Pelo menos 14 produtores de leite, entre os que fornecem atualmente a marca Pingo Doce através da empresa Terra Alegre, serão dispensados a partir de janeiro, segundo o ECO. A Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP) apelou aos responsáveis políticos, ao setor cooperativo, à distribuição e à indústria de lacticínios que assegurem mais estabilidade aos produtores através de contratos de longa duração, e com perspetivas de crescimento. 

A propósito dos 14 produtores que serão dispensados, a APROLEP indica que “a situação não resulta de qualquer falha por parte dos produtores, mas foi comunicado que o comprador pretende reduzir a quantidade de leite que adquire”.

A associação mostra-se surpreendida com esta decisão, uma vez que “passaram apenas dois anos desde que estes produtores foram convidados a fornecer esta cadeia alimentar com a expectativa de um contrato de longa duração, e perspetivas de crescimento”. Acrescenta ainda que “estes produtores arriscaram mudar de comprador para poderem aumentar a produção e ganharem uma dimensão sustentável para encarar os desafios do futuro. Fizeram investimentos e têm créditos para amortizar”.

O secretário-geral da APROLEP, Carlos Neves, em declarações à Lusa citadas pelo ECO, informou que, no conjunto, os produtores que serão dispensados tinham contratado um fornecimento de 20 milhões de litros/ano à Terra Alegre, variando o preço por litro “conforme o mercado”.

Por sua vez, a fonte oficial da Terra Alegre Lacticínios, indicou à Lusa que a empresa, “como é prática no setor do leite, revê os contratos anualmente em função da sua gestão de stocks existentes e das condições de produção e de mercado em geral”. Afirma ainda que “quando o exercício de planeamento resulta que as necessidades de matéria-prima são menores, como se verifica atualmente, a Terra Alegre procura minimizar o impacto sobre produtores, trabalhando de forma atempada (aviso prévio) e próxima com cada produtor para encontrar soluções para cada caso concreto”.

Ainda assim, a Terra Alegre garante que a sua conduta “se pauta por uma relação responsável e respeitadora com os produtores com quem trabalha, num espírito de verdadeira parceria”.

Contudo, para a APROLEP, esta situação é “preocupante”, e “será grave para todo o setor se não surgirem indústrias ou cooperativas com capacidade para comprar e valorizar esse leite de forma estável e com um preço sustentável, capaz de cobrir os custos de produção”. A associação confessa que é difícil escoar e valorizar o leite português quando o nosso país continua a ser deficitário no setor dos lacticínios, sobretudo devido à importação em grande escala de queijos e iogurtes.