A Boston Consulting Group (BCG), em parceria com o Carbon Disclosure Project (CDP), elaborou o estudo “Scope 3 Upstream: Big challenges, simple remedies”, que indica que as emissões de carbono das empresas com origem na cadeia de abastecimento (de âmbito 3) foram, em média, 26 vezes superiores às emissões decorrentes de operações diretas (âmbito 1 e 2), em 2023.
Os setores que geraram mais emissões na cadeia de abastecimento foram os da indústria transformadora, retalho e dos materiais, registando uma pegada 1,4 vezes superior ao total de CO2 emitido na União Europeia em 2022.
“De um modo geral, as empresas têm vindo a lançar a implementação de várias iniciativas de descarbonização para se alinharem com as metas nacionais e europeias. No entanto, as emissões dos seus fornecedores e da sua cadeia de abastecimento, que são tipicamente as maiores fontes de emissões para grande parte das empresas, ainda não são encaradas com a mesma preocupação que as emissões diretas ou operacionais, pelo que, a maioria das organizações não tem desenvolvido estratégias sólidas e abrangentes de mitigação das mesmas”, refere Carlos Elavai, managing director e partner da BCG em Lisboa.
O responsável acrescenta que para o conseguirem fazer, as empresas têm de avaliar toda a sua cadeia de abastecimento, definindo iniciativas “realistas e eficientes” juntamente com os seus parceiros.
O estudo apresenta três fatores-chave para as empresas reduzirem as emissões da cadeia de abastecimento:
Implementação de um comité dedicado ao clima
As organizações devem implementar um órgão dedicado aos impactos ambientais da sua atividade, recorrendo a consultores externos especializados, e efetuar uma análise financeira do risco associado às emissões da cadeia de abastecimento, em articulação com o conselho de administração. Segundo os dados apresentados no estudo, as empresas que já tomaram esta medida têm cinco vezes mais probabilidade de ter objetivos referentes às emissões de âmbito 3, e uma estratégia alinhada com as metas globais de descarbonização.
Fomento do envolvimento dos fornecedores
A comunicação com os fornecedores e o seu envolvimento em questões ambientais é essencial para as empresas conseguirem gerir eficazmente as emissões da cadeia de abastecimento. O estudo destaca a importância dos dados de emissões de fornecedores, uma vez que contribui para que as empresas definam objetivos concretos, e instituam cláusulas contratuais e incentivos para que estes operem em conformidade com as suas estratégias de descarbonização. O relatório indica que empresas que envolvem os fornecedores na discussão de questões ambientais têm quase sete vezes mais probabilidade de ter objetivos concretos de redução das emissões de âmbito 3, e um plano de transição alinhado com as metas globais sustentáveis. Contudo, apenas quatro em cada 10 organizações adotam esta estratégia.
Definição e adoção de preços internos de carbono
Deve ser incluído nas decisões de negócio a definição de um preço interno de carbono. As empresas que adotam esta medida têm quatro vezes mais probabilidade de ter objetivos de mitigação das emissões da cadeia de abastecimento delineados, bem como um plano de transição estruturado alinhado com a meta que limita o aquecimento global a 1,5 graus centígrados. No que diz respeito aos investidores, devem exigir a divulgação dos riscos associados às emissões de âmbito 3, e à fixação do preço do carbono pelas empresas para promover transparência e execução de medidas.