O volume de carga expedido pelas empresas de e-commerce Temu e Shein está a exercer pressão sobre o setor de transporte aéreo de carga, fazendo disparar os preços e alterando as rotas comerciais. O alerta é dado pela revista norte-americana Forbes, segundo a qual os dois sites chineses movimentam diariamente o equivalente a 88 aviões Boeing 777.
Ambas vendem diretamente produtos fabricados na China, evitando intermediários, o que lhes permite praticar preços mais baixos. No entanto, para cumprirem prazos de entrega igualmente baixos dependem intensamente do transporte aéreo, estimando-se que, em conjunto, enviem cerca de nove mil toneladas de carga por dia. Esta situação tem impacto direto nas taxas de transporte aéreo, que dispararam: em maio, segundo a revista, a taxa média de carga aérea do sul da China para os Estados Unidos situava-se nos 4,37 euros por quilo, mais do dobro do registado em 2019.
Para traçar este cenário, a Forbes sustenta-se em declarações de responsáveis de várias empresas de logística norte-americana, nomeadamente o diretor de transporte aéreo da Xeneta. Segundo Niall van de Wouw, os volumes de carga dos dois sites “podem ser da mesma magnitude do maior transitário do mundo”: “Isto é muito invulgar. Não me recordo de uma ou duas companhias gerarem tanta procura. Este crescimento exponencial é um pouco assustador.”
“A Shein e a Temu têm uma sede contínua pelo transporte aéreo que não tem paralelo em algo que tenhamos visto”, reforça um analista em carga da Xeneta, Wenwen Zhang.
Por sua vez, o diretor da Cargo Facts Consulting, Guillermo Ochovo, sustenta que as duas empresas oferecem portes para encomendas a partir de um certo tamanho, dispondo-se a absorver os custos como uma forma de acelerar o seu crescimento nos Estados Unidos: “A Shein e a Temu dependem da carga aérea porque o seu modelo de negócio é a moda ultra-fast e precisam entregar os produtos imediatamente”, afirmou.
Em resposta, algumas empresas de logística, como a Atlas Air, e companhias aéreas como a Korean Air, estão a aumentar o número de voos e a reforçar a sua capacidade nas principais rotas.
Contudo, e de acordo com os responsáveis da Xeneta, há um outro problema associado a esta realidade: é que os aviões chegam aos Estados Unidos cheios, mas regressam à China vazios ou praticamente sem carga, o que aumenta os custos do frete aéreo.