Os ataques perpetrados no Mar Vermelho pelos rebeldes Huties do Yemen, pretensamente realizados em solidariedade com o povo Palestiniano que tem sofrido com o conflito entre Israel e o Hamas em Gaza, estão longe de cessar e estão a ter forte impacto no comércio internacional, afetando uma das rotas comerciais mais importantes do mundo, onde circula mais de 40% do comércio entre a Ásia e a Europa.

Este conflito tem levado a que a Europa tenha vindo a sofrer atrasos na entrega das mercadorias, custos energéticos mais elevados e o ressurgimento do aumento da inflação (+0,7 %), originando um persistente aumento dos preços dos bens.

Em condições normais, 15% do tráfego marítimo mundial circula pelo Mar Vermelho, o que o torna uma das rotas navegáveis estratégicas mais importantes do mundo. Em 2022 circularam no Mar Vermelho 123,5 Milhões de Toneladas métricas de mercadorias e mais de 22000 navios. 12% do volume de comércio marítimo mundial de petróleo usa esta rota e a quantidade de crude que passa pelo canal de Suez aumentou 60% desde 2020, entre outros motivos, porque a Europa tem vindo a importar petróleo dos produtores do Médio Oriente desde que impôs sanções à Rússia no seguimento da invasão da Ucrânia.

Agora, muitos Armadores, apesar dos custos acrescidos, optam pela rota alternativa circunavegando o Continente Africano, evitando a rota do Mar Vermelho, uma opção que obriga a percorrer uma distância consideravelmente maior, provocando atrasos na entrega das mercadorias nos destinos.

NOVOS PRÉMIOS PERANTE NOVOS RISCOS

O custo do Transporte Marítimo aumentou entretanto 170%, o que fez disparar os alarmes dos exportadores. Estes custos adicionais de exportação podem ser identificados e assumidos no curto prazo pelas Empresas, no entanto há outros custos que são muito mais incertos e de difícil planeamento, como os custos relacionados com as Coberturas dos Seguros, em particular a Cobertura de Guerra.

Esta área Geográfica em particular a zona do Yemen, já está classificada como uma “zona excluída” das coberturas de guerra para os seguros de cascos dos navios. Significa que os barcos que navegam nessas águas têm que pagar um Prémio adicional para garantirem cobertura no caso de ocorrer um sinistro derivado de conflitos bélicos.

Desde dezembro, data em que o conflito se agravou, aumentaram exponencialmente os prémios adicionais exigidos pelas Seguradoras para manter ou reativar esta cobertura. Esta situação não só tem vindo a afetar o seguro de cascos, mas também os seguros das mercadorias transportadas. De há algumas semanas para cá, os subscritores do mercado segurador de Londres começaram a emitir “notas de cancelamento” da cobertura de guerra para esta zona geográfica.

Apesar de neste momento ainda ser possível reativar esta cobertura mediante o pagamento de prémios adicionais, se o contexto local se mantiver, poderemos chegar ao ponto de não se conseguir contratar de todo. No que diz respeito à cobertura de P&I, na passada semana todos os Clubes do Grupo Internacional bem como outros fora deste emitiram avisos de cancelamento de cobertura para todos os transportes naquela região, sem possibilidade de reativação.

Este é apenas o início de uma crise marcada pela incerteza quanto ao curso e duração dos acontecimentos numa das rotas chave do tráfego marítimo global, que de acordo com Port Watch (ferramenta de análise do tráfego marítimo desenvolvida pelo FMI e a Oxford U.), viu diminuir em 46% o tráfego de mercadorias, afetando drasticamente o itinerário mais rápido entre o Mediterrâneo e a Ásia.

José Afonso, Senior Associate – Corporate Risk & Broking