente entrada da espanhola Renfe na rede ferroviária portuguesa é vista como uma oportunidade para introduzir concorrência saudável e soluções inovadoras, forçando “os outros a acelerar processos e a serem mais agressivos, no serviço e preços. Pode ser a acendalha, para desbloquear e ser um elemento positivo para acelerar o processo”, declarou.