Estão a ser envidados esforços para restabelecer a calma no Bangladesh, algumas semanas depois dos distúrbios civis terem posto rapidamente termo ao mandato de 15 anos da Primeira-Ministra Sheikh Hasina. Ainda assim, os mercados globais continuam alerta.

 

Tem-se verificado uma reabertura gradual das infraestruturas críticas que foram temporariamente encerradas devido à agitação política no Bangladesh. As empresas, em especial as fábricas de vestuário, foram fortemente afetadas pelos encerramentos, embora muitas tenham começado a retomar as suas atividades com a melhoria da situação no final da semana passada.

De acordo com um relatório, a indústria do vestuário estima uma perda funcional de cerca de seis dias de produção, embora o impacto total possa ser maior. O aeroporto sofreu um breve encerramento, tendo algumas transportadoras aéreas suspendido os voos. No entanto, as operações de e para Daca já foram retomadas Houve encerramentos de fronteiras que afetaram tanto a circulação de pessoas sem os devidos vistos, como o transporte de mercadorias. Contudo, as rotas de camionagem foram reabertas, aliviando o atraso que se tinha acumulado.

O porto de Chittagong também foi encerrado, causando um congestionamento significativo e atrasos na movimentação de contentores. Este congestionamento deu origem a uma acumulação de navios à espera de atracar mas espera-se que estes problemas melhorem à medida que a disponibilidade de mão de obra estabilize e as atividades normalizem.

“Tem havido uma especulação considerável sobre o potencial impacto nas exportações do Bangladesh, particularmente na indústria do vestuário”, explicou Judah Levin, Head of Research da Freightos. “Quando ocorrem perturbações como esta, as empresas que dependem fortemente de uma região específica podem começar a considerar diversificar as suas cadeias de abastecimento ou transferir alguns dos seus volumes para outro local. Já vimos isto acontecer antes, mas não tenho a certeza de que esta situação em particular vá desencadear um afastamento significativo do Bangladesh, dada a sua forte especialização na produção. O impacto será sentido, mas não espero que resulte num afastamento em grande escala da região.”

Os transportadores marítimos dependem cada vez mais de plataformas de transbordo como Singapura para as mercadorias destinadas ao Sul da Ásia, ao Médio Oriente e a outros destinos do Mar Vermelho. O Sul da Ásia, incluindo o Bangladesh e partes da Índia, já estava dependente do transbordo. No entanto, com mais mercadorias a serem reencaminhadas através destes centros – mercadorias que normalmente seriam enviadas diretamente – o congestionamento está a aumentar. Esta acumulação de volumes contribuiu para o aumento das taxas de frete marítimo desde maio. No início do ano, assistimos a um aumento significativo das taxas em todas as rotas marítimas e esta evolução recente continuou a fazê-las subir.

“Estas rotas inter-Ásia, que dependem dos mesmos centros de transbordo, sofreram de congestionamento. Além disso, a capacidade foi transferida destas rotas regionais para as principais rotas da Ásia para a América do Norte e a Europa, onde a procura e as tarifas eram extremamente elevadas. Esta mudança de capacidade fez subir ainda mais as taxas noutros mercados, incluindo o Bangladesh. Este padrão tem sido consistente em toda a região”, sublinhou Levine.

Assim, embora a agitação política no Bangladesh tenha exacerbado a situação, não é a única causa para estes aumentos de tarifas. “A extensão do impacto na carga aérea dependerá provavelmente da rapidez com que a situação do frete marítimo estabilizar, uma vez que isso determinará a pressão global sobre as tarifas da carga aérea.”