7 de outubro de 2023 é mais um dia negro que fica marcado na história do longo conflito geopolítico entre Israel e a Palestina, com a invasão do grupo radical islâmico Hamas a um festival de música que decorria no país vizinho. Bloquearam três vias de fuga, abriram fogo em campo aberto, enquanto civis corriam na tentativa de salvarem as suas vidas, e invadiram abrigos antiaéreos lotados, assassinando quem lá se refugiava. Este massacre fez mais de 250 vítimas mortais, além de reféns.
O Hamas sequestrou vários civis e levou-os para a Faixa de Gaza onde ainda permanecem até ao dia de hoje. Entre eles encontram-se não só israelitas, mas também emigrantes de, pelo menos, 15 países, incluindo 13 franceses, oito alemães, cinco norte-americanos e dois mexicanos, segundo a RTP. Israel indica que o grupo terrorista tem em cativeiro 200 reféns.
Em resposta, Israel criou um cerco à Faixa de Gaza não permitindo a entrada ou saída de ninguém, e cortou o acesso a eletricidade, água e combustível. Esta medida está a dar origem a uma crise humanitária não só para os residentes, mas também para os reféns que lá se encontram desde o dia 7 de outubro.
De acordo com as Nações Unidas, até ao passado dia 12 de outubro, o Programa Alimentar Mundial (PAM) da ONU, juntamente com a United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees in the Near East (UNRWA), entregou pão fresco proveniente de “padarias ainda capazes de funcionar” e comida a mais de 175.000 pessoas em 88 abrigos na passada quarta-feira. No entanto, o PAM já alertou que as reservas de ajuda alimentar estão a esgotar-se.
Por sua vez, a agência de saúde da ONU declarou que os hospitais em Gaza estão “num ponto de rutura”, uma vez que contam com apenas algumas horas de eletricidade por dia. Estão ainda a ver-se forçados a racionar as reservas de combustível para suportar casos de extrema necessidade, em áreas de tratamento sobrelotadas. Os produtos médicos estão a escassear, e a capacidade de resposta está cada vez mais limitada. O cerco imposto por Israel está ainda a criar uma crise hídrica, com infraestruturas danificadas, falta de eletricidade para operar bombas, e fornecimento de água limitado.
Em Gaza vivem 50.000 mulheres grávidas que, neste momento, não têm acesso a cuidados de saúde essenciais ou água limpa, e cerca de 5.500 darão à luz no próximo mês. O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) está a preparar o fornecimento de medicamentos essenciais para partos seguros, e “kits de dignidade” para os abrigos da UNRWA, caso o cerco seja levantado.
Esse cenário não parece estar próximo, mas há uma esperança no horizonte. O único acesso à Faixa de Gaza que não é controlado por Israel é o posto fronteiriço de Rafah, junto ao Egito. Os EUA estabeleceram um acordo com o Egito, Israel e Qatar para que fosse permitida, através desta passagem, a saída de estrangeiros palestinianos com passaportes de outros países, incluindo cidadãos europeus e americanos. No entanto, após a divulgação do acordo, as autoridades egípcias recuaram, e anunciaram não autorizar a entrada de quem viesse de Gaza, e permitindo apenas criar um corredor para enviar ajuda humanitária.
Esta segunda-feira, 16 de outubro, ainda não há registo de que os comboios de ajuda tenham deixado a cidade de Al-Arich, a cerca de 40 quilómetros a leste de Rafah, pode ler-se no Jornal Público. Fontes de segurança egípcia indicaram que a passagem seria aberta ainda hoje, mas sem confirmação da hora. Ainda assim, segundo a Euronews, o Egito anunciou recentemente que o aeroporto de El Arish já está aberto para receber e reencaminhar ajuda internacional. A Comissão Europeia irá enviar um “envelope de ajuda humanitária” no valor de 75 milhões de euros para a Faixa de Gaza.
A Palestine Red Crescent Society divulgou um “apelo de emergência”, no valor de 127.891.750 dólares para ajudar a população que se encontra em Gaza, nomeadamente para providenciar cuidados de saúde, acesso a água potável e comida. Entre este valor há um montante alocado à logística, de 15.800.000 dólares, que contempla o restock de material médico em centros de serviços médicos de emergência, hospitais na Faixa de Gaza e Cisjordânia; a compra de medicação e equipamento médico; reservas de combustível para os veículos que se destinam a hospitais e centros de serviços médicos de emergência; e o aumento da frota de ambulâncias, acrescentando mais 30 veículos.
A organização criou ainda um plano operacional que, entre as várias medidas de ajuda humanitária, inclui o reforço de stock de material médico para 12 meses em armazéns centrais e locais na Cisjordânia e Gaza; o fornecimento a hospitais de kits de emergência, medicação, equipamentos médicos, de proteção individual, e descartáveis; a garantia de eletricidade para manter em funcionamento serviços de assistência; e assegurar os stocks em armazéns de produtos como colchões, cobertores, kits de higiene, almofadas ou aquecedores.
Foto: Mahmud Hams/AFP