Com o crescimento da legislação em torno da sustentabilidade no setor da moda, os custos para as marcas começam a aumentar, mas os dos produtos não tanto. Segundo avançou o jornal espanhol Modaes, a Europa já conta com mais de uma dezena de leis pela sustentabilidade neste setor, ou em processo de aprovação, e existe atualmente uma grande pressão para que as marcas adotem melhores práticas ambientais.

De acordo com a fonte, países como a França já se encontram a ponderar uma taxação sobre produtos que não cumpram determinadas características ambientais, e resta a dúvida sobre quem irá cair a responsabilidade: se à marca, se ao consumidor. A Modaes consultou vários operadores do setor da moda, que lhe indicaram que isto acabará por resultar numa maior pressão sobre os fornecedores.

“Se para para vender em França tivermos de pagar um imposto sobre determinadas peças de roupa, vão continuar a pedir-nos a mesma margem, por isso teremos de pressionar o fornecedor”, apontou uma das pessoas inquiridas, pertencente ao setor das compras de um grupo espanhol da grande distribuição de moda.

Baseando-se nos dados do Open Supply Hub, o setor da moda conta com uma rede de pelo menos 141.254 fornecedores por todo o mundo, tendo apenas em conta as fábricas que são declaradas pelas empresas, pelo que se espera que o número seja muito superior.

Em Espanha, o número de fornecedores de grandes grupos de distribuição diminuiu, devido ao aumento dos custos, embora a pandemia de COVID-19 tenha feito com que as marcas olhassem mais para um formato de nearshoring. Em oposição, os fornecedores têm apresentado quebras nas encomendas e um aumento da pressão sobre os preços praticados, o que, segundo avançou um fornecedor ao Modaes, “vai piorar, muitos vão acabar por apostar em setores que trabalham com uma margem maior e que lhes permite pagar mais pelas encomendas”.

“Avançar com esta transformação significa aumentar regularmente as exigências e os requisitos mínimos para fazer parte da nossa cadeia de abastecimento”, explica uma fonte da Inditex à Modaes, pelo que o gigante espanhol de retalho destacou a criação de uma plataforma online “de transparência e conhecimento” ao serviço da indústria, onde partilha alguns dos seus principais avanços como processos que requerem uma menor utilização de água e energia.

A diretiva Due Diligence, aprovada em maio pelo Conselho Europeu, responsabilizará as empresas por toda a sua cadeia de valor, transferindo para os seus fornecedores a obrigação de introduzir controlos e auditorias caso pretendam trabalhar com eles, impactando assim os fornecedores diretamente.

Ao mesmo tempo, as reduções carbónicas são outra pressão para as empresas, sendo que grande parte delas estipularam metas sustentáveis até 2030, ou até mesmo 2025. A fonte destaca que a chave para esta redução está nos processos de produção dos fornecedores. Como forma de “segurança”, os contratos de vendas a longo prazo aumentaram substancialmente desde 2019, quando apontavam 26%, para 43%, no ano passado, permitindo aos fornecedores investir com maior segurança nos seus processos e maquinaria.

De acordo com o último relatório da McKinsey relativamente à volatilidade na cadeia de abastecimento, “a natureza altamente competitiva do setor da moda significa que tanto as marcas como os fornecedores dão prioridade a soluções rápidas e simples em vez de acordos de longo prazo que exigem mais tempo e esforço”.

Sobre o aumento dos custos, fonte da Kiabi explica à Modaes que “normalmente, as grandes empresas de moda operam com margens apertadas e procuram manter a sua competitividade no mercado, pelo que qualquer aumento nos custos de produção ou fornecimento terá um impacto direto no preço final dos produtos”.

O aumento dos preços é uma das estratégias em que os grandes grupos de distribuição aposta, sendo que algumas marcas têm vindo a apostar em diferentes estratégias de modo a justificar os aumentos dos custos.