O setor tecnológico, que hoje produz soluções para todas as facetas das nossas vidas (há uma app para tudo!), é ainda mais pródigo na criação de buzzwords, alimentando-se do hype por elas gerado. Houve tempos em que não se falava de outra coisa que não cloud computing, blockchain, depois big data, machine learning e, atalhando, sob pena de gastar todos os carateres do artigo, agora, temos a omnipresente (e omnisciente?), inteligência artificial (IA), que vem, simplificando, agregar tudo.
Mais uma buzzword da moda? É certo que sim. Que a salvação da humanidade está nas mão das IA, é o que parece. E o que ficará depois de todo este deslumbramento e frenesi? Não sei. Ninguém saberá, mas as potencialidades, para diversos setores, como o logístico, são enormes e entusiasmam-me. Afinal, confesso, até tenho uma app para as minhas corridas diárias!
Mas, vamos à logística, que é o que nos interessa. A gestão da supply chain end-to-end obriga a um processo integrado que inclui abastecimento, planeamento, produção e entrega do produto final ao cliente. A IA oferece autonomia, modelagem, capacidade preditiva e outras melhorias que podem reduzir atrasos, otimizar o planeamento de procura, bem como reduzir significativamente os custos.
De acordo com um estudo da Statista, feito junto de empresas de retalho globais, 49% dos inquiridos acredita que a inteligência artificial reduzirá os custos da supply chain, 43% considera que aumentará as receitas e, 44%, que a IA gerará aumento de produtividade. 40% considera também que a melhoria do processo de decisão, por via de melhor informação, é uma das principais vantagens.
O impacto final, dá-se nas contas. Segundo um relatório da Capgemini, o retalho poderia poupar até 340 mil milhões de dólares se a IA fosse usada em toda a cadeia de valor.
Impressionante. Mas, de que forma a IA impacta a eficiência e eficácia logística, poupando tempo, dinheiro e recursos, melhorando, em simultâneo, a qualidade do serviço prestado ao cliente? Parece-lhe uma quadratura do círculo? Na verdade, trata-se da integração de soluções tecnológicas já existentes, gerando ganhos em toda a cadeia.
Vejamos. A IA é usada para otimização de rotas, considerando fatores como condições de trânsito, climáticas e restrições de entrega, o que reduz os custos e melhora a pontualidade das entregas. A montante, prevê a procura com a análise de dados em histórico e tendências de mercado, o que permite otimização de planeamento de stocks, evitando ruturas ou excesso, prevendo o reabastecimento.
O GPS embarcado, de veículos de transporte e de mercadorias, evita perdas e roubos, a automação de tarefas repetitivas, como o processamento de pedidos, agendamento de entregas e verificação de documentos. A redução de erros humanos e tomadas de decisão baseadas em dados objetivos, a manutenção preventiva de veículos e equipamentos é aprimorada com a IA, que prevê a manutenção com base na análise de dados de sensores. Depois, redução de custos (mão-de-obra, combustível ou tempo de inatividade), proporcionada pela automação e otimização dadas pela IA podem reduzir significativamente os custos operacionais na logística.
De acrescentar ainda a adaptabilidade a mudanças que, na logística, são sempre imprevisíveis, como acontece nas variações da procura. A IA permite uma resposta mais rápida e eficaz a essas mudanças. Finalmente, a sustentabilidade proporcionada pela otimização da IA na logística contribui para a redução da pegada de carbono.
Um vasto conjunto de ganhos na supply chain end-to-end, através da integração de diversas tecnologias que a IA agora une e que começam a permitir previsibilidade, visibilidade e poupança em toda a cadeia de valor.
É certo que estamos perante uma buzzword da moda. Contudo, desta feita, ainda que não seja a salvação da humanidade, é, seguramente, uma revolução nas cadeias de abastecimento globais, integrando, de forma ‘omnisciente’ a informação que a logística já possui de forma mais esparsa.
Sara Monte e Freitas | Partner | Expense Reduction Analysts