Num ecossistema empresarial no qual a sustentabilidade é, cada vez mais, palavra de ordem, encontrar o equilíbrio entre a eletrificação e a eficiência operacional é essencial para garantir que as operações logísticas continuem a dar resposta(s) às necessidades de cada projeto.
Vivemos, de igual modo, uma era onde a inteligência artificial e a disrupção digital se entrelaçam nas questões mais rotineiras das nossas vidas – os negócios não são exceção. Operar de forma isolada é uma tática do passado e não podemos ignorar as vantagens que as interconexões de diferentes modos de transporte podem oferecer. A integração inteligente não só otimiza operações, como nos torna mais ágeis e resilientes diante flutuações imprevisíveis, mas habituais, do mercado.
Ao abraçar a intermodalidade e a multimodalidade não estamos a renegar a importância do transporte rodoviário de mercadorias. Estamos, sim, a elevá-lo a um novo patamar de eficiência e sustentabilidade. As estradas continuarão a ser uma parte vital da cadeia global, mas contarão com o apoio de uma rede diversificada de modos de transporte, trabalhando em harmonia para responder às exigências de clientes e consumidores finais.
Além disso, não podemos ignorar a faceta económica desta transformação. Os oscilantes custos de transporte que assolam a nossa indústria podem ser mitigados através da otimização de rotas, da redução de tempos de trânsito e do uso mais eficiente dos recursos disponíveis. A intermodalidade e a multimodalidade não são apenas conceitos abstratos, mas estratégias tangíveis para impulsionar a competitividade de todas as empresas.
No entanto, para realizar em pleno o potencial destas abordagens, devemos também abraçar a inovação de forma aberta e colaborativa, investindo em tecnologias de ponta, como sistemas de rastreamento avançados, algoritmos de otimização de rotas e plataformas de gestão logística integradas. Somente através da adoção proativa destas ferramentas podemos enfrentar os desafios do “amanhã” e prosperar num mundo em constante mudança.
Enquanto contemplamos este horizonte do transporte de mercadorias, vislumbramos uma paisagem transformada por inovações radicais e visões futuristas. Num mundo onde a disrupção é a norma e a corrida por eficiência e sustentabilidade é incessante, surge uma nova fronteira. Inspirado por visionários como Elon Musk e impulsionado pela determinação de países como a Suíça, o Hyperloop e o Cargo Sous Terrain estão a redefinir o que é possível no transporte de mercadorias.
À medida que viajamos pelas estradas sinuosas da mudança global, é essencial que permaneçamos na vanguarda da inovação. O Hyperloop, com a sua promessa de transporte de alta velocidade em tubos, e o Cargo Sous Terrain, com a visão de um sistema subterrâneo para o transporte de mercadorias, representam avanços audazes que merecem a nossa atenção e reflexão.
Desde que Elon Musk introduziu o conceito do Hyperloop em 2012, o mundo tem acompanhado de perto o seu desenvolvimento. Esta visão de transporte ultrarrápido, capaz de conectar cidades distantes em questão de minutos com velocidades superiores a 700KPH, tem o potencial de revolucionar não apenas a maneira como viajamos, mas também como movemos mercadorias à escala global.
Se é verdade que, no final de 2023, foi anunciado o encerramento de atividade da empresa devido a dificuldades técnicas, 10 anos e 450 milhões de euros de investimento depois, também é perfeitamente sabido que, da parte de Elon Musk, a última decisão que podemos esperar é a desistência. O mercado está igualmente atento e esperam-se “réplicas” deste projeto um pouco por todo o globo, desde os Países Baixos (Hardt Hyperloop) à China (CASIC).
Em paralelo, na Suíça, o projeto Cargo Sous Terrain está a pavimentar o caminho para uma abordagem totalmente nova no transporte de mercadorias, de uma forma mais realista, com o acesso ao sistema subterrâneo de carga a ser feito através de hubs que permitem carga e descarga totalmente automática de veículos. Ao enterrar tubos, este sistema visionário elimina o congestionamento nas estradas e nas cidades e, simultaneamente, reduz a pegada de carbono. Incorporando tecnologias de captura e armazenamento de carbono, e a funcionar a 100% com eletricidade proveniente de fontes de energia renováveis, o Cargo Sous Terrain representa uma visão holística e sustentável do transporte de mercadorias para as próximas décadas.
Estimativas das entidades OFROU e do ARE prevêem que a densidade do tráfego de mercadorias na Suíça aumente 31% até 2050, considerando que as atuais rotas de comunicações não podem absorver sozinhas esta taxa de crescimento e que a expansão ilimitada da infraestrutura de transportes não é possível. Desta forma, uma rede completa de 500 quilómetros será criada até 2045 entre o Lago de Constança e o Lago Léman, com ligações a Basileia, Lucerna e Tune.
É verdade que estas tecnologias ainda estão em fase de desenvolvimento e enfrentam desafios significativos, desde questões de segurança até custos de implementação. Porém, não podemos subestimar o seu potencial transformador. Ao abraçar o Hyperloop e o Cargo Sous Terrain, estamos a abrir as portas para um futuro onde a velocidade, a eficiência e a sustentabilidade são interligadas.
Como líderes nesta indústria vital, temos o propósito de explorar todas as oportunidades que se apresentam diante de nós. Os governos e as instituições devem desempenhar um papel ativo na promoção da intermodalidade e da multimodalidade, removendo barreiras burocráticas, incentivando a cooperação entre os diferentes modos de transporte e investindo em projetos de infraestruturas. Cabe à nossa indústria defender essa causa e trabalharmos em conjunto com os demais stakeholders para tornar essa visão uma realidade tangível.
Devemos ser visionários rumo ao futuro do transporte de mercadorias, investir na inovação e colocar cada projeto na vanguarda desta revolução em curso.
Ricardo Arroyo, Diretor de Transporte Rodoviário do Groupe BBL e Administrador da Lusocargo