A Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias (APEF) emitiu um comunicado a culpabilizar a falta de incentivos para o setor ferroviário, relativamente à queda superior a 10% verificada no transporte ferroviário de mercadorias nos primeiros quatro meses do ano, face ao período homólogo.
De acordo com o comunicado partilhado com a Lusa, a associação considera que “as políticas implementadas nos últimos anos levaram a uma quebra no transporte ferroviário de mercadorias superior a 10%”, e estima que, deste modo, deverão existir mais 1.600 camiões por mês nas estradas portuguesas a transportar mercadorias que usavam a ferrovia, resultando em mais 20.000 camiões por ano nas estradas.
A APEF considera que esta quebra no transporte ferroviário de mercadorias é “uma consequência das políticas do setor e da má planificação e execução dos investimentos”, e alerta que as metas de descarbonização assumidas no Acordo de Paris “estão comprometidas”.
“A avaliação dos impactos das políticas públicas para o transporte de mercadorias conclui que os últimos anos foram ‘marcados por incentivos públicos ao transporte de mercadorias por rodovia e com maior pegada carbónica e por medidas lesivas da competitividade do transporte ferroviário’”, avançou ainda a APEF à fonte.
A associação considerou que as causas para esta inversão na tendência são as recentes descidas de taxas de portagem nas estradas, suportadas pelo Orçamento do Estado; os aumentos superiores a 20% nas portagens nas taxas de uso do caminho-de-ferro no último ano; a redução da carga fiscal aplicada aos combustíveis fósseis sem que seja atribuído apoio ou redução para os custos da energia elétrica e dos combustíveis usados na ferrovia.
Para além destas medidas, considerou que o encerramento do Terminal de Contentores da Bobadela levou a aumentos dos custos globais de operação para os exportadores, e que os atrasos nos prazos estipulados para a execução das obras ferroviárias – nalguns casos com mais de quatro anos -, estando a principal linha de exportação, a Linha da Beira Alta, encerrada para obras desde abril de 2022, quando era suposto ter reaberto em novembro do mesmo ano.
“Sem uma alteração profunda da política de incentivos, privilegiando o transporte por ferrovia, conforme assumido nos diferentes acordos e pactos assinados por Portugal referentes à descarbonização da economia, estaremos perante um cenário em que quando as obras forem inauguradas, depois de centenas de milhões de euros investidos, teremos menos transporte ferroviário do que com a antiga infraestrutura”, destacaram os operadores ferroviários de transporte de mercadorias.