Os componentes automóveis apresentaram uma ligeira subida de 0,3% em janeiro, face ao seu homólogo, atingindo os 1.047 milhões de euros. Sozinhos, foram responsáveis por 16,4% das exportações nacionais de bens transacionáveis, que também apresentaram um crescimento de 0,4%, mas José Couto, presidente da Associação de Fabricantes para a Indústria Automóvel (AFIA), revelou ao ECO a sua preocupação para com o mercado, em parte devido à retração das encomendas de veículos elétricos.

“Estamos à espera que a produção de automóveis encolha. O feedback que temos neste momento dos nossos clientes é que o mercado pode encolher, nomeadamente na Europa. Deixámos de crescer a dois dígitos [as exportações subiram 14% em 2023, para um valor recorde de 12.433 milhões de euros] e a nossa melhor expectativa neste momento é que em todo o ano se possa crescer à volta de 5%. O mercado está a encolher, há uma diminuição também nalguns casos até da produção de automóveis elétricos, que baixaram as vendas”, revelou à fonte.

Falamos de um universo com cerca de 63.000 trabalhadores, que procuram manter para fazer face aos possíveis desafios do futuro, e cuja redução consideram que dificilmente será revertida: “vamos ter de adaptar o chão-de-fábrica, aquilo que acontece na produção, a este recuo. A tentativa é manter sempre o aparato industrial, quer ao nível da mão-de-obra quer dos equipamentos. Acabámos o ano com 63 mil trabalhadores – o mesmo efetivo que tínhamos nos dois anos anteriores –, embora tenhamos crescido 14% nas exportações. A não ser que exista uma queda significativa, seremos capazes de manter este número entre os 62 e os 63 mil trabalhadores. É importante que se mantenha porque o investimento destas 350 empresas em recursos humanos é significativo. A partir do momento em que se perde, é difícil de recuperar”.

Apesar de tudo, a vontade da AFIA é de ver os números das exportações baixarem, desde que isso signifique que a produção passe a ser usada em Portugal. A associação também desafiou a Autoeuropa a aumentar a compra de componentes nacionais, visto os seus valores atuais serem comparativamente baixos face à realidade nacional.

Autoeuropa
A Volkswagen Autoeuropa estipulou como objetivo para 2024 uma produção de 230.550 veículos, um crescimento de 4,7% face às 220.000 unidades de 2023, e próximo da produção de 2022, com 231.000 unidades. Antes da pandemia, a fábrica portuguesa produziu mais de 250.000 automóveis (dados de 2019).

Apesar da expectativa de aumento de produção, a fábrica irá parar no verão por seis semanas, mais do que a habitual paragem durante o mês de agosto. Segundo avançou uma fonte ao Expresso, a fábrica será renovada para receber a versão híbrida do Volkswagen T-Roc, e “vai haver alterações estruturais na fábrica”, sendo que alguns trabalhos de adaptação já tiveram início, nomeadamente na secção de pintura, que será “ainda mais amiga do ambiente”.

Segundo as mesmas fontes, os trabalhos de remodelação da fábrica vão já deixar a linha de montagem apta para a produção do modelo elétrico que se seguir, no entanto, ainda não existem datas para isso acontecer.

Stellantis Vigo
A retração das encomendas na indústria automóvel já se sentiu também no país vizinho, com a Stellantis Vigo a ter suspendido a produção do turno da tarde no passado dia 22 de março, em resposta à diminuição da procura dos novos Citroën C4 e C4x. A reativação deste turno foi publicada recentemente, estando prevista a sua reabertura para o dia 6 de maio, e espera-se que consiga recuperar o turno noturno, estando esta decisão dependente da evolução dos mercados. Caso o faça, poderá atingir o programa de produção de 94 mil unidades por ano para 2024.

Devido a um problema no abastecimento de peças, a fábrica do país vizinho parou durante toda a Páscoa, e retomará a produção na segunda-feira, dia 1 de abril, antecipando uma produção de aproximadamente 5 mil carros no próximo mês, trabalhando apenas com um único turno, de segunda a sexta-feira.

O problema de abastecimento não foi especificado, mas especula-se que seja devido aos bloqueios no Mar Vermelho por parte dos rebeldes Houthi. No início do ano, Ignacio Bueno, diretor da fábrica de Vigo, já tinha alertado que começavam a sentir os impactos do desvio das rotas, do Canal do Suez para o Cabo da Boa Esperança, aumentando o tempo de transporte em até cerca de duas semanas (ida e volta). As peças mais afetadas foram as caixas de velocidades, compressores e elementos do interior dos veículos.

Vários fabricantes europeus, entre os quais também se incluiu a Stellantis, tiveram de recorrer ao transporte aéreo para transportar componentes estratégicos, de modo a evitar paralisações fabris, tal como foi o caso da escassez de chips durante a pandemia.

A ANFAC – Associação Espanhola de Fabricantes de Automóveis e Camiões, destacou em comunicado que “depois das graves crises dos microchips e guerras, o setor tem uma maior flexibilidade quando se trata de lidar com tensões na cadeia de abastecimento. É assim hoje que marcas, fornecedores e companhias marítimas têm procurado as melhores alternativas para que o bloqueio do Mar Vermelho não produza paragens na produção, mas antes ligeiros atrasos ou abrandamentos nos ritmos de atividade”.

Em fevereiro de 2024, as vendas de automóveis novos na União Europeia aumentaram em 10,1%, e a quota de mercado de veículos elétricos permaneceu estável nos 12%. Os modelos a gasolina mantiveram a liderança como a escolha mais popular entre os compradores, seguidos pelos híbridos-elétricos. As vendas de diesel caíram na maioria dos principais mercados, exceto na Alemanha.