Estão convulsos os mares para o comércio marítimo global, com os principais armadores a suspenderem a passagem das suas rotas no Mar Vermelho, na sequência de uma vaga de ataques recentes a navios mercantes a partir de portos do Iémen, pelos rebeldes Houthi, apoiados pelo Irão. Maersk, CMA CGM, MSC eHapag-Lloyd estão entre as companhias que já desviaram as suas rotas.
Na sequência destes ataques, os Estados Unidos anunciaram o alargamento das suas operações de proteção marítima no Médio Oriente em aliança com Estados árabes da região e vários países europeus. O anúncio foi feito pelo secretário norte-americano da Defesa, Lloyd Austin, em visita ao Bahrein, onde está estacionada a quinta Frota Naval dos EUA. Os países participantes na nova força incluem Reino Unido, Bahrain, Canadá, França, Itália, Países Baixos, Noruega, ilhas Seychelles e Espanha e irão efetuar patrulhas conjuntas no sul do Mar Vermelho e no Golfo de Aden.
À semelhança da Força de Trabalho 153, que já opera naquele país, a nova força de proteção destina-se a dar confiança às companhias de navagação de que os ataques dos Houthi serão dominados e que a rota do Mar Vermelho se mantém segura.“O que estamos a tentar fazer é fortalece-la, reforçá-la, e operacionalizá-la de uma forma que não tinha sido realizada antes destes ataques Houthi”, afirmou o porta-voz da Segurança Nacional dos EUA, John Kirby, também na segunda-feira.
Os ataques sucedem quando os navios navegam no estreito de Bad el-Mendeb na ponta sul do Mar Vermelho, quando se encontram ao alcance dos Houthi.
Desde o início da guerra, em outubro, que as ações militares dos iemenitas contra o comércio mundial têm aumentado, com mais de 11 ataques registados só desde meados de novembro. Ao reivindicarem os ataques, os Houthi afirmam estar a atingir empresas, empresários e transportes israelitas, ou produtos destinados a Israel, em protesto contra a guerra de Israel contra o Hamas, em Gaza.
Disrupções e subida de preços à vista
A maior parte dos principais serviços de transporte marítimo decidiu evitar a travessia do Canal do Suez, tanto para leste como para oeste, sendo o Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, a alternativa preferida. A região assiste agora a um aumento da atividade marítima, sendo de sublinhar que algumas companhias de navegação tinham previsto o Cabo da Boa Esperança como uma passagem alternativa ao Canal do Panamá. O efeito combinado do facto de duas das principais portas de entrada do mundo dos transportes marítimos sofrerem obstáculos significaria um aumento dos horários e dos tempos de trânsito, especialmente os da Ásia-Pacífico para a Europa e do Sudeste Asiático para a América do Norte, que poderão variar entre uma semana e três semanas.
O Canal do Panamá tem tido a sua quota-parte de problemas, com níveis de água muito reduzidos, devido a fenómenos climáticos como o El-Nino. Com um número limitado de faixas horárias para a travessia, o preço das mesmas tem sido exorbitante, começando por ser de 6 dígitos (em dólares americanos), mas ultrapassando frequentemente os 7, o que constitui mais um acréscimo aos custos.
Algumas companhias de navegação impuseram a sobretaxa do Panamá para operar numa rota alternativa, de modo a fazer face aos efeitos do aumento dos custos – o Cabo da Boa Esperança, o Estreito de Magalhães e o Canal do Suez foram considerados alternativas. Com a paralisação das passagens através deste último, que é uma porta de entrada fundamental por direito próprio, a cadeia de abastecimento global está à procura de soluções alternativas.
Entretanto, segundo a Container News, o Índice Global de Pressão da Cadeia de Abastecimento (GCSPI) registou um valor de 0,11 em novembro de 2023, o seu primeiro valor em território positivo desde janeiro de 2023. A continuação das pausas e suspensões deverá afetar os preços de base da maior parte dos segmentos de carga.