No coração do Sahara, sob um sol abrasador e por entre uma tempestade de areia, Nuno Santos, da McCormick, encontrou 10 valiosas lições para o dia a dia na supply chain. Nascidas da adversidade do deserto, estas aprendizagens são um convite para olhar os desafios do mundo empresarial e da gestão das cadeias de abastecimento numa outra perspetiva.
“Tu tens o relógio, mas eu tenho o tempo.” Com esta famosa frase Tuareg, começa a descontraída conversa com Ibrahim, dono de um Kasbah transformado em albergue no Sahara. Conversamos um pouco sobre as diferenças da vida em Lisboa e o quotidiano em Foum Mharech. Pergunta-me o que faço. Respondo que trabalho em Logística. “Aqui, para fazermos Logística, temos que atravessar o deserto,” diz-me. “Nós também, de outra forma,” respondo. Rimo-nos.
Uns dias depois, no meio de uma tempestade de areia, dou por mim com um desafio logístico. A estrada desapareceu com o vento. O horizonte é agora um manto de pó fino, sem direção à vista. Penso no quanto podemos aprender com a sobrevivência no deserto no nosso mundo profissional.
10 Lições do Sahara (quase todas aprendidas da pior maneira)
- Leva um GPS, mas prepara-te para navegar por pontos
Tanto nos desertos como no cumprimento dos nossos objetivos profissionais, muitas vezes, a estrada desaparece. Resta o foco no ponto de destino. Só assim se sobrevive a uma tempestade de areia. Esquecemos a estrada e ignoramos o caminho. Focamos apenas onde queremos chegar.
- Se estás mesmo perdido, PÁRA!
Para um barco sem direção, todos os ventos são contra. É comum no deserto começarmos a andar em círculos, por ausência de referências. O melhor é parar e respirar. E então começar de novo. Quase o mesmo quando temos projetos que parecem não ter fim.
- Equipa junta até ao fim
Numa zona arenosa, ficar preso com um veículo sozinho pode ser o fim da viagem. Mesmo que a equipa não esteja de acordo na rota, nunca se pode afastar, sob o risco de colocar todos em perigo. O mesmo numa negociação ou num projeto de transformação. Só é possível entregar com excelência com uma equipa unida.
- Dá ouvidos aos outros; eles provavelmente sabem mais que tu
“Nós sabemos”, “nós temos GPS”, “nós já cá estivemos”, “já fizemos”, “já vimos”. Assim começam tantas histórias com fim desagradável no Sahara. Se há algo que devemos aprender é a ouvir o simples pastor, que informa que vai haver uma tempestade, que há risco de derrocada na montanha, ou que simplesmente o caminho não é por aí. Quantas vezes não ouvimos o picker, o buyer ou o camionista, para descobrir que, no final, podíamos ter aprendido algo com eles?
- Pede ajuda, muitas vezes
É muito comum ficarmos numa situação delicada numa expedição porque achamos que somos capazes sozinhos. Achamos que no fim talvez tenha mais glória se for um caminho sofrido e solitário, “sem ajudas”! No deserto pode correr mal. A maioria dos casos trágicos são com alguém que quis fazer algo sozinho. Sempre e mais do que é preciso, pedir ajuda vai garantir que chegamos ao outro lado.
- Descansa, descansa, descansa
Quem vai para o Sahara com a romantizada ideia do ‘extra-mile’ normalmente fica em apuros “no meio do nada”. É muito fácil cair na tentação de não parar, conduzir sempre até ser de noite ou ir fazer bivouac a um sítio remoto que ouviram falar. Conduzir de noite no Sahara e o cansaço, normalmente, dão acidentes. E nessa situação, o meio mais próximo de resgate pode estar a três dias de caminho, principalmente numa tempestade de areia, em que não voam os helicópteros.
- Usa e abusa do humor
Não vai correr tudo bem. Vai sempre haver um percalço. Vai ser o humor que vai fazer a diferença entre um resto de dia ou viagem mal passada, ou uma história engraçada para contar. Mais do que o que acontece no deserto, é como falas sobre o que aconteceu.
- Celebra as vitórias
Celebrar as vitórias todas, sem exceção, deve ser uma prioridade absoluta. Celebrar que está reparado o furo, que está passada a duna, que está passado o massacre das pedras, que está mais fresco, que encontrámos gasóleo, que o vento acalmou. Só celebrando vamos conseguir no dia seguinte suportar isso tudo de novo. Poderá até fazer lembrar, quando terminamos um projeto, e na reunião de equipa dizemos “mas agora temos o próximo projeto, este já passou”. No deserto, não celebrar paga-se caro e, no dia seguinte, os desafios mais simples podem parecer intransponíveis.
- Comunicar e respeitar
Sem comunicação não se consegue cumprir com nenhum dos pontos acima mencionados. Sem respeito, nem vale a pena ir. Como no Supply Chain, o respeito pelas comunidades e aldeias, por mais remotas e pequenas que sejam, pela sua tranquilidade, costumes e hábitos, é a base de uma viagem sem percalços. Passar num 4×4 a alta velocidade a fazer pó numa remota aldeia é sempre uma má ideia.
- Se tens medo, vai na mesma
Muitas vezes não vamos ao deserto porque temos medo de uma série de circunstâncias que poderão hipoteticamente acontecer. Claro que devemos ir preparados e com planos B e C. Mas ir, é certamente melhor que ficar a pensar como seria. O mesmo na nossa carreira. Muitas vezes ficamos presos às artimanhas mentais que o nosso cérebro amigavelmente cria para nos proteger, mas é lá, “no nosso deserto”, que crescemos.
Nuno Santos, CI EMEA Logistics Manager | McCormick & Company
Artigo e reportagem fotográfica a publicar na edição de setembro da SCM.
Excelente benchmarkt logístico! Abraço, Nuno.
Abraço e obrigado pela partilha Nuno.
Fantástico meu querido amigo.
Excelente.
Parabéns
Excelente documentário e partilha de informação! Obrigado Nuno